Papa acena para milhares de pessoas em Havana, em Cuba (EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 20 de setembro de 2015 às 12h47.
Havana - O papa destacou a importância de colocar as pessoas à frente da ideologia durante a grande missa neste domingo na Praça da Revolução de Havana, assistida pelo presidente de Cuba, Raúl Castro, e onde o cardel Jaime Ortega fez um apelo à reconciliação cubano-americana.
O pontífice argentino convidou o povo cubano a defender os membros mais frágeis da sociedade e disse para os milhares de cubanos que assistiram a cerimônia que o importante é servir "às pessoas e não às ideias".
Francisco, terceiro papa que celebra uma missa na praça, após João Paulo II e Bento XVI, lançou uma mensagem que foi além dos propósitos pastorais e que apelou para pôr a proteção dos mais necessitados à frente de qualquer ideologia.
"O serviço nunca é ideológico, já que não serve às ideias, mas às pessoas", continuou o papa argentino diante de Raúl e perto de um grande ícone: a imagem do líder revolucionário Ernesto Che Guevara sobre a fachada do edifício do Ministério do Interior.
A referência se destacou precisamente por ser este o lugar em que se concentram os símbolos que são os pilares ideológicos básicos do regime cubano: ao pé do monumento ao líder independentista José Martí, que o governo frequentemente utiliza como vitrine de seu apoio entre as massas.
O pontífice, que percorreu o centro de Havana em um papamóvel conversível para saudar de perto as milhares de pessoas que o esperavam desde o amanhecer, disse em sua homilia que o povo cubano tem "vocação de grandeza" e que deve cuidar dela, mas especialmente trabalhando para os mais frágeis.
"A importância de um povo, de uma nação, a importância de uma pessoa sempre se baseia em como serve à fragilidade de seus irmãos", continuou o papa, que lembrou os cristãos que "todos estamos convidados a cuidar uns dos outros por amor".
O papa defendeu o conceito do "serviço" aos demais, mas alertou para a tentação de "querer beneficiar os 'meus' em nome do 'nosso' porque isso pode gerar uma dinâmica de exclusão".
Francisco lembrou que "o santo povo fiel a Deus que caminha em Cuba é um povo que tem gosto pela festa, pela amizade, pelas coisas belas, e também tem feridas, mas sabe estar de braços abertos".
"Hoje os convido a cuidarem dessa vocação, a cuidarem destes dons que Deus os presenteou, mas especialmente quero convidá-los a cuidarem e servirem, de modo especial, à fragilidade de seus irmãos".
"Não descuidem deles por projetos que podem parecer sedutores, mas que os afastam do rosto de quem está ao seu lado", advertiu o papa.
"Servir significa, em grande parte, cuidar da fragilidade. Cuidar dos frágeis de nossas famílias, de nossa sociedade, de nosso povo", disse o papa.
No primeiro evento grande do sumo pontífice em sua viagem a Cuba - aonde chegou ontem e onde permanecerá até a próxima terça- feira - ele voltou a fazer referências ao processo de aproximação com os Estados Unidos, que teve a mediação do Vaticano.
Depois de Francisco encorajar Cuba e Estados Unidos a progredirem na aproximação logo em sua chegada ao aeroporto de Havana no sábado, hoje foi o cardeal Jaime Ortega que, ao concluir a missa, agradeceu ao papa "por ter favorecido o processo de renovação das relações entre Cuba e Estados Unidos, que tanto beneficiará ao nosso povo".
Ortega apelou ao "amor e ao perdão entre todos nós como meio válido para uma verdadeira renovação de nossa nação cubana" e pediu que o "chamado a paz" do papa chegue aos povos cubano e americano e "muito especialmente ao nosso povo cubano que vive aqui e nos Estados Unidos".