Membros da polícia nacional francesa atuam em Paris (Thomas Samson/AFP)
Da Redação
Publicado em 8 de janeiro de 2015 às 14h43.
Paris - Uma perseguição desenfreada era realizada nesta quinta-feira na França para capturar os dois irmãos, um deles um jihadista conhecido, que são os supostos autores do sangrento atentado cometido contra a revista Charlie Hebdo, tendo como pano de fundo o luto nacional e homenagens às vítimas.
Os dois suspeitos do atentado contra a revista foram vistos na manhã desta quinta-feira no norte da França, quando estavam a bordo de um carro Clio cinza portando com armas de guerra, indicaram fontes próximas ao caso.
"A prioridade é perseguir e deter os terroristas que cometeram este atentado. Milhares de policiais, gendarmes e investigadores estão mobilizados", declarou o primeiro-ministro Manuel Valls.
Segundo as autoridades, sete pessoas foram detidas durante a noite e estão sendo interrogadas.
São pessoas próximas aos dois suspeitos, Cherif e Said Kouachi, de 32 e 34 anos. Um jovem de 18 anos, suspeito de cumplicidade, se entregou à polícia durante a noite.
Desde a tarde de quarta-feira, vários locais de culto muçulmanos foram alvo de ataques em diferentes cidades da França, prováveis atos de vingança pelo atentado contra a revista.
A polícia, que prefere não estabelecer qualquer vínculo formal entre os incidentes e o atentado de quarta-feira, busca um homem que feriu gravemente duas pessoas em um subúrbio do sul de Paris. Uma delas, uma policial, morreu pouco depois.
Uma nova reunião governamental de crise foi realizada pela manhã no Palácio do Eliseu, ao redor do Presidente François Hollande.
O atentado contra a Charlie Hebdo, o mais mortífero cometido na França em meio século, levou às ruas mais de 100.000 pessoas, que na tarde de quarta-feira se manifestaram na capital e em outas cidades da França, e provocou indignação em todo o mundo.
Minuto de silêncio
Nesta quinta-feira a França estava de luto nacional e foi feito um minuto de silêncio em todo o país às 11h00 GMT (09h00 de Brasília), a pedido do presidente Hollande.
As bandeiras ondearão a meio mastro durante três dias, e uma grande manifestação está prevista no domingo em Paris, na qual participarão associações e partidos tanto de esquerda quanto de direita.
A polícia divulgou durante a noite a foto dos dois irmãos Kouachi. Os investigadores os identificaram depois de encontrar o documento de identidade de um deles no veículo utilizado para o atentado, que foi abandonado pelos agressores durante sua fuga.
A condição de islamita de seu suposto cúmplice, Hamyd Mourad, de 18 anos, foi colocada em xeque nesta quinta-feira pelos testemunhos de vizinhos e companheiros de turma, que disseram que ele estava na escola em que estuda durante toda a manhã de quarta-feira, e que não tinha nada a ver com os fundamentalistas muçulmanos.
Jihadista conhecido
Cherif Kouachi, por sua vez, é um jihadista conhecido dos serviços de inteligência. Foi condenado em 2008 a três anos de prisão, um e meio condicional, por participação em uma rede de envio de combatentes ao Iraque para a Al-Qaeda.
O ataque contra a Charlie Hebdo deixou doze mortos, entre eles dois policiais, e 11 feridos. A redação da revista foi dizimada, já que entre os mortos figuram vários de seus principais cartunistas.
"Barbárie", "Guerra contra a liberdade", "A liberdade assassinada": os jornais franceses e europeus faziam eco nesta quinta-feira na primeira página sobre o horror provocado pelo atentado.
Nos jornais franceses, fundos pretos e desenhos prestavam homenagem às vítimas. As palavras "Todos somos Charlie" eram utilizadas frequentemente.
Já a equipe da Charlie Hebdo anunciou que a revista voltará a circular na próxima semana.
"É uma situação muito difícil, estamos todos com nossa pena, nossa dor, nossos medos, mas vamos fazer de qualquer jeito, porque a estupidez não vai vencer", declarou um de seus colaboradores, Patrick Pelloux.
"Charb (diretor da publicação, morto na quarta-feira no atentado) sempre dizia que a revista tem que sair, custe o que custar", acrescentou.
Entre as doze vítimas do ataque figuram cinco cartunistas da Charlie Hebdo: Charb, Wolinski, Cabu, Tignous e Honoré, assim como o economista Bernard Maris.
Unidade nacional
"A unidade nacional é a única resposta possível", reiterou Manuel Valls, convocando os franceses a não ter medo diante de uma "ameaça terrorista sem precedentes".
Em uma atmosfera de união em todo o país, François Hollande recebeu nesta quinta-feira no Eliseu seu antecessor e ex-rival Nicolás Sarkozy, chefe do partido opositor de direita UMP.
O presidente também receberá na sexta-feira a líder da ultradireitista Frente Nacional, Marine Le Pen, e outros líderes políticos.
Os líderes de diferentes religiões denunciaram o atentado.
Representantes da comunidade muçulmana da França pediram nesta quinta-feira aos imãs de todas as mesquitas do país que "condenem duramente a violência e o terrorismo" durante a oração de sexta-feira.
Já o papa Francisco rezou nesta quinta-feira em sua missa matinal pelas vítimas do atentado.
"O atentado de ontem em Paris nos faz pensar em toda essa crueldade, essa crueldade humana; nesse terrorismo, seja um terrorismo isolado ou o terrorismo de Estado. A crueldade da qual o homem é capaz", declarou na missa diária que celebra na residência de Santa Marta, e que dedicou às vítimas.
"Rezemos agora pelas vítimas desta crueldade. Tantas vítimas! E rezemos também pelas pessoas cruéis, para que o Senhor converta seus corações", acrescentou.
O atentado provocou uma onda de reprovação unânime no exterior e manifestações ocorreram na Alemanha, Espanha e Grã-Bretanha, entre outros países.
O atentado ocorreu às 11h30 (08h30 de Brasília) quando os homens, encapuzados e com uma atitude decidida que parecia indicar treinamento militar, entraram no edifício sede da Charlie Hebdo a tiros. Depois, ao sair, seguiram disparando contra os policiais que chegaram ao local do incidente, matando um deles a sangue frio.
Segundo testemunhas citadas pela polícia e imagens gravadas por cinegrafistas amadores, os agressores gritaram "Vingamos o profeta Maomé! e "Matamos Charlie Hebdo", antes de fugir.