Paciente com lúpus toma hidroxicloroquina há 19 anos e ainda tem covid-19
Na segunda-feira, o presidente Trump anunciou que estava tomando o medicamento para se prevenir de uma possível contaminação pelo novo coronavírus
Janaína Ribeiro
Publicado em 21 de maio de 2020 às 16h50.
Última atualização em 21 de maio de 2020 às 20h35.
A hidroxicloroquina foi apresentada pelo presidente americano Donald Trump e outras figuras públicas como uma prevenção contra o coronavírus. Segundo uma publicação feita peloBusiness Insider, uma mulher de Wisconsin, nos EUA, diz que toma o medicamento há quase duas décadas para tratamento de lúpus e, apesar das recomendações de uso para prevenir—não curar—o coronavírus, ainda foi diagnosticada com a covid-19.
A mulher, identificada pela reportagem do WISN Channel 12 como Kim, disse em entrevista que toma hidroxicloroquina há 19 anos para tratar surtos causados pelo lúpus, uma doença crônica auto-imune que utiliza do medicamento—assim como outros—como tratamento. As pessoas que são diagnosticadas com a doençanecessitam na maioria das vezes de um acompanhamento prolongado.
Segundo Kim relatou para a entrevista, em março, ela permaneceu em quarentena devido a pandemia do coronavírus. Um mês depois ela começou a sentir sintomas como fadiga, tosse e febre. Ao procurar uma clínica para atendimento de urgência, foram feitos testes para verificar se ela teria contraído a covid-19, o que se confirmou posteriormente. Segundo ela, foram necessários sete dias de internação além do uso de oxigênio externo em sua casa.
"Quando eles deram o diagnóstico, eu senti que era uma sentença de morte. Eu pensava: 'vou morrer'", disse. "Cheguei a achar contraditório: como posso ficar doente? Como? Estou tomando hidroxicloroquina. Porém, os médicos diziam: 'Bem, ninguém nunca afirmou que isso seria a cura'".
O presidente Trump começou a promover a hidroxicloroquina em meados de março, quando anunciou em uma coletiva de imprensa que o medicamento seria disponibilizado "quase imediatamente" para tratar o novo coronavírus.
Na última segunda-feira, 18, Trump disse que estava tomando hidroxicloroquina diariamente “há semanas” para se prevenir de uma possível contaminação pelo novo coronavírus.
A hidroxicloroquina, que geralmente é prescrita para tratar a malária e doenças auto-imunes como lúpus e artrite reumatóide, não se mostrou segura ou eficaz no tratamento da covid-19, de acordo com o FDA (Food and Drug Administration).
Tratamentos para o coronavírus
Uma tabela divulgada nas redes sociais da Universidade de São Paulo (USP) na segunda-feira (18) mostra quais são os principais tratamentos disponíveis para o enfrentamento do novo coronavírus . A lista mostra os efeitos de fármacos como a hidroxicloroquina e faz uma comparação em relação a preço, acesso, risco, evidência de eficácia e recomendação dos órgãos de saúde com outros tratamentos.
Conforme relatado pelaAssociação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib), a Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI) e a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), os tratamentos com hidroxicloroquina, com ou sem azitromicina, têm risco elevado, pouca evidência de ser realmente eficaz e uma forte recomendação contrária ao uso do medicamento em rotina. Nos pontos positivos, destaque para o preço e para a facilidade de acesso ao fármaco.