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Premier do Líbano diz que hospitais do país não conseguem mais receber feridos

Em discurso na sessão de emergência do Conselho de Segurança da ONU, Najib Mikati, insistiu que haja pressão por cessar-fogo

O primeiro-ministro libanês Najib Mikati participa de uma reunião do Conselho de Segurança da ONU na sede da ONU em Nova York em 25 de setembro de 2024 (Leonardo Munhoz/AFP)

O primeiro-ministro libanês Najib Mikati participa de uma reunião do Conselho de Segurança da ONU na sede da ONU em Nova York em 25 de setembro de 2024 (Leonardo Munhoz/AFP)

Agência o Globo
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Publicado em 26 de setembro de 2024 às 10h58.

Última atualização em 26 de setembro de 2024 às 11h31.

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O primeiro-ministro do Líbano, Najib Mikati, afirmou que os hospitais libaneses estão “repletos de civis feridos”, incluindo mulheres e crianças, e que as unidades não conseguem mais receber outros pacientes. A declaração foi feita na quarta-feira, durante seu discurso na sessão de emergência do Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre a recente escalada entre as forças israelenses e o grupo xiita Hezbollah. Na ocasião, o premier também disse que a soberania de seu país tem sido violada e pediu que a comunidade internacional pressione Israel por um cessar-fogo em todas as frentes.

"Os ataques a dispositivos eletrônicos e a ameaça de invasão terrestre espalharam terror e medo entre os cidadãos libaneses. Espero voltar ao meu país com uma posição explícita [do Conselho de Segurança da ONU], exigindo a cessação dessa agressão e o respeito à soberania e à segurança do meu país", disse Mikati aos membros do órgão.

À CNBC Árabe, a responsável pelo departamento de emergência do Ministério da Saúde Pública do Líbano, Wahida Ghalayini, disse na quarta-feira que 118 hospitais foram preparados para receber os feridos, e salas de emergência foram criadas para funcionar 24 horas por dia. Quase 3.100 enfermeiros e médicos foram treinados, e o plano de emergência foi unificado em todo o país. Ela afirmou que as unidades de saúde têm suprimentos suficientes para atender nesse ritmo por quatro ou cinco meses, e que o país tem recebido apoio externo de organizações não governamentais.

A imprensa local descreve o cenário como um misto de gritos e sons de explosões, correrias e superlotação em todos os hospitais. A emissora Cairo News publicou que os médicos, que têm trabalhado sob intensa pressão, estão “lutando para aliviar o sofrimento dos cidadãos”. A crise no sistema de saúde começou a ser sentida na semana passada, após duas ondas de ataques coordenados que detonaram milhares de pagers e walkie-talkies usados pelo Hezbollah, matando 37 pessoas e deixando mais de 3 mil feridos. Embora integrantes da organização libanesa tenham sido afetados, membros de suas famílias também foram vitimados, assim como transeuntes inocentes.

Segundo o Ministério da Saúde, embora a pasta tenha implementado um plano de emergência para lidar com situações críticas, o impacto das explosões foi “enorme e sem aviso prévio”. Em apenas meia hora, segundo o órgão, os hospitais da região receberam cerca de 2,7 mil feridos, e cirurgiões precisaram operar por quase 24 horas seguidas. Ao jornal libanês An-Nahar, o ministro da Saúde do Líbano, Firass Abiad, declarou que uma situação emergencial e repentina dessa magnitude causaria confusão “em qualquer sistema de saúde do mundo”. À SBS Arabic, Abiad chamou as ofensivas do Estado judeu de “chacina” e disse nunca ter visto situações semelhantes em sua carreira.

"As situações que encontrei foram as mais difíceis da minha vida. Comparei o Líbano com Gaza, vi com meus próprios olhos crianças perdendo suas vidas de forma indescritível", disse. "O tipo de ferimentos causados pela explosão dos pagers foi severo, com amputações de pulsos em ambas as mãos e lesões oculares. Eu trabalhei na explosão, mas chorei pela primeira vez ontem (quarta-feira) e não consegui me conter. Trabalhamos sem descanso e fortalecemos nossos espíritos para ajudar o país, mas somos humanos".

Governo iraquiano oferece ajuda

Na noite de quarta-feira, dezenas de feridos libaneses chegaram à cidade de Karbala, no sul do Iraque, em estado crítico que requer cuidados especiais. Eles foram transferidos para os hospitais acompanhados com familiares e representantes da embaixada libanesa em Bagdá, publicou a Agência de Notícias Oficial do Iraque (INA). Ao The New Arab, um responsável da área de saúde iraquiana confirmou que outro grupo, que pode chegar a 200 civis libaneses feridos, chegará ainda nesta quinta-feira ao país. A fonte afirmou que a companhia aérea iraquiana está encarregada do transporte, e que atualmente há cerca de 70 cidadãos do Líbano com ferimentos graves sob cuidados no Iraque.

"O tipo e a gravidade dos ferimentos entre os civis, especialmente crianças e mulheres, confirmam os crimes de guerra que Israel está cometendo no Líbano, assim como fez anteriormente na Faixa de Gaza", disse Ahmed Abdul Karim, do Departamento de Saúde de Karbala, ao The New Arab.

Na quarta-feira, o Ministério da Migração do Iraque acolheu as famílias libanesas deslocadas. O ministério afirmou em comunicado que, “dada a situação difícil enfrentada pelo povo libanês, em solidariedade e apoio do governo e do povo iraquianos, a ministra da Migração, Evan Jabro, orientou o preparo das equipes para receber as famílias libanesas”. A nota acrescentou que o ministério está preparado para “fornecer os itens necessários e oferecer assistência humanitária”. A declaração foi feita após as instruções do governo iraquiano de conceder vistos de entrada gratuitos aos cidadãos libaneses e facilitar seu ingresso no país.

Por que Israel está fazendo ataques?

Israel faz uma onda de ataques ao grupo Hezbollah, do Líbano, desde a semana passada. Primeiro, houve uma série de explosões de pagers e rádios de comunicação usados pelo grupo, que matou dezenas de pessoas e deixou cerca de 3.000 feridos. Em represália, o Hezbollah lançou mísseis contra o norte de Israel.

Em seguida, vieram fotes bombardeios do Israel ao Líbano, em alvos ligados ao Hezbollah, que já dura alguns dias.

O Hezbollah é considerado uma entidade terrorista pelos Estados Unidos, por Israel e outros países. O grupo paramilitar foi formado nos anos 1980, para lutar contra Israel, que ocupava partes do Líbano na época. Mesmo com o fim da guerra entre os países, nos anos 2000, os dois lados seguiram trocando ataques esporádicos.

A partir de outubro de 2023, o Hezbollah fez uma série ataques a Israel como represália pela invasão israelense da Faixa de Gaza, o que fez com que centenas de moradores da região tivessem de deixar suas casas. O governo israelense diz que a operação atual contra o Hezbollah tem como objetivo permitir que os moradores israelenses desalojados voltem para casa.

"Estamos intensificando nossos ataques no Líbano, as ações continuarão até que alcancemos nosso objetivo de retornar os moradores do norte com segurança para suas casas", disse o Ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, em um vídeo nesta segunda.

O primeiro-ministro libanês, Najib Mikati, disse que há um plano de destruição lançado por Israel contra o seu país e apelou à ONU e aos países influentes para "dissuadirem" o governo israelense.

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