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Pernas e braços novos contra barbárie das minas

Guerra de três décadas no Afeganistão deixou no país minas e bombas que todos os anos provocam amputações de centenas de pessoas


	Paciente testa uma prótese de um braço: vítimas recorrem às próteses para tentar recuperar a normalidade em suas vidas
 (Bassam Khabieh/Reuters)

Paciente testa uma prótese de um braço: vítimas recorrem às próteses para tentar recuperar a normalidade em suas vidas (Bassam Khabieh/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 27 de janeiro de 2014 às 08h27.

Cabul - A guerra de três décadas no Afeganistão deixou no país minas e bombas que todos os anos provocam as amputações de centenas de pessoas, que recorrem às próteses para tentar recuperar a normalidade em suas vidas.

O principal fornecedor de próteses no Afeganistão é o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), que graças aos sete centros ortopédicos que possui no país - o primeiro, aberto em Cabul em 1988 - já ajudou 120 mil pessoas.

A princípio, o CICV só aceitava vítimas da guerra, mas em 1994 abriu suas portas para todos que tiverem sido amputados.

O diretor do centro da capital afegã, Najmuddin, explicou à Agência Efe que a cada ano são fabricados 15 mil braços e pernas ortopédicos e 1.200 cadeiras de rodas, distribuídos depois ao resto das instituições do CICV no Afeganistão.

Segundo ele, 95% dos trabalhadores do centro, 700 funcionários, são antigos pacientes que se ocupam tanto da linha de produção quanto do tratamento das pessoas e do processo de reabilitação.

Entre eles está o médico Farid Ahmad, que perdeu uma perna e contou que os pacientes se sentem mais confortáveis quando são tratados por trabalhadores que têm os próprios problemas, "pois os compreendem e se mostram mais tolerantes".

Ahmad esclareceu que a Cruz Vermelha não apenas se ocupa do tratamento das vítimas, mas também de ensinar um ofício que se adapte às necessidades do mercado de trabalho para que possam refazer suas vidas.


"Neste momento há 8 mil pessoas registradas em nossos centros, e ensinamos diferentes ofícios, como alfaiataria e carpintaria", explicou o médico, que esclareceu que também há apoio econômico para que possam abrir seu negócio.

Uma das antigas pacientes que decidiu trabalhar no centro em que recebeu ajuda foi Munira Habid, de 34 anos.

"Sei quanto dói ver outros caminhando enquanto você só pode ficar sentada observando, portanto decidi começar a trabalhar aqui para ajudar minha gente", contou Habid, cercada de seu material de trabalho, que inclui alicates, chaves de fenda e martelos.

Ela trabalha há 17 anos no centro de Cabul fabricando braços e pernas ortopédicos semelhantes aos que se usa depois de pisar uma mina.

As minas terrestres e as bombas não detonadas são as principais causas de amputações entre os pacientes que vão aos hospitais do CICV.

A ocupação soviética nos anos 80, a posterior guerra civil até a ascensão dos talibãs em 1996 e a ocupação das tropas dos Estados Unidos e da Otan desde 2001 deixaram centenas de milhares de artefatos explosivos espalhados por todo o Afeganistão.

Segundo o Centro de Coordenação de Ação contra as Minas do Afeganistão (Macca), durante esse período as minas e as bombas deixaram 4.165 mortos e 17.554 feridos, enquanto em 2005 o governo afegão elevou para 100 mil o número de vítimas, sem dar mais detalhes.

O Macca também contabilizou entre 2007 e 2011 73.668 minas que haviam sido localizadas e desativadas em solo afegão, embora dados de 2013 tenham revelado que ainda existem 4.876 campos minados, que abrangem um território de 545 quilômetros quadrados.

"Entrei em um campo minado quando, de repente, uma delas explodiu e me deixou gravemente ferido. Quando acordei no hospital não sabia que tinha perdido minhas pernas", afirmou Momen, de 35 anos, usuário do departamento de reabilitação do centro de Cabul.

Há duas semanas Momen faz sessões de fisioterapia para aprender a caminhar com suas novas pernas. "Estou me exercitando com pernas artificiais e tenho a sensação de que voltarei a andar sem nenhum problema", disse.

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