Manifestantes rasgam foto do presidente do Vietnã, Truong Tan Sang, durante protesto em frente ao consulado vietnamita em Hong Kong (REUTERS/Bobby Yip)
Da Redação
Publicado em 18 de maio de 2014 às 09h40.
Pequim retirou mais de 3.000 chineses do Vietnã e suspendeu vários programas bilaterais após as manifestações violentas contra a China no país vizinho, que as autoridades vietnamitas tentam conter para manter a confiança dos investidores estrangeiros, indispensáveis para Hanói.
Centenas de homens uniformizados e com roupas civis impediam o acesso à embaixada da China em Hanói e em outros locais que poderiam virar alvos dos manifestantes, que convocaram para este domingo um novo dia de protestos após uma semana de distúrbios.
Grupos de manifestantes denunciaram na internet a detenção de várias pessoas.
A crise entre Pequim e Hanói explodiu depois da instalação de uma plataforma de petróleo no início de maio no Mar da China Meridional, perto das ilhas Paracelso, reivindicadas pelos dois países comunistas.
As autoridades chinesas anunciaram neste domingo em um comunicado a suspensão de vários programas bilaterais com o Vietnã, já que os distúrbios "prejudicam o ambiente e as condições para os intercâmbios e a cooperação entre China e Vietnã".
Ao mesmo tempo, Pequim retirou mais de 3.000 cidadãos chineses, incluindo 16 pessoas "gravemente feridas", segundo a agência oficial chinesa Xinhua.
As manifestações contra a China, as mais violentas no Vietnã em várias décadas, podem abalar a confiança dos investidores estrangeiros no país, o que forçou o governo a tentar acabar com os protestos.
O primeiro-ministro vietnamita, Nguyen Tan Dung, advertiu no sábado que faria o necessário para impedir as "manifestações ilegais que poderiam alterar a ordem e a segurança pública".
"Pedimos aos países que continuem garantindo a atividade econômica no Vietnã de seus investidores e cidadãos", afirmou Dang Minh Khoi, assistente do ministro das Relações Exteriores, que destacou que os "lamentáveis" atos dos últimos dias "não se repetirão".
Pequim acusa Hanói de "conivência" com os manifestantes, que incendiaram várias fábricas chinesas, taiwanesas e sul-coreanas.
Analistas consideram que as autoridades vietnamitas foram surpreendidas pela intensidade da revolta popular contra Pequim, que poderia ocultar um descontentamento latente contra as empresas estrangeiras, que contratam cidadãos de seus países e não trabalhadores locais.
Dois chineses morreram, 140 ficaram feridos e 300 pessoas foram detidas nos distúrbios, segundo um balanço oficial.
Pequim e Hanói reivindicam a soberania das ilhas Paracelso, situadas entre o norte do Vietnã e o norte das Filipinas, que a China administra desde 1974, data de uma batalha naval entre os dois países que terminou com 50 vietnamitas mortos.
As ilhas Paracelso ficam em uma via marítima movimentada. Suas águas são ricas em peixes e, possivelmente, combustíveis.
O atual conflito aprofunda a animosidade histórica entre os países comunistas.
Em 1979, Pequim realizou uma ofensiva contra Hanói depois que o exército vietnamita derrubou o regime do Khmer Vermelho no Camboja, aliado da China. Em 1988, os dois países travaram outra batalha pela soberania das ilhas Spratlys.
A China reivindica quase a totalidade do Mar da China Meridional, onde também enfrenta os interesses das Filipinas, Taiwan, Brunei e Malásia.