Yoshihide Suga: o ministro conquistou o apoio dos líderes das principais facções do PLD e desponta como o principal nome para chefiar o governo (Agência France-Presse/AFP)
O Partido Liberal Democrata (PLD), no poder no Japão, inicia oficialmente nesta terça-feira (8) o processo de escolha de seu novo presidente, em substituição ao primeiro-ministro Shinzo Abe, que anunciou a decisão de deixar a chefia de governo por motivo de saúde. O novo líder do PLD vai ser definido em eleição interna prevista para a próxima segunda-feira (14). O escolhido será virtualmente o novo primeiro-ministro, uma vez que o PLD controla ambas as casas do Parlamento japonês – a votação para a escolha do novo premiê, prevista para acontecer no dia 16, será mera formalidade.
O PLD, conservador, governa o Japão quase ininterruptamente desde sua fundação, em 1955. Só ficou fora do poder por um breve período, entre 1993 e 1994, e novamente entre 2009 e 2012. Dessa última vez, voltou ao governo sob a liderança de Abe, que se tornou o primeiro-ministro há mais tempo no cargo no país dias antes de comunicar sua decisão de se afastar do governo, no dia 28 de agosto, por sofrer de uma doença intestinal crônica. O favorito para cumprir o restante de seu mandato, até setembro de 2021, é o ministro Yoshihide Suga, atual secretário-geral do Gabinete e braço-direito de Abe.
Suga, 71 anos, atua como articulador das ações dos ministérios e das agências e como porta-voz do governo. De perfil discreto, trabalha nos bastidores e há muito tempo é apontado como um possível sucessor de Abe, embora seja mais velho do que o atual primeiro-ministro, que tem 65 anos. Suga despontou nos últimos dias como o provável próximo premiê do Japão depois de garantir o apoio dos chefes das principais facções do PLD.
Sob a justificativa de que precisa escolher seu novo líder com urgência para evitar um vácuo no poder, o PLD decidiu fazer a eleição por meio de um processo simplificado, em que votarão somente 535 pessoas – os 394 parlamentares filiados ao partido e 141 delegados dos partidos nas províncias. A votação apenas entre os principais representantes do partido vai beneficiar Suga.
Em circunstâncias normais, a eleição pela liderança do PLD teria a participação de cerca de 1 milhão de filiados em todo o país. Com uma votação mais ampla, o favorito seria o ex-ministro da Defesa Shigeru Ishiba, 63 anos, um crítico de Abe. Em pesquisa divulgada no último domingo pela agência de notícias Kyodo, Ishiba apareceu como o preferido dos japoneses para se tornar o próximo primeiro-ministro, com 34% das indicações, ante 14% para Suga. Ishiba, porém, não tem muito apoio de seus colegas do partido. Em 2012, ele tentou se eleger líder do PLD, mas foi derrotado por Abe.
Correndo por fora, outro postulante à presidência do PLD é Fumio Kishida, ex-ministro das Relações Exteriores. Sua experiência como chanceler o colocaria como nome ideal para tentar dar ao Japão, a terceira maior economia do mundo, um papel compatível na diplomacia, mas as chances de Kishida de vencer a eleição interna do PLD são pequenas.
Suga, o favorito dos caciques partidários, é visto como alguém que daria continuidade às políticas do atual primeiro-ministro. Nascido em uma família humilde de produtores de morango na província de Akita, Suga é bacharel em direito e se tornou conhecido no Japão por fazer discursos de campanha em frente a estações de trem movimentadas, uma prática que depois se tornaria comum entre candidatos políticos japoneses. É membro do Parlamento desde 1996.
Ao anunciar sua candidatura à presidência do PLD, Suga elogiou enfaticamente a gestão de Abe e as medidas de seu programa econômico, o “Abenomics”, que ele pretende dar continuidade. Ressaltou a necessidade de impulsionar o crescimento econômico em vez de endurecer as restrições para conter a pandemia do coronavírus, e sugeriu ser favorável a medidas para reativar o turismo no país. O governo japonês informou hoje que a sua economia encolheu 28,1% no segundo trimestre deste ano em comparação com o mesmo período de 2019.
O Japão esperava receber neste ano 40 milhões de visitantes estrangeiros com a Olimpíada de Tóquio, mas o adiamento do evento esportivo para 2021 frustrou os planos. Com as restrições adotadas por causa da covid-19, o país recebeu em julho, o mês em que deveria estar recebendo milhões de visitantes para os Jogos Olímpicos, apenas 3.800 turistas estrangeiros.