Otan elabora estratégia "à prova de Trump" diante de possível retorno à Casa Branca
Cúpula planeja seguir ajudando Ucrânia, mesmo caso ex-presidente seja eleito novamente nas eleições que marcadas para novembro
Agência de Notícias
Publicado em 12 de julho de 2024 às 08h04.
Os líderes da Otan elaboraram uma estratégia "à prova de Donald Trump "durante a cúpula da organização em Washington para continuar ajudando a Ucrânia e proteger a própria instituição diante do possível retorno do ex-presidente à Casa Branca após as eleições de novembro nos Estados Unidos.
Embora Trump não estivesse no centro de convenções da cúpula, sua sombra pairou sobre o evento, com os líderes elaborando estratégias sobre como a aliança militar deveria estar preparada para a possibilidade de o país mais rico e poderoso da organização ser novamente liderado por um cético.
Em particular, os líderes aproveitaram a oportunidade para colocar os principais elementos de ajuda à Ucrânia sob o escudo da Otan e dissociá-los um pouco dos EUA, que fornecem a maior parte dos recursos.
Eles também elegeram recentemente Mark Rutte, um negociador nato, como seu novo secretário-geral e têm aumentado os gastos com defesa, o maior ponto de atrito de Trump com a aliança militar. Na quarta-feira, o ex-presidente americano voltou a falar que os membros "pagavam muito pouco" até ele chegar.
Muitas das perguntas da imprensa aos líderes se concentraram em como garantir o futuro da organização diante de Trump, que tem uma retórica muito crítica em relação à organização.
Em fevereiro, ele disse que incentivaria a Rússia a fazer "o que quisesse" com os países que não cumprissem seus compromissos de gastos, questionando o artigo central do tratado de defesa comum.
O atual secretário-geral da aliança militar, Jens Stoltenberg, foi quem melhor descreveu o sentimento da organização. Perguntado sobre o compromisso do futuro governo dos EUA, o norueguês disse que a Otan "é um pouco como um casal em que é preciso manter o compromisso diário" e fazer esforços para permanecer juntos.
Para garantir esse futuro, a própria Otan escolheu um ávido defensor do consenso e que conhece Trump: Rutte, que durante seus 14 anos como primeiro-ministro da Holanda teve que administrar quatro governos de coalizão diferentes, colocando a necessidade de se chegar a um acordo acima de sua ideologia pessoal.
Rutte, que assumirá o cargo em 1º de outubro, tem a vantagem de ser benquisto por Trump. Anos atrás, depois de uma reunião no Salão Oval da Casa Branca, o político republicano, conhecido por suas explosões com outros líderes, teve palavras gentis para com o holandês: "Eu gosto desse cara!”
Assim, enquanto os EUA estão envolvidos no debate sobre se o atual presidente, Joe Biden, deve encerrar sua campanha à reeleição por não estar correspondendo às exigências do cargo, os líderes da Otan usaram a cúpula para fazer vários anúncios vistos como uma forma de colocar a organização e especialmente aajuda à Ucrânia "à prova de Trump".
A aliança militar decidiu, entre outros aspectos, que a partir de agora o general americano Christopher G. Cavoli será o comandante supremo para a Europa. Ele coordenará a entrega de ajuda à Ucrânia a partir de uma base na Alemanha e de nós logísticos em Romênia, Eslováquia e Polônia, embora a Ucrânia será a responsável por levar o equipamento para seu território.
Além disso, para garantir o futuro financeiro da Ucrânia após as eleições de novembro nos EUA, os aliados se comprometeram a fornecer ao país cerca de US$ 43 bilhões para equipamentos militares em 2025.
Em um esforço para apaziguar os críticos de Trump, os aliados aumentaram seus gastos com defesa, e vários participantes da cúpula até mesmo aproveitaram a oportunidade para reconhecer publicamente que o ex-presidente dos EUA estava certo ao exigir um compromisso financeiro maior.
Os países da Otan aumentaram seus gastos militares nos últimos anos, especialmente após a invasão em grande escala da Ucrânia pela Rússia em 2022.
Este ano, 23 países excederão ou atingirão a meta de 2%, dos 31 membros da organização com forças armadas (a Islândia não tem um exército permanente).
Antes da invasão russa, apenas um ano depois de Trump deixar a Casa Branca, apenas sete países haviam atingido essa meta.