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O medo toma conta de Damasco na véspera do início do Ramadã

Mês de jejum muçulmano, o Ramadã é também a oportunidade de fazer as refeições em família e do frenesi das compras

Imagem do Youtube mostra um incêndio num prédio do distrito de Al-Hajar al-Aswad, em Damasco: clima de tensão para o Ramadã, que começa na sexta-feira (AFP)

Imagem do Youtube mostra um incêndio num prédio do distrito de Al-Hajar al-Aswad, em Damasco: clima de tensão para o Ramadã, que começa na sexta-feira (AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 19 de julho de 2012 às 20h29.

Damasco - Pela primeira vez em décadas, o Ramadã que começa nesta sexta-feira será sombrio em Damasco. O medo tomou conta da capital da Síria, palco de combates sem precedentes e de um atentado inédito que atingiu o coração do aparato de segurança.

"Há um clima tenso, as pessoas estão com medo, elas pensam que, depois do atentado, tudo pode acontecer", comenta um vendedor ambulante do bairro outrora turístico de Bab Touma, no centro da cidade.

O pânico é tão grande que "as pessoas têm reações desproporcionais ao menor incidente", segundo ele.

Na quarta-feira após o atentado, "um simples acidente de trânsito deixou as pessoas apavoradas em Bab Touma e todos começaram a correr para todos os lados para fugir", afirma o vendedor.

O mesmo ambiente pode ser notado no bairro vizinho de Qassaa. "As pessoas fecharam suas lojas após o atentado", diz Nidal, um alfaiate.

"O atentado de ontem teve um impacto na vida da capital, as pessoas ficaram mais inquietas", considera um comerciante, que pediu para não ser identificado.

Mês de jejum muçulmano, o Ramadã é também a oportunidade de fazer as refeições em família e do frenesi das compras.

No entanto, mais de 16 meses após o início da revolta, a batalha é travada no coração da capital, mesmo que sem o nível da violência que sacode o restante da Síria.


Na quarta-feira, um atentado inédito matou o ministro da Defesa Daoud Rajha, seu vice Assef Shawkat, assim como o cunhado do presidente Bashar al-Assad, e o general Hassan Turkmani, chefe da célula de crise estabelecida pelo regime para esmagar a revolta.

"Que Ramadã? A situação é grave, os combates se desenvolvem no coração da capital", lança um vendedor de roupas no bairro comercial de Salhié.

"Não existe Ramadã para mim este ano. Meus três irmãos estão presos", afirma Amer, motorista de táxi.

Rahaf, mãe de família, também tem "a sensação de que este Ramadã será diferente dos outros".

"A vida está cada vez mais difícil, não podemos ficar até tarde na rua, não haverá noite" após a ruptura do jejum ao pôr do sol, lamenta ela.

Sua filha Neemat acrescenta: "na terça-feira, eu senti medo pela primeira vez, as ruas estavam vazias antes do início da noite, as lojas estavam fechadas. É triste".

Os combates, iniciados na terça-feira na capital, são travados em vários bairros, principalmente em Midan, não muito longe do centro da cidade histórica, frequentado normalmente pela população por seus restaurantes.

Há medo em toda a capital, a vida parece ter parado. "Aqui sentimos o cheiro de sangue", comenta um morador.

"Vivemos com medo", afirma uma outra moradora de Mazzé, bairro do oeste da capital. "Não podemos fugir por causa dos ataques e temos medo de ficar aqui".

"É preciso salvar a capital, veja toda a destruição nas outras cidade", diz Bashar, cabeleireiro.


Em Salhié e Chaalane, quase todas as lojas estão fechadas nesta quinta-feira. Os vendedores de frutas não trabalham devido à falta de mercadorias.

Muitas ruas de Damasco estão bloqueadas e as pessoas dão grandes voltas para chegar ao trabalho, enquanto os táxis são raros.

Um enfermeiro de um grande hospital de Doummar, perto de Damasco, afirma que "só um quarto dos funcionários conseguiram chegar", as estradas e as ruas estão bloqueadas pelas patrulhas de agentes de segurança e de soldados.

Samir, que mora em Jaramana, subúrbio de Damasco, tomou uma decisão: "Vou enviar meus dois filhos e minha esposa para Tartous (sul), longe das violências".

Ele disse que os habitantes de Jaramana abriram as escolas para acolher os deslocados internos nas regiões vizinhas e pedidos de ajuda foram lançados pelas mesquitas.

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