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Novo mandato de Putin será marcado pelas tensões com o Ocidente

Putin ficará no poder até 2024 caso ganhe a eleição presidencial russa no dia 18 março

Putin tem 70% das intenções de votos nas pesquisas. O segundo colocado, o comunista Pável Grudinin, aparece com apenas 7,8% (Sergei Karpukhin/Reuters)

Putin tem 70% das intenções de votos nas pesquisas. O segundo colocado, o comunista Pável Grudinin, aparece com apenas 7,8% (Sergei Karpukhin/Reuters)

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AFP

Publicado em 12 de março de 2018 às 11h39.

Ao ameaçar os Estados Unidos com uma resposta imediata em caso de ataque nuclear, o presidente russo Vladimir Putin, que tem o quarto mandato praticamente assegurado na eleição de 18 de março, deixou claro que a era de tensões com o Ocidente está longe do fim.

Exceto no caso de uma gigantesca surpresa, o ex-agente da KGB vencerá a eleição presidencial de 18 março, o que vai garantir sua permanência no poder até 2024. A campanha eleitoral foi inócua dentro do país, mas foi marcada por embates diplomáticos entre Moscou e as potências ocidentais.

O site Gazeta.ru citou uma "nova 'Guerra Fria'".

No início de março, Vladimir Putin, 65 anos, elogiou as novas armas da Rússia em um discurso marcado por uma forte retórica militar, e um dos mais belicosos que pronunciou em 18 anos de poder.

Se a Rússia ou um de seus aliados for atacado com armas nucleares, "nossa resposta será imediata", afirmou ao apresentar as novas armas russas, que chamou de "invencíveis".

No dia 7 de fevereiro, Washington anunciou que matou quase 100 combatentes pró-regime na Síria, incluindo vários mercenários russos. Moscou admitiu que cinco cidadãos do país morreram, mas que não pertenciam ao exército russo.

Alguns viram no incidente um inédito confronto direto entre forças americanas e russas, no momento em que a relação entre Moscou e Washington está em seu pior nível, envenenada pelas suspeitas de interferência russa na eleição presidencial dos Estados Unidos em 2016.

Putin negou as acusações em uma entrevista na semana passada ao canal americano NBC. Ele desmentiu qualquer envolvimento da Rússia na eleição de Donald Trump em 2016.

No dia 6 de março, a tensão com o Ocidente voltou a disparar quando o ex-espião russo Serguei Skripal, de 66 anos, e sua filha Yulia, 33, ficaram entre a vida e a morte pela administração de um agente neurotóxico. Os dois foram encontrados inconscientes em um banco nas ruas de Salisbury, sul da Inglaterra.

Todos os olhares se voltaram para a Rússia, mas Moscou negou estar por trás do ataque e denunciou uma campanha contra o país.

"As relações entre Rússia e Ocidente estão no nível mais tóxico desde o fim da Segunda Guerra Mundial e o caso Skripal pode afetá-las ainda mais", afirmou o Gazeta.ru.

Quatro anos de Crimeia

O cenário é positivo para o candidato Putin. A imagem de uma Rússia perseguida, e acusada de todos os males pelo Ocidente, é um fator que estimula os eleitores a votarem nele.

E isto apesar da queda no nível de vida durante o último mandato de Putin, marcado por uma recessão econômica.

Em seu último discurso no Parlamento, o presidente russo prometeu medidas para lutar contra a pobreza.

"Mas as promessas de campanha são vãs e inúteis" recorda Andrei Kolesnikov, analista do centro Carnegie em Moscou.

Putin, com 70% das intenções de votos nas pesquisas, supera com folga todos os rivais. O segundo colocado, o comunista Pável Grudinin, aparece com apenas 7,8%.

Além disso, a popularidade de Putin disparou com a anexação da península ucraniana da Crimeia em 18 de março de 2014.

O quarto aniversário da anexação será celebrado no dia da eleição presidencial.

Tirania da maioria

O principal opositor de Putin, Alexei Navalny, declarado inelegível pela justiça até 2024, pediu um boicote à eleição.

Apesar dos esforços de Navalny, as pesquisas apontam um índice de participação de 60%, o que garantiria a Putin a legitimidade buscada.

Isto poderia estimular o governo a propor uma série de leis que limitem ainda mais as liberdades civis, afetando cada vez mais a imprensa e a oposição, segundo os críticos do Kremlin.

"Uma tirania da maioria está começando a emergir" afirma Kolesnikov.

"O país continua unido por trás dos habituais valores antiocidentais, isolacionistas e conservadores", completa.

 

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