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Para os cristãos palestinos, Trump é o pesadelo de Natal

Nos bons anos, a cidade de Belém se enchia de fiéis e turistas, mas desta vez há poucos visitantes estrangeiros caminhando pelas ruas

Trump: desde o anúncio de Trump, dezenas de grupos cancelaram suas viagens (Omar Sobhani/Reuters)

Trump: desde o anúncio de Trump, dezenas de grupos cancelaram suas viagens (Omar Sobhani/Reuters)

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AFP

Publicado em 23 de dezembro de 2017 às 13h57.

O vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, pode ter adiado sua visita ao Oriente Médio, mas para os cristãos palestinos de Belém a administração de Donald Trump já estragou o Natal.

A cidade onde Jesus nasceu, de acordo com o Novo Testamento, se prepara para as festas de domingo (24) e segunda-feira (25), quando são esperados muitos fiéis na Praça do Presépio para tirar fotos com a árvore de Natal e participar da missa da meia-noite na histórica igreja da Natividade.

Nos bons anos, a cidade se enchia de fiéis e turistas, mas desta vez há poucos visitantes estrangeiros caminhando pelas ruas, cheias de vendedores com gorros de Papai Noel.

O número de peregrinos em Israel e nos Territórios Palestinos havia aumentado acentuadamente em 2017, até que em 6 de dezembro o presidente Donald Trump anunciou a decisão dos Estados Unidos de reconhecer Jerusalém como a capital de Israel.

Desde então, dezenas de grupos cancelaram suas viagens, de acordo com o arcebispo Pierbattista Pizzaballa, um dos mais altos dignitários católicos romanos no Oriente Médio.

Trump "matou a alegria"

O anúncio de Trump "criou tensões em torno de Jerusalém e desviou a atenção do Natal", lamentou Pizzaballa.

O vice-presidente americano planejava visitar esta semana Jerusalém e a igreja da Natividade em Belém, mas modificou seu programa e cancelou sua visita aos Territórios Palestinos.

Seu giro pelo Oriente Médio foi finalmente adiado, oficialmente por razões internas dos Estados Unidos.

Mas, de acordo com Jane Zalfou, cristã de Belém de 37 anos, o dano já foi causado: Trump "matou a alegria" do Natal.

"O que aconteceu não é algo insignificante. Faz muito tempo que os palestinos esperam o reconhecimento de seus direitos", declarou.

Cerca de 50.000 cristãos vivem na Cisjordânia e em Jerusalém, 2% de uma população majoritariamente muçulmana. Muitos deles vivem em Belém e seus arredores.

Influência evangélica

Uma parte importante desses cristãos compartilha com os muçulmanos uma visão nacional de Jerusalém.

Os cristãos palestinos vivem com amargura a ironia de ver como outros cristãos, os evangélicos americanos, dos quais Pence faz parte, exercem uma grande influência na decisão de Trump e apoiam tão fervorosamente Israel.

Laurie Cardoza-Moore, um influente evangélico, explica à AFP que os evangélicos querem que os judeus reconstruam seu templo em Jerusalém, o que supostamente facilitaria o retorno de Cristo.

Os cristãos americanos que apoiam Israel ignoram totalmente a ocupação dos Territórios Palestinos, segundo Mitri Raheb, pastor de uma igreja luterana em Belém.

Apesar de ser uma cidade sagrada, Belém é palco frequente do conflito entre israelenses e palestinos. O muro de separação construído por Israel é visível em quase toda a cidade.

"Infelizmente, Trump e aqueles que estão com ele sujeitam os cristãos da Palestina à sua agenda política", diz Mitri Raheb.

"É como se apunhalassem pelas costas os palestinos em geral e os cristãos palestinos em particular", acrescenta.

"Quem deu esse direito a Trump? É claro que não fomos nós!", indigna-se Georgette Qassis, uma mulher de 65 anos, vestindo um xale azul com o nome de Jesus.

"Que vá para o inferno!", conclui.

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