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O que PT e PSDB têm a aprender com a guerra política nos EUA

Especialistas dizem que há momentos em que os interesses da nação devem se sobrepor ao jogo político

Congresso dos Estados Unidos: radicalismo dos partidos suplantou os interesses da nação (Getty Images)

Congresso dos Estados Unidos: radicalismo dos partidos suplantou os interesses da nação (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 3 de agosto de 2011 às 08h37.

São Paulo – A batalha política entre Democratas e Republicanos em torno do teto da dívida americana traz ensinamentos sobre o que se deve fazer (e principalmente sobre o que não se deve fazer) num jogo político.

O radicalismo do Tea Party – a extrema direita do Partido Republicano – praticamente inviabilizou as negociações desde o começo. No final das contas, o acordo não foi o ideal para nenhum lado e ainda contou com um recuo do presidente Barack Obama.

“Houve uma radicalização enorme na política americana, que cresce desde 2000. O endividamento dos Estados Unidos é seríssimo e não pode ser colocado no jogo eleitoral. Foi uma irresponsabilidade total”, diz Carlos Melo, cientista político e professor do Insper.

Opinião semelhante tem o cientista político e vice-presidentre da Arko Advice, Cristiano Noronha. “Houve muito oportunismo dos Republicanos e dos Democratas. Quando está em jogo uma disputa por poder (eleições presidenciais de 2012), o que se vê é muito discurso vazio, inclusive nos Estados Unidos, que são considerados um exemplo de democracia.”

No Brasil, o PT e o PSDB (os dois partidos que polarizaram a disputa nas últimas eleições) também vivem os seus momentos de radicalismo, mas nada parecido com o Tea Party, na avaliação dos especialistas ouvidos por EXAME.com.

Cristiano Noronha lembra que, em 1994, o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva atacou o recém-criado Plano Real, dizendo que era mais um pacote eleitoreiro que fracassaria após as eleições. “A oposição torcia para o plano dar errado”, diz Noronha.


Na eleição do ano passado, o debate pegou fogo na questão do aborto. “Isso não agrega muito. É, na verdade, um sintoma de instabilidade do sistema político, quando o centro perde o sentido e as polaridades, os opostos, acabam assumindo preponderência nessa cena política”, avalia Carlos Melo.

O vice-presidente da Arko Advice diz que a maturidade não é regra entre os partidos brasileiros. “A oposição (PSDB e DEM) faz inúmeros requerimentos para adiar a votação de Medidas Provisórias. O objetivo não é discutir o tema, mas simplesmente obstruir a pauta.”

Outro exemplo de má atuação da oposição, que vale tanto para o PT no governo Fernando Henrique Cardoso, quanto para o PSDB nos últimos nove anos, são os inúmeros pedidos de CPI. “Acaba sendo a vulgarização de um instrumento importante porque para tudo é solicitada uma CPI”, diz o professor do Insper.

A grande lição que fica do embate político entre Republicanos e Democratas, na avaliação dos especialistas, é que há momentos em que as prioridades da nação devem se sobrepor ao jogo político.

“Os interesses do país estão acima de qualquer disputa política”, afirma Cristiano Noronha. Complementa Carlos Melo: “Max Weber (sociólogo alemão) nos ensina a ética da convicção e a ética da responsabilidade. Ética da convicção é você defender os seus princípios até o fim, mas a ética da responsabilidade é você pesar as consequências disso. Ao político, é necessária a ética da responsabilidade, que faltou nos Estados Unidos.”

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