O estado das eleições acirradas mostra que Trump perdeu votos por covid-19
Em pesquisa exclusiva Exame/IDEIA na Carolina do Norte, Biden tem ligeira vantagem. E alguns eleitores mudaram de ideia após a doença do presidente
Carolina Riveira
Publicado em 9 de outubro de 2020 às 13h06.
Última atualização em 9 de outubro de 2020 às 20h19.
Os pouco mais de 10 milhões de habitantes de um estado na costa leste americana, a Carolina do Norte, mostram duas coisas sobre a eleição americana em 2020. Primeiro, o quanto o embate está polarizado e há poucos eleitores restantes para conquistar. E, segundo, os potenciais impactos da doença do presidenteDonald Trump nesta reta final de eleição.
Uma pesquisa exclusiva Exame/IDEIA feita com eleitores da Carolina do Norte após o diagnóstico de covid-19 de Trump mostra o democrata Joe Biden liderando com dois pontos de vantagem, com 49%, contra 47% de Trump.
A vantagem é pequena, mas o espaço para ganhar novos eleitores, também. O número de indecisos da Carolina do Norte está entre os menores do país, só 4% dos eleitores, ante uma média de pouco mais de 10% nacionalmente (e que já é um número pequeno).
A pesquisa foi feita com eleitores da Carolina do Norte pelo Exame/IDEIA,que une EXAME Research , braço de análise de investimentos da EXAME, e o IDEIA, instituto de pesquisa especializado em opinião pública. Foram ouvidas1.200 eleitores por telefone e a margem de erro é de 3,35 pontos percentuais.
Dentre os eleitores que ouviram falar que Trump pegou covid-19, houve um movimento: para 5% deles, a doença do presidente os fez mudar de votos.
O problema, para Trump, é que todos esses novos votos foram para Biden, segundo a pesquisa. E, dos que disseram que mudaram o voto, além de uma maioria de eleitores independentes, 2% era eleitor de Trump e mesmo assim mudou de ideia por causa do novo episódio do presidente.
Trump foi diagnosticado na última sexta-feira, 2, e passou três dias no hospital, chegando a precisar de oxigênio por falta de ar. O presidente fez uso de um novo tratamento, com anticorpos, e que ainda não foi aprovado nos EUA.
Para Mauricio Moura, fundador do IDEIA e pesquisador na Universidade George Washington, o comportamento de Trump nos últimos dias pode não ter ajudado a conquistar novos eleitores. Ao sair do hospital, o presidente minimizou a pandemia e disse que os eleitores não deveriam se preocupar com ela.
"Esses que mudaram de ideia parecem poucos, mas são milhares de votos, o que pode ser decisivo em um estado com votação tão apertada quanto a Carolina do Norte", disse, ao apresentar os resultados da pesquisa no podcast EXAME POLÍTICA -- temporada Eleições Americanas, que tem um novo episódio todas as sextas-feiras ( ouça o episódio completo no fim da página )
Todas as últimas eleições na Carolina do Norte foram acirradas. Em 2016, Trump venceu com vantagem de só 3,6 pontos. Em 2012, o ex-presidente Barack Obama ganhou a eleição, mas perdeu na Carolina do Norte para o republicano Mitt Romney por 2 pontos.
Em 2008, Obama venceu, daquela vez o senador John McCain, por incríveis 0,3 ponto percentual, o equivalente a cerca de 14.000 votos, uma parcela muito pequena dos cerca de 5 milhões de eleitores do estado. "Cada voto vale na Carolina do Norte", diz Moura.
Como vem acontecendo em outros estados decisivos, Biden está muito à frente de Trump na Carolina do Norte entre os eleitores latinos (65% a 30%) e negros (70% a 22%). Entre os brancos, Trump vence (50% a 44%), mas com uma margem menor e um percentual maior que a média de indecisos.
Outras pesquisas nacionais feitas nos Estados Unidos na última semana mostram Biden ampliando a vantagem nacionalmente e em estados decisivos -- embora, nestes lugares, que contam para o colégio eleitoral americano, a disputa esteja mais apertada, assim como na Carolina do Norte. Na média das pesquisas compilada pelo Real Clear Politics, Biden foi de sete para nove pontos de vantagem nacionalmente contra Trump na última semana.
As eleições americanas estão marcadas para 3 de novembro, mas milhões de eleitores já começaram a ir às urnas antecipadamente ou a votar pelo correio. Se confirmadas as projeções, o comparecimento deve ser o maior em um século, desde 1908.