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Palácio presidencial egípcio vira guichê de reivindicações

Os litigantes vêm de diversas partes do país com a esperança de que o novo governante atenda a suas reivindicações

Mohammed Mursi, novo presidente do Egito: Só nos primeiros cinco dias desde que assumiu o cargo, foram contabilizados quase dez mil pedidos (Asmaa Waguih/Reuters)

Mohammed Mursi, novo presidente do Egito: Só nos primeiros cinco dias desde que assumiu o cargo, foram contabilizados quase dez mil pedidos (Asmaa Waguih/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 17 de julho de 2012 às 21h39.

Cairo - Mais do que uma residência oficial, o palácio do presidente egípcio, Mohammed Mursi, se transformou no guichê público aonde vários cidadãos se dirigem diariamente para apresentar reivindicações das mais variadas.

Levando papéis debaixo do braço, uma fila de pessoas aguarda em frente à entrada do prédio presidencial, que na época da ditadura de Hosni Mubarak chegou a ser uma fortaleza inacessível, situada no bairro nobre de Heliópolis, no Cairo.

Os litigantes vêm de diversas partes do país com a esperança de que o novo governante atenda a suas reivindicações, embora cientes das dificuldades.

''Meu irmão foi condenado em 2005 a sete anos de prisão por tráfico de drogas. Queremos que Mursi o liberte incondicionalmente'', contou à Agência Efe a egípcia Engy Adel, vestida com um niqab preto (véu islâmico que cobre todo o corpo, salvo os olhos).

Esta mulher, procedente da província de Qulubiya, no delta do rio Nilo, acompanha a mãe às portas do palácio, onde se concentram outros familiares de presos que pedem a atenção presidencial.

Adel reconhece que seu esforço para tirar seu irmão da prisão pode não ser recompensado, e afirma de forma lacônica: ''Não acho que Mursi fará alguma coisa''.


Após deixar sua queixa por escrito na entrada do recinto, algumas das mulheres reunidas interrompem o trânsito por alguns momentos quando se sentaram na calçada como forma de protesto, enquanto outras levantam a voz e mostram cartazes de reivindicação.

Para evitar que esse tipo de atos derive em distúrbios, cerca de 20 membros da Polícia egípcia fazem a proteção da residência.

''Como podem sair da prisão pessoas que foram condenadas por drogas ou assassinato?'', questiona aos presentes o general Nasser Hashem, enquanto conversa com eles para tentar dissuadi-los de manter o protesto.

As solicitações vão mudando em função dos dias e não é estranho encontrar no local agricultores cujas terras sofrem de seca, trabalhadores demitidos que buscam ser readmitidos e réus de diversos tipos de litígios.

Só nos primeiros cinco dias desde que o islamita Mursi assumiu o cargo, em 30 de junho passado, foram contabilizados quase dez mil pedidos.

A procissão de pessoas que chega diariamente a Heliópolis levou à abertura de escritórios em outros complexos presidenciais do Cairo onde se pode apresentar as demandas.


No centro da capital, no palácio de Abdin, a cena se repete e muitos dos visitantes descansam nos jardins do exterior após preencher seus dados no papel e entregá-los.

A jovem Shamia Ahmed, que tem 16 anos e amamenta seu bebê em público, se conforma em ter comida e casa própria no bairro popular de Imbaba, no Cairo, onde vive. ''Nós votamos em Mursi, agora ele precisa nos ajudar'', exclama a adolescente, que se mostra disposta a aceitar qualquer trabalho.

No Egito, onde se calcula que um quinto dos cidadãos viva com menos de US$ 2 por dia, o desemprego subiu para 12,4% da população economicamente ativa no final de 2011, segundo estatísticas oficiais que, no entanto, não refletem a alta taxa de informalidade.

A melhora da economia é uma das prioridades expressadas pelo novo presidente, que também deverá contribuir para amparar o sistema democrático decorrente da revolução que tirou Mubarak do poder em fevereiro do ano passado.

Recentemente, o presidente foi protagonista de uma luta pelo controle do Parlamento, dominado por políticos da Irmandade Muçulmana. A casa legislativa foi dissolvida pela Junta Militar que deteve o poder entre a queda de Mubarak e a ascensão de Mursi, mas o novo líder anulou a decisão, medida que, por sua vez, foi revogada pelo Tribunal Constitucional.

No entanto, essas questões políticas passam despercebidas fora do palácio presidencial de Mursi, onde os congregados se preocupam, sobretudo, em melhorar suas condições de vida. 

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