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O ambicioso plano da China para acabar com as enchentes

Após enchentes deixarem 230 cidades submersas, a China inaugurou um programa para acabar com esses desastres e tornar os seus centros urbanos mais verdes

Enchentes na China em 2013: governo anunciou programa para acabar com as enchentes após 230 cidades ficaram debaixo d'água em 2013 (Tao Zhang / Correspondente/Getty Images)

Enchentes na China em 2013: governo anunciou programa para acabar com as enchentes após 230 cidades ficaram debaixo d'água em 2013 (Tao Zhang / Correspondente/Getty Images)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 10 de fevereiro de 2020 às 15h29.

Última atualização em 10 de fevereiro de 2020 às 15h31.

São Paulo - A China é um país de números superlativos. Não à toa, quando enchentes acontecem, os danos são gigantescos. O problema é que esse tipo de desastre é frequente no país. Em 1931, por exemplo, o rio Yangtze transbordou, matando 300 mil pessoas. Em outro episódio, em 1998, esse mesmo rio ultrapassou de novo o seu nível normal, desalojando 15 milhões de pessoas em enchentes que duraram quatro meses.

O tema é urgente no país: segundo um estudo de 2017, produzido por engenheiros do Centro de Pesquisas de Recursos Hídricos da China, de 654 cidades, 641 estão expostas aos riscos de enchentes frequentes. Para lidar com esse problema, agravado pela urbanização desenfreada, era preciso um plano ambicioso, como geralmente são os projetos de infraestrutura da China.

Em 2013, portanto, quando 230 cidades ficaram debaixo d’água, o presidente Xi Jinping anunciou um projeto piloto que seria implementado em 16 cidades que tem como objetivo revolucionar a gestão da água das chuvas. Entre elas, Xangai, Wuhan e Chongqing.

Apelidados de “cidades esponja”, esses lugares receberam a meta de fazer com que 80% da sua área urbana seja capaz de reutilizar 70% da água da chuva até 2020. Segundo a rede de notícias CNN, até agora, 12 bilhões de dólares foram gastos nesses projetos. Entre 15% e 20% do investimento é bancado pelo governo central, enquanto o restante é dividido entre administração local e a iniciativa privada por meio de parcerias público-privadas (PPPs).

A ideia é a de que essas cidades executem projetos em espaços públicos, escolas, áreas residenciais de modo que a cidade consiga absorver a água da chuva. Isso inclui investimentos em pavimentos permeáveis, lagos artificiais, estruturas capazes de redirecionar o fluxo dessa água para tanques e túneis, bem como sua purificação para uso em tempos de seca. Na ocasião de um alto volume de precipitação, a água capturada só é devolvida aos rios depois de os níveis dos leitos voltarem ao normal.

Em Chongqing, por exemplo, a Suez North America, companhia americana que presta serviços de gestão água, fechou um contrato para fornecer sensores para o monitoramento dos níveis de de esgoto e água da chuva. Instalados ao sistema de drenagem urbana, explicou a empresa, tais sensores captam e geram dados em tempo real, permitindo que as autoridades consigam agir com rapidez para mitigar os riscos de enchente.

Especialistas avaliam que o programa é uma boa notícia, mas notam que seus efeitos na contenção das enchentes e em outras áreas, tal qual o armazenamento e a purificação da água coletada, ainda não vieram à tona. Há, ainda, outro desafio e que são os problemas econômicos que o país está enfrentando e que podem impactar o nível de investimento necessário para obras dessa magnitude.

Apesar das críticas e desafios, o programa é um avanço importante na direção de transformar as zonas urbanas em áreas ecologicamente amigáveis. E se torna ainda mais relevante quando se lembra que, até 2050, 570 cidades costeiras do mundo vão enfrentar um aumento de 0,5 metros no nível do mar, arriscando a vida de 800 milhões de pessoas.

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