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Palestinos não queriam que viagem tratasse de Jerusalém, diz embaixador

A decisão de Bolsonaro de passar três dias apenas em Israel, sem considerar uma visita aos territórios da Palestina, não foi bem vista pela comunidade

Bolsonaro e Netanyahu: mesmo sem transferência da embaixada brasileira em Israel, comunidade árabe protesta contra o presidente da República (Ronen Zvulun/Reuters)
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Reuters

Publicado em 1 de abril de 2019 às 11h01.

Última atualização em 4 de abril de 2019 às 13h40.

Brasília — A abertura de um escritório de negócios brasileiro em Jerusalém e a falta de coordenação com os palestinos para a visita do presidente Jair Bolsonaro à cidade disputada incomodaram a Autoridade Palestina , disse à Reuters o embaixador palestino em Brasília, Ibrahim Alzeben, nesta segunda-feira, 1º.

A decisão de Bolsonaro de passar três dias apenas em Israel, sem considerar uma visita aos territórios palestinos, não foi bem vista, e recebeu uma dura reação dos palestinos, que devem chamar para consultas o embaixador no Brasil.

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"Gostaríamos que a visita tivesse sido coordenada com a parte correspondente da Palestina e com a Comissão Suprema das Igrejas, um órgão palestino", disse o embaixador.

De acordo com o embaixador, "está em consideração" sua convocação para voltar aos territórios palestinos em reação à visita de Bolsonaro. "Segundo fui comunicado, vai depender da evolução da visita (a Israel)", disse. "Gostaríamos que não se houvesse tocado no tema de Jerusalém."

No domingo, em reação ao anúncio da abertura do escritório de negócios brasileiro em Jerusalém, o Ministério das Relações Exteriores palestino condenou o que chamou de "flagrante violação da legitimidade internacional" e "agressão direta" contra o povo e os direitos dos palestinos, e disse que entraria em contato com o embaixador em Brasília com o objetivo de convocá-lo para consultas.

O anúncio sobre o escritório irritou a comunidade árabe, apesar do recuo na decisão de transferência da embaixada de Tel Aviv para a cidade, o que era esperado pelo primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.

Prometida por Bolsonaro desde a campanha, seguindo movimento feito pelo governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a mudança foi sendo deixado de lado pelo governo pelo impacto que a poderia ter nas relações com os países árabes, grandes importadores de carnes de ave e de bovinos do Brasil.

A opção do governo brasileiro foi anunciar a abertura de um escritório de negócios, uma extensão da embaixada, com poucos efeitos práticos --até mesmo porque o centro financeiro e de negócios em Israel permanece em Tel Aviv--, mas com impacto diplomático.

O porta-voz da Presidência, general Otávio Rêgo Barros, defendeu a abertura do escritório de negócios em Jerusalém, mas afirmou que não será uma representação diplomática, não será tocado por diplomatas e nem é um reconhecimento de Jerusalém como capital israelense.

"Não há nesse aspecto o reconhecimento de Jerusalém como capital. O nosso presidente continua avaliando essa possibilidade (de transferência da embaixada), mas nesse momento não foi isso que decidimos", afirmou no domingo.

Questionado diretamente sobre a possibilidade de o presidente visitar os territórios palestinos, o porta-voz disse apenas que está no planejamento da Presidência a visita "a vários países", mas não quis confirmar se os territórios estariam entre eles. Também evitou responder se Bolsonaro reconhece os territórios palestinos como nação, como fez o governo brasileiro até agora.

O Brasil tem mudado posicionamentos tradicionais em fóruns internacionais como a Organização das Nações Unidas em relação aos palestinos, e seguido os Estados Unidos, desde a posse de Bolsonaro. Recentemente, votou no Conselho de Direitos Humanos da ONU contra uma resolução que condenava a repressão israelense a civis na fronteira da Faixa de Gaza, e se absteve em outra resolução contra a expansão das colônias israelenses nos territórios ocupados.

Em sua conta no Twitter, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, defendeu a mudança, dizendo que o Brasil estava rompendo com uma tradição "espúria e injusta" de apoiar um tratamento "discriminatório" contra Israel.

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