ONG denuncia corrupção em guerra antidrogas de Duterte
Entre as corrupções cometidas figurariam mortes encomendadas, falsificação de atestados de óbito e roubos cometidos por policiais
EFE
Publicado em 1 de fevereiro de 2017 às 08h22.
Manila - A Anistia Internacional denunciou nesta quarta-feira a existência de crimes contra a humanidade dentro da campanha de combate às drogas promovida pelo presidente das Filipinas , Rodrigo Duterte, ao afirmar que as autoridades do país estão encobrindo mortes encomendadas, falsificação de atestados de óbito e roubos cometidos por policiais.
"A polícia transformou em alvo principal as pessoas pobres e indefesas de todo o país, forjando provas, recrutando assassinos de aluguel, roubando quem é morto e falsificando os atestados de óbito", disse a ONG em um relatório em que denuncia a ocorrência de execuções extrajudiciais nas Filipinas.
Para elaborar o documento, a Anistia Internacional examinou 33 casos nos quais foram assassinadas 59 pessoas em diversas partes do país e entrevistou outras 110, entre elas testemunhas, familiares das vítimas e agentes das forças de segurança.
Um dos agentes revelou à ONG que a polícia paga entre 8 mil e 15 mil pesos filipinos (entre US$ 160 e US$ 300) por cada execução realizada. Além disso, eles recebem comissão das funerárias do país.
"Se não forem tomadas em breve medidas taxativas, a comunidade internacional deve recorrer ao promotor do Tribunal Penal Internacional (TPI) para uma investigação preliminar sobre esses homicídios, que incluem a participação de altos funcionários do governo", disse a Anistia Internacional no documento.
O relatório foi divulgado dois dias depois de Duterte ter determinado a suspensão temporária da campanha antidrogas para se concentrar em "limpar" a polícia.
O motivo da paralisação foi o sequestro e a morte de um empresário sul-coreano, um crime que tem como suspeitos vários agentes e que evidenciou a corrupção e a arbitrariedade das forças de segurança.
De qualquer forma, o presidente das Filipinas se comprometeu a retomar em breve a iniciativa e prolongar sua duração até 2022, modificando os planos iniciais que previam o término da ação em junho de 2018. Nos sete meses da campanha, mais de 7 mil pessoas foram mortas no país, 2.257 delas por policiais.
Segundo a Anistia Internacional, em muitos casos, as vítimas se renderam sem oferecer resistência. Mesmo assim, os agentes apertaram o gatilho, como ocorreu no caso de Gender Rondina, assassinado dentro de casa na cidade de Cebu em frente aos seus familiares.
Após retirarem o corpo de Rondina do imóvel, de acordo com o relatório da ONG, objetos de valor como um computador portátil, um relógio e dinheiro desapareceram da cena do crime e nunca foram registrados no boletim de ocorrência pelos agentes.
A Anistia Internacional também afirmou que as listas de traficantes e usuários - e, portanto, vítimas em potencial - incluem indivíduos que não têm relação com drogas. Eles estariam na relação por "vinganças pessoais ou pelos incentivos de matar muitas pessoas".
"Não é uma guerra contra as drogas, mas sim uma guerra contra os pobres. Sob frágeis evidências, as pessoas acusadas de usar ou vender drogas são assassinadas por dinheiro", resumiu Tirana Hassan, a diretora de Respostas a Crises da Anistia Internacional, no relatório.