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O que disse Biden após Talibã avançar sobre o Afeganistão

Em comunicado pouco antes de o Talibã retomar o controle de Cabul, Biden criticou acordo feito por Trump e disse que "enfrentou uma escolha"

Joe Biden: presidente americano tem sido criticado por rápido avanço do Talibã (Sipa USA/Reuters)

Joe Biden: presidente americano tem sido criticado por rápido avanço do Talibã (Sipa USA/Reuters)

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Carolina Riveira

Publicado em 15 de agosto de 2021 às 17h51.

Última atualização em 16 de agosto de 2021 às 13h15.

O avanço rápido do Talibã no Afeganistão fez o governo dos Estados Unidos sofrer uma enxurrada de críticas pelo que tem sido visto como uma transição desorganizada para o fim da presença americana no país.

Quando ficou claro que o Talibã tomaria a capital do Afeganistão, Cabul, o que ocorreu ao longo deste domingo, 15, o presidente americano, Joe Biden, divulgou um comunicado afirmando que não teve escolha além de retirar as tropas (leia abaixo o comunicado completo).

Após uma invasão dos EUA em 2001 que tirou o Talibã do poder por 20 anos, o grupo voltou a tomar a capital do Afeganistão e o presidente Ashraf Ghani fugiu do país.

Na nota, divulgada na noite de sábado, 14, Biden se defendeu das acusações e disse que não havia mais o que os americanos pudessem fazer.

"Ao longo dos 20 anos de guerra do nosso país no Afeganistão, os Estados Unidos enviaram seus melhores jovens, investiram quase 1 trilhão de dólares", disse.

Longo histórico

A guerra, iniciada por George W. Bush, foi continuada também pelos sucessores Barack Obama (democrata, do qual Biden foi vice em dois mandatos) e Donald Trump (republicano).

"Fui o quarto presidente a presidir a presença de tropas americanas no Afeganistão - foram dois republicanos e dois democratas. Eu não iria, e não irei, entregar esta guerra para um quinto", disse Biden.

Os EUA invadiram o Afeganistão em 2001, após o 11 de setembro, acusando o país, controlado então pelo Talibã, de estar escondendo o terrorista Osama Bin-Laden, da organização terrorista Al Qaeda.

Desde então, o governo afegão conseguiu retomar parte do país com o apoio das forças armadas americanas, mas o Talibã nunca deixou de ser uma ameaça e a guerra nunca foi de fato vencida, diferente do que os EUA imaginavam.

Sucessivos governos americanos vinham sendo pressionados pela população a encerrar a "guerra sem fim" no Afeganistão.

Críticos à estratégia americana no país, no entanto, ressaltam também que o Talibã foi parcialmente criado pelo próprio governo dos EUA durante a invasão soviética do Afeganistão (1979-1989).

Ao lado do governo do Paquistão, aliado americano, os EUA armaram parte do que viriam a ser os membros do Talibã para enfrentar os soviéticos, em um cenário de Guerra Fria. A política foi autorizada na gestão do democrata Jimmy Carter e cresceu sobretudo com o republicano Ronald Reagan

Acordos de Trump

No comunicado divulgado no sábado pela Casa Branca, Biden também criticou o acordo firmado em 2019 pelo antecessor, o republicano Donald Trump.

Trump concordou com um prazo de 1º de maio deste ano para que os EUA retirassem as tropas do país, e Biden diz que o acordo fortaleceu o Talibã e o deixou de mãos atadas quando seu mandato começou, em janeiro deste ano.

A saída do Afeganistão é apoiada por mais de 70% da população americana, devido aos altos custos do conflito para os cofres públicos e desejo da população de que os governos priorizem problemas dentro dos EUA.

Por outro lado, analistas de segurança temem que o retorno do Talibã ao governo possa trazer novas ameaças à segurança dos EUA.


Leia a nota completa de Biden

"Comunicado do presidente Joe Biden sobre o Afeganistão"

Nos últimos dias, estive em contato próximo com minha equipe de segurança nacional para orientá-los sobre como proteger nossos interesses e valores ao encerrarmos nossa missão militar no Afeganistão.

Em primeiro lugar, com base nas recomendações de nossas equipes diplomáticas, militares e de inteligência, autorizei o envio de aproximadamente 5.000 soldados dos EUA para garantir que possamos ter uma retirada ordenada e segura do pessoal dos EUA e de outros aliados, além de uma evacuação ordenada e segura dos afegãos que ajudaram nossas tropas durante nossa missão e daqueles que correm risco especial com o avanço do Talibã.

Em segundo lugar, ordenei às nossas Forças Armadas e à nossa Comunidade de Inteligência que garantam que manteremos a capacidade e a vigilância para enfrentar futuras ameaças terroristas do Afeganistão.

Terceiro, instruí o Secretário de Estado a apoiar o presidente Ghani e outros líderes afegãos em sua busca por evitar mais derramamento de sangue e buscar um acordo político. O secretário Blinken também se envolverá com as principais partes interessadas na região.

Quarto, comunicamos aos representantes do Talibã em Doha, por meio de nosso Comandante Combatente, que qualquer ação de sua parte no Afeganistão que coloque pessoal dos EUA ou nossa missão em risco, será enfrentada por militares americanos com uma resposta rápida e forte.

Quinto, coloquei a embaixadora Tracey Jacobson no comando de um esforço de todo o governo para processar, transportar e realocar os candidatos ao visto especial de imigrante afegão e outros aliados afegãos. Nossos corações estão com os bravos homens e mulheres afegãos que agora estão em risco. Estamos trabalhando para evacuar milhares de pessoas que ajudaram nossa causa e suas famílias.

É isso o que vamos fazer. Agora, deixe-me ser claro sobre como chegamos aqui.

Os Estados Unidos foram ao Afeganistão há 20 anos para derrotar as forças que atacaram este país em 11 de setembro. Essa missão resultou na morte de Osama bin Laden há mais de uma década e na degradação da Al Qaeda. E, no entanto, 10 anos depois, quando me tornei presidente, um pequeno número de soldados americanos ainda permanecia em solo, em perigo, com um prazo iminente ou para retirá-los, ou para voltar ao combate aberto.

Ao longo dos 20 anos de guerra do nosso país no Afeganistão, os Estados Unidos enviaram seus melhores jovens, investiram quase US $ 1 trilhão de dólares, treinaram mais de 300.000 soldados e policiais afegãos, equiparam-nos com equipamento militar de última geração e mantiveram seus Força Aérea como parte da guerra mais longa da história dos Estados Unidos.

Mais um ano, ou mais cinco anos, de presença militar dos EUA não teria feito diferença se os militares afegãos não pudessem ou não quisessem manter seu próprio país. E uma presença americana sem fim no meio do conflito civil de outro país não era aceitável para mim.

Quando cheguei ao cargo, herdei um acordo feito por meu antecessor - que convidou o Taleban para discutir em Camp David na véspera de 11 de setembro de 2019 -, que deixou o Taleban na posição militar mais forte desde 2001 e impôs um prazo de 1º de maio de 2021 para as Forças dos EUA.

Pouco antes de deixar o cargo, ele também reduziu as Forças dos EUA a um mínimo de 2.500. Portanto, quando me tornei presidente, enfrentei uma escolha - cumprir o acordo, com uma breve extensão para retirar nossas Forças e as Forças de nossos aliados com segurança, ou aumentar nossa presença e enviar mais tropas americanas para lutar novamente no conflito civil de outro país.

Fui o quarto presidente a presidir a presença de tropas americanas no Afeganistão - foram dois republicanos e dois democratas. Eu não iria, e não irei, entregar esta guerra para um quinto.

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