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Da Redação
Publicado em 17 de abril de 2015 às 16h16.
A ONU exigiu um cessar-fogo imediato no Iêmen, onde os combates entre partidários e adversários do chefe de Estado e os bombardeios da coalizão árabe contra a rebelião deixaram centenas de mortos e uma grave crise humanitária.
Após intensos ataques aéreos noturnos no norte do país, os aviões da coalizão árabe, liderada pela Arábia Saudita, bombardearam em duas ocasiões um depósito de armas a leste da capital Sanaa e o palácio presidencial em Taez (sudeste), segundo testemunhas.
Colunas de fumaça subiam do edifício que pertence à Guarda Republicana, unidade de elite do exército que se manteve fiel ao ex-presidente Ali Abdallah Saleh, que se aliou aos rebeldes xiitas huthis.
A coalizão também bombardeou Áden, capital do sul do país, onde um líder rebelde foi morto em um ataque contra seu veículo, de acordo com uma fonte militar. Outros 20 rebeldes morreram no mesmo ataque ao comboio em que estavam.
Ao todo, nas últimas 24 horas, 76 pessoas morreram em Àden, onde os partidários do presidente Abd Rabbo Mansour Hadi resistem aos rebeldes.
Diante da gravidade da situação, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, pediu uma trégua.
"O processo de paz diplomático apoiado pelas Nações Unidas é o melhor meio para sair desta guerra que dura muito tempo e que tem consequências terríveis para a estabilidade regional", afirmou na noite de quinta-feira em Washington.
Milhões de afetados
Apoiados por militares pró-Saleh, os huthis, próximos ao Irã, lançaram em julho de 2014 uma ofensiva que lhes permitiu a tomada da capital Sanaa em janeiro deste ano, além de várias regiões do centro e do oeste do país. Os rebeldes tentam agora tomar o sul, forçando Hadi a fugir em março para a vizinha sunita Arábia Saudita.
Procurando deter o avanço dos huthis, a coalizão lançou em 26 de março ataques aéreos contra as posições rebeldes.
Segundo um balanço atualizado fornecido nesta sexta-feira pela Organização Mundial da Saúde, o conflito deixou 767 mortos e 2.906 feridos desde 19 de março, incluindo um grande número de civis.
Milhares de estrangeiros também foram obrigados a fugir do país. Além disso, há uma grande escassez de água, alimentos, medicamentos e eletricidade.
A ONU e seus parceiros humanitários lançaram um apelo urgente de quase 274 milhões de dólares para atender às necessidades de 7,5 milhões de habitantes afetados diretamente pelo conflito, de uma população total de mais de 24 milhões de pessoas.
"Milhares de famílias fugiram de suas casas em razão dos combates e dos ataques. As famílias têm tido dificuldades para ter acesso a serviços de saúde, à água, à comida e combustível", alertou o coordenador humanitário, Johannes Van Der Klaauw.
Em Taez, apesar da violência, os habitantes, sem eletricidade e água há vários dias, buscam água nos raros poços da cidade, segundo um correspondente da AFP.
Al-Qaeda tira proveito do caos
"Este é o momento de apoiar a ideia de corredores que permitam a chegada de ajuda e a passagem para uma paz verdadeira", considerou Ban Ki-Moon.
O ministro das Relações Exteriores iraniano, Mohammad Javaz Zarif, por sua vez, pediu a realização de um diálogo imediato entre as partes durante um telefonema a Ban, segundo a agência estatal Irna.
Além disso, o presidente Barack Obama receberá os seis dirigentes do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) em meados de maio para discutir o programa nuclear iraniano e os conflitos em Iêmen, Iraque e Síria, informou nesta sexta a Casa Branca.
O caos neste pobre país da península arábica tem beneficiado a Al-Qaeda, que tomou uma importante base militar, também nesta sexta, apoderando-se de armas pesadas, em Mukalla, no sudeste do Iêmen, consolidando o controle sobre esta cidade, capital de Hadramut.
"Os combatentes da Al-Qaeda tomaram hoje o controle do campo da 17ª brigada mecanizada, onde apoderaram-se de armas pesadas, tanques e canhões", declarou à AFP a autoridade, confirmando que os insurgentes islamitas controlam agora toda a cidade de Mukalla, no dia seguinte à tomada do aeroporto da localidade.