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O futebol, uma via de libertação para as jovens no Quênia

Academia de futebol educa cerca de cem meninas e jovens com dificuldades econômicas, em uma tentativa de favorecer a liberdade feminina no Quênia

Menina estuda na KGSA: entidade conta hoje com mais de 100 meninas de regiões carentes. Lá, elas estudam e aprendem a jogar futebol (KGSA/Divulgação/Facebook)

Menina estuda na KGSA: entidade conta hoje com mais de 100 meninas de regiões carentes. Lá, elas estudam e aprendem a jogar futebol (KGSA/Divulgação/Facebook)

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Da Redação

Publicado em 23 de novembro de 2014 às 08h35.

Nairóbi - Enquanto aprendem a driblar, bater um pênalti ou fazer uma bela jogada, as jovens da Academia de Futebol em Kibera, o bairro onde fica a maior favela de Nairóbi (Quênia), se mantêm afastadas de um destino que é compartilhado por muitas meninas como elas: a gravidez e o casamento prematuro.

A Academia de Futebol para Meninas de Kibera (KGSA, na sigla em inglês) educa desde 2002 cerca de cem meninas e jovens destas favelas e com dificuldades econômicas, em uma tentativa de favorecer a liberdade feminina no Quênia.

O futebol em Kibera é muito mais do que um jogo. A KGSA se transforma em uma oportunidade para que as meninas de 12 a 18 anos, que estudam durante a manhã e jogam à tarde, aprendam a importância da disciplina, do diálogo e do trabalho em equipe.

'Quando uma menina pratica futebol, está ocupada com o treino, não tem tempo para ficar grávida ou coisas piores', explicou à Agência Efe Richard Teka, coordenador da KGSA.

A KGSA luta contra as 'extremas desigualdades de gênero' enfrentadas por estas jovens em Kibera, dando a elas ferramentas para 'conseguir o respeito dos homens'.

'Muitos homens desprezam as mulheres. Os homens gostam de futebol e se veem uma menina jogando este esporte, ganham seu respeito', afirmou.

Nos campos de terra que esta organização aluga, muitas destas meninas encontram sua oportunidade no futebol, dedicando-se a ser treinadoras ou viajando ao redor do mundo como representantes das ligas africanas.

Este projeto começou há 12 anos com Abdul Kassim, que foi criado em Kibera por sua avó e sua mãe adolescente. Nesse momento, não havia no Quênia muitas equipes femininas, por isso que as jovens da escola tinham que jogar contra outras meninas da capital queniana.

Mas muitas delas continuavam ficando prematuramente grávidas e se casando para manter os filhos, sem avançar em torneios maiores ou chegar à universidade.

Segundo Teka, isto ocorria porque, em geral, os pais destas jovens dos bairros de classe baixa não podiam pagar a universidade depois da educação básica.

Além disso, explicou, muitos pais entregam suas filhas a homens do bairro, para prostituí-las ou para casá-las, por causa da necessidade. Para evitar isso, a escola oferece pelo menos uma refeição por dia.

Nas palavras de Teka, o futebol pode dar segurança e respeito entre os homens, embora elas também tenham que encontrar seu lugar no mundo, um trabalho e cuidar de sua família. 'Para isso necessitam de educação', disse.

As meninas são tanto muçulmanas como cristãs, mas a única diferença entre elas são os lenços negros que cobrem as cabeças de umas e os joelhos descobertos debaixo das saias de outras, o que não as impede de jogar futebol ou vôlei.

Assim, no pátio da escola, a bola bate nos telhados e paredes das típicas casas de Kibera, em partidas nas quais também participam os professores e que terminam ao anoitecer.

'Esta associação se mantém viva graças a doações privadas, já que não recebem nenhum tipo de ajuda do Governo queniano', lamentou Teka.

De fato, neste mês muitos professores não receberam salário e estão à espera de uma nova doação que mantenha a escola.

Entre as alunas da KGSA está Immaculate Wanders, de 17 anos, filha de mãe solteira (como cerca de 10% de suas companheiras) e com quatro irmãos em casa.

Wanders gosta de futebol, mas sobretudo quer ser jornalista. Por isso, conta emocionada, a escola lhe permitirá, se passar nas provas, entrar na universidade.

Além do futebol e das aulas, as jovens se organizam em oficinas às quais acodem profissionais para oferecer sua experiência.

Segundo Teka, educar mulheres não só repercute na vida destas, mas também na comunidade.

'As mulheres são menos egoístas, compartilham o que têm, e além disso são as que no final ajudam a família, enquanto o homem, se não tem trabalho, fica bebendo em um bar', afirmou. 

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