Rinocerontes: a partir de 2008, novos atos de caça ilegal foram detectados de forma crescente (Roberto Schmidt/AFP)
Da Redação
Publicado em 4 de julho de 2014 às 12h48.
Genebra - O aumento do uso de produtos derivados dos chifres de rinocerontes ou de partes do corpo dos tigres como símbolo de ostentação e de riqueza está ameaçando ainda mais a sobrevivência destes dois animais, denunciou a ONU nesta sexta-feira.
O Comitê permanente de Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Selvagens de Fauna e Flora (Cites) se reunirá na próxima semana em Genebra para analisar a implementação de novas normas sobre comércio ilegal de espécies protegidas.
Um dos pontos mais relevantes da agenda será o aumento do comércio ilícito de chifres de rinocerontes e de partes de tigres, explicou hoje em entrevista coletiva o secretário-executivo da Cites, John Scanlon.
"Estamos observando uma preocupante mudança na demanda de algumas espécies. Antes, essas espécies eram caçadas porque achavam que algumas de suas partes curavam doenças. Mas, agora, observamos que o uso dessas peças visa demonstrar riqueza".
Neste aspecto, espera-se que, durante as sessões da próxima semana - de 7 a 11 de julho -, África do Sul, Vietnã e República Tcheca apresentem relatórios a respeito do tráfico de chifres de rinocerontes, dado que estes países aparecem como o primeiro exportador de tráfico ilícito, o primeiro receptor e um dos principais intermediários, respectivamente.
"O comércio ilegal é maior que a capacidade que os rinocerontes têm de se reproduzir", o que representa uma grande ameaça.
De fato, até 2007, a população de rinocerontes no mundo tinha se estabilizado e parecia que a ameaça tinha desaparecido, mas, a partir de 2008, novos atos de caça ilegal foram detectados de forma crescente, com 88 casos anuais.
No ano passado, por exemplo, mais de mil casos foram registrados.
Em relação aos tigres, cuja pele é a mais requisitada, Scanlon ressaltou que "só há 3 mil exemplares vivendo de forma selvagem" e, por isso, destacou a importância de proteger a espécie antes de um irreversível declive.
Os 19 membros do Comitê Permanente e os 400 participantes da conferência também analisarão o caso dos elefantes, cujo massacre se baseia no comércio ilegal de marfim.
Na última década houve um aumento considerável da caça ilegal de elefantes, fato que elevou a ameaça relacionada à espécie, tendo em vista que os animais não se reproduzem ao mesmo nível em que são dizimados.
Oito países onde existe comércio ilegal de marfim - Camarões, Congo, Egito, Etiópia, Gabão, Moçambique, Nigéria e República Democrática do Congo - deverão apresentar índices atualizados dessa prática, medidas para freá-la e, inclusive, o que pretendem fazer em um futuro próximo.
Outros seis países - Angola, Camboja, Catar, Emirados Árabes, Japão e Laos - também deverão apresentar um relatório de seus planos para combater o tráfico ilegal de animais.
O Comitê insistirá na implementação de um plano de ação sobre o elefante africano, incluindo um aumento dos controles dos mercados nacionais de marfim, a colaboração entre países africanos e asiáticos para evitar o contrabando e o desenvolvimento de ações conjuntas de repressão do comércio ilegal junto ao Consórcio Internacional de Combate ao Crime sobre Vida Selvagem (ICCWC, na sigla em inglês).
"Existem várias formas de lutar contra o contrabando ilegal, como campanhas de comunicação induzindo as pessoas deixarem de comprar um bolsa ou um elemento ornamental produzido com uma espécie protegida, mas também devemos lutar de forma contundente contra o crime organizado que controla o comércio ilícito", explicou Scanlon.
"Em muitos casos enfrentamos grupos organizados em nível internacional e, por isso, precisamos atuar através da Interpol".
Além dos animais citados, os golfinhos também estarão sobre a mesa, após a aceitação das Ilhas Salomão, principal exportador destes animais, de interromper sua comercialização até a realização de uma pesquisa sobre a sustentabilidade da espécie.
O estado dos tubarões, dos antílopes tibetanos e dos guepardos, entre outros, também serão analisados, assim como o cumprimento que os 180 Estados-membros da Convenção fazem tanto pelo estabelecido pelo convênio como por suas próprias leis individuais.