Ucrânia: Volodymyr Zelensky comenta negociações de paz mediadas pelos Estados Unidos. (Toby Melville/AFP)
Repórter
Publicado em 12 de dezembro de 2025 às 09h55.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou nesta quinta-feira que o plano de paz com a Rússia, mediado pelos Estados Unidos, ainda enfrenta dois impasses centrais: o futuro da região de Donetsk e o controle da usina nuclear de Zaporíjia. A declaração foi feita em Kiev, um dia após autoridades ucranianas enviarem a Washington uma versão revisada da proposta em negociação.
“Temos dois pontos de discórdia principais: o território de Donetsk e tudo o que está relacionado a ele, e a usina nuclear de Zaporíjia”, disse Zelensky a jornalistas. Segundo ele, qualquer eventual cessão territorial só poderá ocorrer mediante decisão popular, por meio de eleições ou de um referendo.
A mediação americana enfrenta dificuldades especialmente na questão territorial. Um dos pontos mais sensíveis do plano envolve a possibilidade de concessão à Rússia de áreas que ainda não foram totalmente ocupadas militarmente por Moscou, o que Kiev considera incompatível com a Constituição ucraniana.
Zelensky revelou que um dos trechos do texto discutido com os Estados Unidos prevê a retirada das forças ucranianas de Donetsk para a criação de uma “zona econômica livre” e desmilitarizada. Segundo o presidente, a proposta sugere que tropas russas não entrariam nesse território após a saída do Exército ucraniano.
O líder ucraniano, no entanto, questionou a ausência de garantias claras sobre a governança da área e a segurança futura da região. Para ele, o risco de ocupação indireta por forças russas permanece elevado. “O que impedirá essas tropas de se disfarçarem de civis e tomarem posse desta zona?”, afirmou, acrescentando que um acordo só será aceitável se for considerado justo.
Outro ponto de atrito é a usina nuclear de Zaporíjia, a maior da Europa, que permanece sob controle russo. Kiev considera estratégica qualquer definição sobre o futuro da instalação, tanto do ponto de vista energético quanto de segurança regional.
Do lado americano, a Casa Branca admitiu publicamente insatisfação com o ritmo das negociações. A porta-voz Karoline Leavitt afirmou que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está “extremamente frustrado” com ambos os lados do conflito.
“Ele já não quer mais diálogos. Quer ação. Quer que esta guerra chegue ao fim”, declarou Leavitt. Apesar disso, Kiev informou que não divulgará os detalhes das alterações feitas no plano até receber um posicionamento oficial de Washington.
Zelensky reiterou que não tem mandato para decidir sozinho sobre a perda de territórios e que qualquer mudança desse tipo precisa do aval direto da população ucraniana. “Não tenho o direito constitucional de ceder terras da Ucrânia”, afirmou.
As negociações seguem em curso sob mediação dos Estados Unidos, mas os pontos levantados por Kiev indicam que um acordo ainda depende de concessões complexas e de garantias de segurança consideradas suficientes pelo governo ucraniano.
*Com informações do O Globo