A chanceler alemã, Angela Merkel: Merkel lembrou que foram necessários apenas seis meses para Hitler "aniquilar toda a diversidade da sociedade alemã". (Adam Berry/AFP)
Da Redação
Publicado em 30 de janeiro de 2013 às 14h44.
Berlim - A chegada de Adolf Hitler ao poder, há 80 anos, constitui uma "advertência permanente" aos alemães, e lembra que a democracia e a liberdade não se impõem por si mesmas, afirmou nesta quarta-feira a chanceler alemã, Angela Merkel.
"Há exatamente 80 anos e quase na mesma hora, o presidente Paul von Hindenburg nomeava Adolf Hitler como chanceler do Reich", lembrou Merkel, com um tom solene, em um discurso pronunciado para lembrar a data da chegada do ditador nazista à chancelaria, no dia 30 de janeiro de 1933.
Merkel falou em um local altamente simbólico, outrora sede da Gestapo, a polícia secreta nazista, convertido agora em um espaço de exposição ao ar livre.
"Isto deve ser uma advertência permanente para nós, alemães", insistiu Merkel, que lembrou que na época ninguém pensava que este pintor austríaco fracassado, autor de um livro de ideias simplistas, fosse permanecer durante anos no poder.
"Os direitos humanos não se impõem por si mesmos. A liberdade não é algo natural e a democracia não é evidente", disse Merkel ao inaugurar em Berlim uma exposição dedicada aos seis primeiros meses do governo de Hitler.
"Uma sociedade viva e humana requer homens que manifestem respeito e atenção pelos demais, que assumam a responsabilidade por si e pelos demais", declarou Merkel.
Em seu discurso, pronunciado a algumas centenas de metros do Memorial do Holocausto, a chanceler reafirmou a responsabilidade permanente da Alemanha pela ruptura de civilização que a Shoah representa.
Merkel lembrou que foram necessários apenas seis meses para Hitler "aniquilar toda a diversidade da sociedade alemã" e destacou que grande parte da sociedade alemã apoiou ou ao menos tolerou o regime hitlerista.
"A ascensão do nacional-socialismo foi possível porque as elites e amplos setores da sociedade alemã participaram ou ao menos toleraram", salientou a chanceler.
Como exemplo, Merkel citou a participação de estudantes e professores no episódio da queima de livros de 10 de maio de 1933.
Naquele dia, milhares de exemplares de grandes intelectuais alemães ou que falavam alemão, como Karl Marx, Sigmund Freud, Thomas e Heinrich Mann, foram jogados na fogueira.
"Aconteceu e pode acontecer de novo", disse o diretor de centro de documentação ao ar livre Topografia do Terror, Andreas Nachama, citando Primo Levi, um escritor italiano sobrevivente dos campos de concentração.
"Nós nos levantamos contra isso. Cada um em seu lugar. Na escola, na universidade, no local de trabalho. Todos devemos fazer o necessário para que isso não ocorra nunca mais", acrescentou.
Os deputados do Bundestag celebraram, por sua vez, a libertação do campo de Auschwitz, no dia 27 de janeiro de 1945, pelo Exército Vermelho.
A escritora israelense e alemã Inge Deutschkron, sobrevivente da Shoah, testemunhou mais uma vez sobre o regime nazista.
"Quase todos os dias havia novas leis, diretivas e proibições para os judeus", relatou a escritora de 90 anos, que ficou escondida durante toda a guerra.
O presidente da Alemanha, Joachim Gauck, deve homenagear mais tarde a organização de resistência "A Rosa Branca" dos estudantes de Muich (sul), detidos e executados pela Gestapo em 1943.
O 80º aniversário da chegada de Hitler à chancelaria é alvo de grande interesse, ao mesmo tempo em que o "Führer" continua sendo uma figura onipresente na Alemanha.
Pela primeira vez desde 1945, a Alemanha encara a possibilidade de reeditar em dois anos "Mein Kampf", o panfleto ideológico escrito por Adolf Hitler em 1924.