Bichinhos: trânsito de animais como problema do Brexit foi primeiro levantado por primeiro-ministro de Malta (Dixi_/Thinkstock)
EFE
Publicado em 31 de março de 2017 às 07h55.
Última atualização em 31 de março de 2017 às 09h24.
Bruxelas - A liberdade de movimento dos 250 mil cães e gatos que a cada ano transitam entre o Reino Unido e a União Europeia (UE) é um dos temas ganharam discussão popular devido ao "Brexit", embora seja abordado com certa ironia em Bruxelas para ilustrar o quão arrevesada será a negociação entre o governo britânico e os dos 27 países do bloco comunitário.
"Obviamente, o destino da livre mobilidade dos cachorros e gatos, e outros aspectos, é da maior importância. Não só para a Comissão Europeia, mas para a União Europeia em geral. E diria, inclusive, que globalmente", afirmou nesta quinta-feira o porta-voz do Executivo comunitário, Alexander Winterstein.
O porta-voz deu a declaração da sala de imprensa, em tom jocoso e respondendo a uma pergunta de um jornalista britânico da "Euractiv", parceira da Agência Efe, que se interessou por saber quão prioritário é o status dos animais de estimação britânicos no marco da negociação de divórcio entre Londres e Bruxelas.
Embora não deixe de ser uma lembrança menor, a mobilidade das mascotes é o símbolo utilizado pelo negociador do "Brexit" da Comissão Europeia, o ex-ministro francês Michel Barnier, para sintetizar a complexidade do cenário no qual o Reino Unido e a União Europeia estarão imersos durante os próximos 24 meses.
O primeiro a lançar a debate público essa "estatística muito interessante" foi o primeiro-ministro de Malta, país que neste semestre exerce a presidência rotativa da UE, Joseph Muscat.
"Por exemplo, Michel (Barnier) me perguntou: 'Sabe quanto cachorros e gatos passam de Dover (Reino Unido) a Calais (França) com o passaporte para animais de estimação?' Ele falou que são 250.000 e para isto também temos que encontrar uma solução", comentou o político maltês em Valletta, durante o congresso do Partido Popular Europeu (PPE).
Atualmente, cachorros, gatos e furões podem movimentar-se livremente pela União Europeia, sempre que estejam acompanhados de seus donos e estejam devidamente providos de um passaporte para animais de estimação, um sistema iniciado pelo Reino Unido, onde a raiva foi erradicada há anos, e que a UE adotou em seu conjunto em 2012.
O passaporte para animais de estimação interessa, por exemplo, à Espanha, onde vivem 308.820 britânicos e que em 2016 recebeu 17,8 milhões de turistas do Reino Unido, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), muitos deles com suas mascotes.
Por outro lado, cerca de 200 mil espanhóis residem atualmente em território britânico, portanto, para os cidadãos de um e outro lado do Canal da Mancha este é um dos aspectos que devem ser solucionados por ambas partes na negociação.
Ainda não está claro como se desenvolverá a negociação, uma vez que, enquanto Londres quer pactuar em paralelo o acordo de saída e a futura relação entre a UE e o Reino Unido, a chanceler alemã, Angela Merkel, afirmou anteontem que primeiro será preciso concluir a separação e depois definir as novas regras de jogo.
Nesta sexta-feira, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, enviará aos 27 países do bloco uma minuta com as diretrizes de negociação com o Reino Unido. E os líderes da UE, sem Londres, definirão sua postura no próximo dia 29 de abril em reunião extraordinária em Bruxelas.
A partir daí, Barnier começará o rodízio de negociações mais complexas da história da UE e que, em algum momento, afetará também o destino de cachorros, gatos e furões britânicos e europeus.