Barack Obama fala com simpatizantes na noite da eleição: norte-americanos preferiram conservar o "status quo" de um governo dividido em Washington (©AFP / Jewel Samad)
Da Redação
Publicado em 7 de novembro de 2012 às 17h15.
Washington - O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, volta a Washington nesta quarta-feira sem muito tempo para saborear sua vitória eleitoral, já que terá de enfrentar desafios econômicos urgentes, uma iminente batalha fiscal e um Congresso ainda dividido, capaz de bloquear cada iniciativa sua.
Obama derrotou o desafiante republicano Mitt Romney na votação de terça-feira e usou o discurso da vitória, diante de uma entusiasmada multidão em Chicago, para adotar um tom conciliador.
Mas, à luz fria da manhã seguinte à jornada eleitoral, ficou claro que, embora os eleitores tenham garantido um segundo mandato a Obama, o presidente terá dificuldades para traduzir isso em força política para impor sua pauta.
Sua preocupação mais imediata será confrontar o "abismo fiscal" de aumentos tributários automáticos e cortes de gastos, medidas que podem interromper a trajetória de recuperação da economia, e os mercados financeiros globais refletiam isso nesta quarta-feira, quando Wall Street operava em clima de desânimo pós-eleitoral.
Os norte-americanos preferiram conservar o "status quo" de um governo dividido em Washington. O Partido Democrata manteve a maioria no Senado, mas a oposição republicana conseguiu novamente formar maioria na Câmara, o que lhe dará poderes para barrar iniciativas do presidente em qualquer tema, de impostos a reforma da imigração.
Essa é a realidade política que Obama encontrará quando voltar a Washington, na noite desta quarta-feira, após obter sobre Romney uma vitória bem mais apertada do que na sua histórica eleição como primeiro presidente negro do país há quatro anos.
Mas isso não o impediu de se deleitar com o resultado eleitoral junto com milhares de admiradores, já na madrugada desta quarta-feira em Chicago, cidade onde fez carreira política.
"Vocês votaram por ação, não pela política de sempre", disse Obama, propondo acordos bipartidários para reduzir o déficit, reformar o código tributário e as leis de imigração e diminuir a dependência do petróleo importado.
Os problemas que importunaram o primeiro mandato de Obama, lançando uma longa sombra sobre as promessas eleitorais de mudança e esperança feitas em 2008, ainda estão diante dele.
O presidente precisa resolver déficits anuais de 1 trilhão de dólares, domar uma dívida nacional de 16 trilhões de dólares, reformar custosos programas sociais e lidar com a divisão do Congresso.
O foco mais urgente de Obama e dos parlamentares será resolver o "abismo fiscal", que ameaça tirar cerca de 600 bilhões de dólares da economia por causa do aumento de impostos e cortes de gastos. Economistas alertam que isso empurraria o país para uma recessão e que só um acordo com o Congresso impedirá que as medidas entrem em vigor automaticamente.
O presidente da Câmara, o republicano John Boehner, disse que vai divulgar nota sobre o assunto nesta quarta-feira, citando "a necessidade de que ambos os partidos encontrem um terreno comum e deem passos juntos para ajudar nossa economia a crescer e a gerar empregos, o que é crítico para resolver nossa dívida." A preocupação com os problemas fiscais dos Estados Unidos contribuíram para que os investidores buscassem ativos mais seguros nesta quarta-feira, causando uma queda global nas bolsas de valores.
Os três principais índices mercantis do país registraram baixas superiores a 2 por cento no final da manhã, sendo que o Dow Jones caiu quase 300 pontos. As preocupações com a zona do euro também contribuíram para a tendência.
Obama deve lançar nos próximos dias uma proposta para resolver a crise fiscal, mas Boehner já deixou claro que manterá sua oposição a qualquer aumento tributário para os norte-americanos mais ricos, como exige o presidente.
Vitória confortável - No fim de uma campanha longa e agressiva, na qual os candidatos e seus aliados gastaram um total de 2 bilhões de dólares, as urnas registraram um país que permanece dividido: Obama teve cerca de 50 por cento dos votos em nível nacional, contra 49 por cento para Romney.
Mas, na distribuição de votos para o Colégio Eleitoral, que leva em conta o resultado de cada disputa estadual --e não a soma nacional de votos--, o presidente obteve uma vitória mais confortável.
Na manhã desta quarta-feira, o democrata somava 303 votos eleitorais, bem acima dos 270 necessários para a vitória, e Romney estava com 206. O resultado da Flórida, com 29 delegados, ainda está em aberto.
No discurso em que admitiu a derrota, Romney, milionário ex-executivo do setor financeiro, disse aos seus desanimados seguidores que o país enfrenta um "momento de grande desafio". "Rezo para que o presidente seja bem sucedido em guiar nossa nação", afirmou, pedindo a ambos partidos que "coloquem o povo à frente da política".
Após perder duas eleições presidenciais, o Partido Republicano deve entrar agora em um período de reflexão, especialmente para tentar entender por que se distanciou tanto do eleitorado hispânico, que foi crucial na vitória de Obama.
"O fato é que os republicanos vão ter de repensar muita coisa em nível presidencial", disse o ex-presidente da Câmara e pré-candidato derrotado pelo Partido Republicano neste ano, Newt Gingrich, à rede CBS.
Reação internacional - Líderes do mundo todo congratularam Obama pela reeleição.
A presidente Dilma Rousseff fez uma rápida menção à eleição norte-americana ao citar a parceria Governo Aberto, entre Brasil e Estados Unidos, durante a abertura da Conferência Internacional Anticorrupção, em Brasília.
"Aproveito a oportunidade para cumprimentar o povo americano e o presidente Barack Obama por sua eleição", disse Dilma em seu discurso.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que teve uma relação tensa com o presidente dos Estados Unidos nos últimos quatro anos, prometeu colaborar com Obama para "garantir os interesses que são vitais para a segurança dos cidadãos de Israel".
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, disse que, passada a eleição norte-americana, a Grã-Bretanha e os Estados Unidos devem priorizar a busca por uma solução na guerra civil da Síria.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, cumprimentou Obama pela reeleição e disse esperar que ela tenha um impacto positivo nas relações bilaterais.
No Oriente Médio, onde o governo Obama adotou uma atitude cautelosa diante das turbulências da Primavera Árabe, a reeleição de Obama foi recebida mais com alívio do que com alegria. Uma mensagem escrita no Twitter pelo influente clérigo saudita Salman al-Oudah resumiu a reação do mundo árabe: "Obama não é bom, mas é o menos mau".