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Os comentários desta influencer escondem uma realidade sombria no Kuwait

Estrela das redes sociais, Sondos Alqattan se manifestou contra a proteção de trabalhadores domésticos no país, no qual situações de abuso são frequentes

A influencer do Kuwait, Sondos Alqattan: maquiadora causou polêmica nas redes sociais ao criticar reforma trabalhista (Sondos Alqattan/Instagram/Reprodução)

A influencer do Kuwait, Sondos Alqattan: maquiadora causou polêmica nas redes sociais ao criticar reforma trabalhista (Sondos Alqattan/Instagram/Reprodução)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 23 de julho de 2018 às 12h20.

São Paulo – Uma estrela das redes sociais no Kuwait está enfrentando uma onda de críticas depois da publicação de um vídeo polêmico no qual se manifestava contra uma reforma trabalhista que visa proteger as empregadas domésticas de situações de abusos de seus empregadores. O caso foi reportado por jornais como The Guardian e a rede de notícias CNN.

“As novas leis são patéticas. Honestamente não concordo com elas”, disse Sondos Alqattan, maquiadora e influencer com mais de 2 milhões de seguidores no Instagram, “ela (a empregada) irá tirar um dia de folga por semana. São quatro dias em um mês e não saberemos o que ela fará com seu passaporte em mãos”, continuou. “Como ter uma empregada em casa que mantém o passaporte consigo? ”, questionou.

Os comentários de Alqattan escondem a realidade sombria enfrentadas pelas trabalhadoras domésticas, especialmente as imigrantes, no país onde vigorava até essa reforma um sistema conhecido como “Kefala”. Nele, explica a organização Human Rights Watch, empregadores detêm amplos poderes sobre os imigrantes contratados.

No Kuwait, por exemplo, o passaporte de uma doméstica ficava em poder dos patrões. A troca de emprego e a saída do país, mesmo que para voltar para o seu local de origem, só eram possíveis mediante a aprovação de quem a contratou. Segundo entidades de defesa de direitos humanos, o sistema abria margem para situações de abusos e violência extrema. Casos que, infelizmente, são comuns na região.

Filipinas x Kuwait

No início de 2018, a filipina, Joanne Demafelis, 29 anos, foi encontrada morta, esquartejada no congelador da casa na qual trabalhava. O casal que a contratou, um libanês e uma síria, abandonaram o Kuwait em 2016, deixando o corpo de Joanne para trás. Mais tarde, a perícia médica encontrou evidências de que a trabalhadora sofreu vários tipos de abusos, até sexuais.

O caso efervesceu as relações diplomáticas entre o Kuwait e as Filipinas, país de origem da maioria das domésticas do país árabe. Em abril, o embaixador filipino foi expulso depois de a polícia kuwaitiana ter descoberto um esquema da embaixada que ajudava trabalhadores a fugirem. Rodrigo Duterte, presidente das Filipinas, chegou a suspender o envio de trabalhadores para o Kuwait em razão dos episódios de violência.

Com uma população estimada em 4 milhões, o Kuwait conta com um grande contingente de empregadas domésticas, cerca de 660 mil, dos quais 250 mil são das Filipinas. Segundo dados do governo filipino, desde 2016, 196 de seus cidadãos morreram em solo kuwaitiano e 79% das vítimas faleceram em decorrência de abusos físicos.

Foi justamente neste país que as declarações da influencer foram ainda mais criticadas, com dezenas de usuários das redes sociais pedindo que patrocinadores rompam seus contratos e parcerias. De acordo com o site de notícias Gulf News, algumas marcas já cortaram os laços com Alqattan, como a francesa M. Micalleff e a britânica Chelsea Boutique.

A situação de vulnerabilidade está longe de ser reservada apenas aos filipinos. Outro caso que chocou o mundo veio à tona em 2017, quando uma mulher filmou a queda de sua doméstica, de origem etíope, da janela do prédio e primeiro reportou o fato à polícia como uma tentativa de suicídio. Mais tarde, no entanto, a trabalhadora, que sobreviveu a queda de sete andares, disse que tentava fugir das garras da patroa, que estaria tentando matá-la.

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