Os erros que permitiram ao EI se tornar uma ameaça global
Os atentados do Estado Islâmico em Paris confirma que a organização tem uma capacidade e ambição maiores que se imaginava
Da Redação
Publicado em 16 de novembro de 2015 às 21h14.
Washington - Os atentados do grupo jihadista Estado Islâmico (EI) em Paris, que deixaram pelo menos 129 mortos e 350 feridos, confirmam que essa organização tem uma capacidade e ambição maiores do que se imaginava e obriga a examinar os erros que permitiram sua rápida conversão em ameaça global.
Essa é a conclusão dos especialistas e analistas consultados pela Agência Efe no dia em que o presidente dos Estados Unidos , Barack Obama, descartou com contundência enviar tropas terrestres para combater o EI, como muitas vozes lhe reivindicam dentro e fora de seu país.
Todos os diagnósticos apontam para dois erros básicos: EUA, Europa e seus aliados no Oriente Médio responderam de forma tardia e equivocada à guerra civil na Síria e não conseguiram até agora compreender o que quer e como funciona o autoproclamado Estado Islâmico.
Mas são muitos mais numerosos os fatores a serem considerados após um massacre como o ocorrido na sexta-feira em Paris: erros de inteligência, controle nas fronteiras em meio a uma severa crise de refugiados e o destino das armas que o Ocidente proporcionou a Iraque e Síria para combater os jihadistas.
"Há um consenso entre Washington e seus aliados que os bombardeios na Síria começaram dois anos mais tarde do que deveria, o que deu ao Estado Islâmico muita margem para crescer", declarou à Efe Carles Castelló-Catchot, chefe de gabinete do Centro Brent Scowcroft de Segurança Internacional do Centro de Estudos Atlantic Council de Washington.
Para o analista espanhol, a ascensão do Estado Islâmico foi possível graças a uma "tempestade perfeita" com uma Europa enrascada em sua própria crise econômica e institucional e um Estados Unidos com "fadiga militar" após mais de uma década de intervenções militares no Iraque e Afeganistão.
"Os EUA não quiseram entrar na Síria quando foram ultrapassadas as linhas vermelhas que fixaram e a Europa também demorou muito em informar-se que este problema também era seu e não outra guerra americana. Os EUA têm dois oceanos que lhe separam do mundo, a Europa é vizinha do Oriente Médio", considerou Castelló-Catchot.
Poucas horas antes do atentado em Paris, Obama pronunciou palavras que lhe valeram duras críticas: disse que o avanço do EI tinha sido "contido". Em janeiro de 2014 o comparou com "uma equipe universitária" que tentava ser profissional.
"Os argumentos prévios de alguns de que (a ameaça do EI) não tinha tanta magnitude se provaram falsos com esta tragédia, assim como com os recentes ataques na Turquia, Líbano e Sinai", disse à Efe Michael O'Hanlon, especialista em Segurança Nacional e Defesa do Centro de Estudos Brookings, em Washington, e ex-analista no Congresso americano.
Para O'Hanlon agora é mais evidente que nunca que os jihadistas com passaporte ocidental, como parece que eram alguns dos autores dos ataques em Paris, representam uma "enorme ameaça tanto para as sociedades ocidentais como para as regionais".
Castelló-Catchot concorda com esse diagnóstico e considera que "a grande falha" foi não poder controlar a fronteira entre Síria e Turquia desde o primeiro momento.
"A operação dos EUA e seus aliados não foi um fracasso, se recuperou terreno, mas há uma área ampla na fronteira da Síria com a Turquia que não está sob controle de ninguém e permitiu o movimento dos terroristas que vão lutar o conflito sírio e voltam a seus países ocidentais", destacou o analista.
A suspeita de que pelo menos um dos autores dos ataques em Paris fosse sírio e tivesse entrado pela rota dos refugiados multiplicou as vozes que pedem que Europa e Estados Unidos restrinjam estas entradas.
"Certamente são necessários melhores escrutínios e revisões, assim como mais coordenação com países como a Turquia, onde os traficantes crescem com força e falsificam passaportes que são fáceis de adquirir", ressaltou Pamela Ballinger, especialista em refugiados e deslocamento da Universidade de Michigan.
"As políticas de rejeição aos refugiados só preparariam o terreno para mais radicalização de vários tipos, produzindo um círculo vicioso", apontou a professora.
Obama deixou claro hoje que fechar as portas aos refugiados iria contra os valores americanos e defendeu os avanços de sua estratégia apesar do estruturado atentado em Paris.
Para Michael Doran, diretor do Conselho de Segurança Nacional com George W. Bush e agora analista do Centro de Estudos Hudson, o "calcanhar-de-aquiles" da política de Obama para lutar contra o EI é "a quase total dependência dos xiitas e dos curdos".
"Se os Estados Unidos não conseguirem mobilizar os aliados árabes sunitas, nunca conseguirão manter o território tomado do EI", afirmou Doran em seu recente estudo "Como combater o Estado Islâmico e como não combater".
"Alguns dos aliados na região teriam capacidade de fazer muito mais, mas são reticentes a colocar-se em ações nas quais não se sabe o resultado final, afinal estariam muito perto de casa", salientou Castelló-Catchot.
Os analistas concordam que agora, após as demonstrações de força do EI em Paris e Líbano, não há tempo para demoras ou estratégias às cegas, mas se deve esclarecer quem são os atores do conflito e admitir que o grupo jihadista já não é uma ameaça regional que atua apenas em seus territórios, mas um novo perigo, difícil de controlar e com uma capacidade de atração para jovens ocidentais sem precedentes.
Washington - Os atentados do grupo jihadista Estado Islâmico (EI) em Paris, que deixaram pelo menos 129 mortos e 350 feridos, confirmam que essa organização tem uma capacidade e ambição maiores do que se imaginava e obriga a examinar os erros que permitiram sua rápida conversão em ameaça global.
Essa é a conclusão dos especialistas e analistas consultados pela Agência Efe no dia em que o presidente dos Estados Unidos , Barack Obama, descartou com contundência enviar tropas terrestres para combater o EI, como muitas vozes lhe reivindicam dentro e fora de seu país.
Todos os diagnósticos apontam para dois erros básicos: EUA, Europa e seus aliados no Oriente Médio responderam de forma tardia e equivocada à guerra civil na Síria e não conseguiram até agora compreender o que quer e como funciona o autoproclamado Estado Islâmico.
Mas são muitos mais numerosos os fatores a serem considerados após um massacre como o ocorrido na sexta-feira em Paris: erros de inteligência, controle nas fronteiras em meio a uma severa crise de refugiados e o destino das armas que o Ocidente proporcionou a Iraque e Síria para combater os jihadistas.
"Há um consenso entre Washington e seus aliados que os bombardeios na Síria começaram dois anos mais tarde do que deveria, o que deu ao Estado Islâmico muita margem para crescer", declarou à Efe Carles Castelló-Catchot, chefe de gabinete do Centro Brent Scowcroft de Segurança Internacional do Centro de Estudos Atlantic Council de Washington.
Para o analista espanhol, a ascensão do Estado Islâmico foi possível graças a uma "tempestade perfeita" com uma Europa enrascada em sua própria crise econômica e institucional e um Estados Unidos com "fadiga militar" após mais de uma década de intervenções militares no Iraque e Afeganistão.
"Os EUA não quiseram entrar na Síria quando foram ultrapassadas as linhas vermelhas que fixaram e a Europa também demorou muito em informar-se que este problema também era seu e não outra guerra americana. Os EUA têm dois oceanos que lhe separam do mundo, a Europa é vizinha do Oriente Médio", considerou Castelló-Catchot.
Poucas horas antes do atentado em Paris, Obama pronunciou palavras que lhe valeram duras críticas: disse que o avanço do EI tinha sido "contido". Em janeiro de 2014 o comparou com "uma equipe universitária" que tentava ser profissional.
"Os argumentos prévios de alguns de que (a ameaça do EI) não tinha tanta magnitude se provaram falsos com esta tragédia, assim como com os recentes ataques na Turquia, Líbano e Sinai", disse à Efe Michael O'Hanlon, especialista em Segurança Nacional e Defesa do Centro de Estudos Brookings, em Washington, e ex-analista no Congresso americano.
Para O'Hanlon agora é mais evidente que nunca que os jihadistas com passaporte ocidental, como parece que eram alguns dos autores dos ataques em Paris, representam uma "enorme ameaça tanto para as sociedades ocidentais como para as regionais".
Castelló-Catchot concorda com esse diagnóstico e considera que "a grande falha" foi não poder controlar a fronteira entre Síria e Turquia desde o primeiro momento.
"A operação dos EUA e seus aliados não foi um fracasso, se recuperou terreno, mas há uma área ampla na fronteira da Síria com a Turquia que não está sob controle de ninguém e permitiu o movimento dos terroristas que vão lutar o conflito sírio e voltam a seus países ocidentais", destacou o analista.
A suspeita de que pelo menos um dos autores dos ataques em Paris fosse sírio e tivesse entrado pela rota dos refugiados multiplicou as vozes que pedem que Europa e Estados Unidos restrinjam estas entradas.
"Certamente são necessários melhores escrutínios e revisões, assim como mais coordenação com países como a Turquia, onde os traficantes crescem com força e falsificam passaportes que são fáceis de adquirir", ressaltou Pamela Ballinger, especialista em refugiados e deslocamento da Universidade de Michigan.
"As políticas de rejeição aos refugiados só preparariam o terreno para mais radicalização de vários tipos, produzindo um círculo vicioso", apontou a professora.
Obama deixou claro hoje que fechar as portas aos refugiados iria contra os valores americanos e defendeu os avanços de sua estratégia apesar do estruturado atentado em Paris.
Para Michael Doran, diretor do Conselho de Segurança Nacional com George W. Bush e agora analista do Centro de Estudos Hudson, o "calcanhar-de-aquiles" da política de Obama para lutar contra o EI é "a quase total dependência dos xiitas e dos curdos".
"Se os Estados Unidos não conseguirem mobilizar os aliados árabes sunitas, nunca conseguirão manter o território tomado do EI", afirmou Doran em seu recente estudo "Como combater o Estado Islâmico e como não combater".
"Alguns dos aliados na região teriam capacidade de fazer muito mais, mas são reticentes a colocar-se em ações nas quais não se sabe o resultado final, afinal estariam muito perto de casa", salientou Castelló-Catchot.
Os analistas concordam que agora, após as demonstrações de força do EI em Paris e Líbano, não há tempo para demoras ou estratégias às cegas, mas se deve esclarecer quem são os atores do conflito e admitir que o grupo jihadista já não é uma ameaça regional que atua apenas em seus territórios, mas um novo perigo, difícil de controlar e com uma capacidade de atração para jovens ocidentais sem precedentes.