Mundo

Pedido de acusação contra Cristina abala governo argentino

O falecido promotor Alberto Nisman apontou Cristina como principal responsável de um plano para acobertar os iranianos suspeitos de serem os autores do ataque


	Kirchner: promotor Gerardo Pollicita solicitou a juiz que acuse Cristina, Héctor Timerman e outros dirigentes
 (Juan Mabromata/AFP)

Kirchner: promotor Gerardo Pollicita solicitou a juiz que acuse Cristina, Héctor Timerman e outros dirigentes (Juan Mabromata/AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 13 de fevereiro de 2015 às 18h58.

Buenos Aires - O promotor Gerardo Pollicita solicitou nesta sexta-feira a acusação da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, e de outros políticos a partir da denúncia do promotor Alberto Nisman - morto em circunstâncias ainda não esclarecidas -, uma decisão que foi aplaudida pela oposição e sobre a qual o governo não se pronunciou até agora.

Pollicita solicitou ao juiz Daniel Rafecas, que analisa o caso, que acuse Cristina, o chanceler Héctor Timerman e outros dirigentes governistas por acobertamento e descumprimento dos deveres.

Nisman, promotor especial da ação que investiga o atentado contra a associação judaica Amia, que deixou 85 mortos em 1994, apontou Cristina como principal responsável de um plano para acobertar os iranianos suspeitos de serem os autores do ataque.

Após a apresentação de Pollicita, Rafecas cancelou suas férias e reassumirá suas funções na próxima quarta-feira, 18, quatro dias antes do previsto, divulgou hoje o Centro de Informação Judicial (CIJ).

Pollicita acusa a presidente e seus colaboradores de "acobertamento por favorecimento pessoal agravado", segundo a denuncia apresentada hoje no site da promotoria argentina.

O promotor também considerou que as ações do governo "poderiam ter um enquadramento típico de obstrução de justiça e descumprimento dos deveres de funcionário público".

O pedido de acusação também alcança o deputado kirchnerista Andrés Larroque, o militante governista Luis D"Elia, o dirigente islâmico Jorge "Yussuf" Khalil, o militante Fernando Esteche, o expromotor Héctor Luis Yrimia e um suposto espião identificado como Héctor Bogado.

Na denúncia de Nisman, o memorando de entendimento assinado com o Irã em 2013 aparece como o principal instrumento do que seria acordo para eliminar as circulares vermelhas emitidas pela Interpol contra os suspeitos iranianos em troca de facilitar a compra, pela Argentina, de petróleo do Irã.

Segundo a solicitação, "para levar a um bom termo o acordo com o Irã e conseguir a impunidade dos acusados, fizeram crer que se buscaria o consenso de todo o arco político para avançar em um pacto, mas ignoraram as múltiplas e estendidas opiniões contrárias" a esse acordo.

Desde que Nisman tornou pública sua denúncia, o governo argentino argumentou que os supostos benefícios derivados do suposto acobertamento nunca se concretizaram.

Além disso, hoje foram apresentados à Justiça documentos "juridicamente relevantes" para rebater a denúncia apresentada por Nisman, como documentação relacionada com as ordens de captura internacional de Interpol emitidas contra os suspeitos iranianos, solicitações de trâmites de extradição e informação da Secretaria de Inteligência, entre outros.

Antes do pedido de acusação, o chefe de Gabinete de Cristina Kirchner, Jorge Capitanich, disse considerar que esta seria uma estratégia de "golpismo judicial ativo" para desestabilizar o governo.

O promotor destacou em sua sentença que "cabe dar início a uma investigação" que permita elucidar se, efetivamente, os delitos denunciados ocorreram e "é indiferente que alcance ou não o fim procurado por quem deu a ajuda".

A oposição argentina comemorou a abertura de uma investigação contra a presidente.

"Estamos nos primeiros passos, mas o fato de Pollicita ter decidido abrir o procedimento judicial é porque analisou que a ação tinha elementos suficientes para ser iniciada", disse à Agência Efe a deputada Patricia Bullrich, do partido Proposta Republicana (Pro).

"Acreditamos que o memorando com o Irã foi a ponta de um iceberg de negociações secretas e obscuras", acrescentou.

Para o deputado radical Julio Cobos, a notícia "confirma a grave situação institucional" que a Argentina atravessa, por ter "a presidente da Nação acusada e o vice-presidente (Amado Boudou) processado".

A Procuradoria Geral anunciou hoje o grupo de promotores que substituirá Nisman à frente da unidade de investigação especial para a investigação do atentado contra a Amia. São eles Sabrina Namer, Roberto Salum e Patrício Sabadini.

Acompanhe tudo sobre:América LatinaArgentinaCristina KirchnerPolíticos

Mais de Mundo

Governo de Bangladesh restaura internet após protestos

Israel promete ‘revanche’ contra Hezbollah após foguete matar 12 em campo de futebol

'Farei com que se respeite o resultado eleitoral', diz Maduro após votar em Caracas

Maduro pede desculpas por impedir entrada de ex-mandatários que observariam eleições

Mais na Exame