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As cicatrizes nucleares 30 anos após o inferno de Chernobyl

Trinta anos após o pior desastre nuclear da história, na antiga União Soviética, o cenário permanece pós-apocalíptico e os custos humanos impagáveis

Memória: retratos dos trabalhadores de emergência expostos em cerimônia pelos 30 anos do desastre de Chernobyl. (REUTERS / Gleb Garanich)

Memória: retratos dos trabalhadores de emergência expostos em cerimônia pelos 30 anos do desastre de Chernobyl. (REUTERS / Gleb Garanich)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 26 de abril de 2016 às 15h29.

Última atualização em 19 de novembro de 2017 às 08h43.

São Paulo - A pior catástrofe nuclear da história completa 30 anos nesta terça-feira. Na madrugada de 26 de abril de 1986, uma série de explosões na usina de Chernobyl, na cidade de Pripyat, antiga República Socialista Soviética da Ucrânia, lançou na atmosfera um volume de partículas radioativas 100 vezes maior que o liberado pela bomba atômica de Hiroshima, no Japão, após a Segunda Guerra Mundial. A nuvem tóxica matou centenas de pessoas, deslocou milhares de outras e transformou a área no centro da Europa em um lugar absolutamente hostil à vida.

Trinta anos após o inferno de Chernobyl, o cenário permanece pós-apocalíptico e os custos humanos impagáveis. Estimativas apontam que cerca de 200.000 km² de terra foram contaminados e, ainda hoje, o número de vítimas permanece conflitante, já que é difícil calcular exatamente quantos foram os afetados a longo prazo pela radiação.

Um relatório da ONU, lançado em 2005, estimou em 4 mil o número de pessoas mortas "provavelmente de câncer" na Bielorrússia, Ucrânia e Rússia. Mas estudos recentes multiplicam por 10 os registros de óbitos e apontam centenas de anomalias relacionadas à tragédia nuclear.

Cicatrizes: máscara de gás infantil é vista em um jardim de infância em Pripyat, perto da usina nuclear de Chernobyl. (REUTERS/Gleb Garanich)

Pripyat, que foi construída para servir de moradia para trabalhadores da usina de Chernobyl, hoje não passa de uma cidade fantasma. Em pesquisa recente, o grupo ambientalista Greenpeace alertou que as pessoas que vivem nas áreas afetadas próximas à zona de exclusão ainda têm contato diário com níveis de radiação ameaçadoramente elevados e continuam a consumir alimentos e bebidas com níveis de radiação perigosamente altos.

REUTERS / Gleb Garanich

Fantasma: vista da cidade abandonada de Pripyat perto da usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia. ( (REUTERS/Gleb Garanich) )

De acordo com exames científicos realizados em nome da entidade, a contaminação em geral de isótopos radioativos altamente perigosos como o césio-137 e o estrôncio-90 diminuiu um pouco, mas ainda está presente, especialmente nas florestas.

REUTERS / Gleb Garanich

Passado: retrato é visto em uma casa na aldeia abandonada de Zalesye perto da usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia. ( ( (REUTERS/Gleb Garanich) ) )

Muitos outros estudos avaliam os efeitos de radiação sobre os seres humanos e a natureza nos 4.200 km² da zona de exclusão da usina de Chernobyl. Em comum, revelam que o custo humano e ambiental real da tragédia de Chernobyl nunca será conhecido.

REUTERS/Vasily Fedosenko

Residentes: Ivan Shamyanok, de 90 anos, almoça em sua casa, em Tulgovichi, perto da zona de exclusão de Chernobyl. ( ( ( (REUTERS/Gleb Garanich) ) ) )

Ainda hoje, clínicas radiológicas na Ucrânia recebem centenas de crianças para monitoramento periódico. "Todos os tipos de cânceres têm aumentado após o acidente” disse ao Le Monde um médico de uma clínica em Kiev. "E ainda não sabemos todas as consequências no nível genético para nossos filhos e netos".

Reuters

Sequelas: crianças que vivem em território contaminado fazem fisioterapia em centro de reabilitação. ( ( ( ( (REUTERS/Gleb Garanich) ) ) ) )

Algumas estimativas do governo bielorrusso calculam que o desastre custou pelo menos US$ 235 bilhões ao longo desses 30 anos, considerando os gastos com saúde, o abandono das minas e fazendas e a perda de terras agrícolas e áreas florestais.

Yermakov

Lembrança: homem posa para foto em seu antigo apartamento que foi evacuado após o desastre nuclear em Pripyat. ( ( ( ( ( (REUTERS/Gleb Garanich) ) ) ) ) )

Parte desse dinheiro foi destinado à construção do novo “sarcófago” para isolar o reator danificado da usina de número 4. As obras da imensa estrutura de concreto entraram agora na fase final e devem ser concluídas no segundo semestre de 2017.

REUTERS / Gleb Garanich / Arquivos

Sarcófago: construção da nova estrutura de confinamento do reator nuclear de Chernobyl, na Ucrânia. ( ( ( ( ( ( (REUTERS/Gleb Garanich) ) ) ) ) ) )

Felizmente, mesmo diante do legado tóxico do desastre nuclear, é possível encontrar sinais de esperança. Em estudo recente publicado na revista científica Current Biology, cientistas relatam que vida selvagem ressurge triunfante no local, que em muitos pontos se assemelha a uma reserva natural espontânea, repleta de alces, aves, veados, javalis e lobos. E eles estão absolutamente maravilhados de ver como a natureza se mostrou resiliente ao desastre.

REUTERS/Vasily Fedosenko

Triunfo: trinta anos após o desastre, a vida selvagem ressurge na zona contaminada. ( ( ( ( ( ( ( (REUTERS/Gleb Garanich) ) ) ) ) ) ) )

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