Por que a seleção do Irã não cantou o hino? Entenda os protestos envolvendo o país
Com o Irã varrido por protestos liderados por mulheres contra o hijab e o governo teocrático, seleção de futebol não cantou hino na Copa do Mundo
Da Redação
Publicado em 21 de novembro de 2022 às 12h08.
Última atualização em 21 de novembro de 2022 às 12h17.
A seleção de futebol do Irã foi à Copa do Mundo no Catar em meio a uma onda de protestos contra o governo em casa, e o tema se refletiu também nos gramados da competição já nos primeiros instantes de jogo.
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Na estreia da seleção contra a Inglaterra na segunda-feira, 21 ( veja aqui os melhores momentos ), o time do Irã não cantou o hino nacional. O gesto não passou despercebido. A decisão de não cantar o hino, segundo reportou a agência Reuters, ocorre em cenário em que a seleção vinha sofrendo críticas por não ter se manifestado a favor dos protestos anteriormente.
Uso do hijab levou a protestos no Irã
Os protestos no Irã começaram em 16 de setembro de 2022, após a morte da jovem iraniana Mahsa Amini, de 22 anos.
Amini foi presa e terminou morta pela chamada "polícia da moral", uma patrulha especial do governo iraniano que fiscaliza regulamentos islâmicos, incluindo o uso do hijab (um lenço sobre a cabeça) por mulheres, obrigatório no país.
Segundo essa patrulha, o hijab de Amini não estava de acordo com os padrões e mostrava uma pequena parte de seu cabelo, o que chamou de "mau hijab" - o que, ao que tudo indica, havia sido apenas um descuido da jovem e não feito propositalmente.
A morte da jovem gerou revolta generalizada entre mulheres no país e os protestos se espalharam em várias cidades no Irã e no exterior, e continuavam até o início da Copa.
Para além da temática do hijab, os protestos se direcionam contra o governo iraniano, uma teocracia (regida pelas leis islâmicas xiitas mais radicais) comandada pelo líder supremo, aiatolá Ali Khamenei e pelo presidente Ebrahim Raisi, que é eleito nas urnas, mas apoia o regime.
Mais de 180 manifestantes já foram mortos nas manifestações deste ano, além de centenas de vídeos que circulam nas redes sociais de mulheres iranianas saindo às ruas sem o hijab. Os protestos de 2022 já se tornaram os mais mortais desde manifestações em 2019 e 2020, em que 1500 pessoas foram mortas.
A posição da seleção do Irã nos protestos
Várias figuras públicas do país demonstraram apoio aos protestos, mas a seleção de futebol masculino não havia se posicionado. É neste cenário que o time, em sua estreia na Copa, optou por não cantar o hino do país.
A televisão estatal do Irã não mostrou a imagem dos jogadores alinhados e sem cantar no momento do hino, embora a imagem tenha circulado na transmissão internacional.
No Irã, o acesso à internet e aplicativos como WhatsApp e Instagram está restrito como resposta do governo aos protestos e em uma tentativa de desmobilizar a capacidade de organização das manifestações.
A torcida presente no jogo contra a Inglaterra entoou também o canto de "Bisharaf" (desonra), que virou marca das manifestações contra a teocracia iraniana.
Os protestos no Irã não foram o único tema que envolveu a seleção nas vésperas da Copa. Diante da guerra entre Rússia e Ucrânia desde fevereiro, a Ucrânia havia pedido à FIFA, organização que comanda o futebol mundial, que banisse o país da Copa por seu apoio à Rússia na guerra. A FIFA não acatou o pedido e o Irã seguiu classificado para a Copa.
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