Nikki Haley, ex-governadora da Carolina do Sul em Portland, no Maine, Estados Unidos, em 3 de março de 2024 (Scott Eisen/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 6 de março de 2024 às 17h40.
Nikki Haley era o último obstáculo de Donald Trump para a indicação presidencial republicana até que, nesta quarta-feira, 6, ela depôs as armas devido às suas derrotas acachapantes nas primárias.
A desistência veio no dia seguinte da vitória esmagadora do ex-presidente (2017-2021) na chamada "Superterça", derrotando-a em 14 dos 15 estados que votaram simultaneamente.
A aspirante republicana anunciou o fim de sua campanha na Carolina do Sul, estado do sudeste do país do qual foi governadora, e disse que, a partir de agora, espera que Trump se concentre em "ganhar os votos" de quem não o apoiou.
Aos 52 anos, cansada das subidas de tom de Trump, ela jogou apostando na diferença geracional frente ao seu rival, de 77 anos, e o presidente democrata Joe Biden, de 81.
Apesar das derrotas em quase todas as primárias celebradas desde o começo do ano, repetia que tinha mais chances de vencer Biden em novembro que o ex-presidente republicano.
A ex-embaixadora de Trump na ONU prometeu restabelecer alguma "normalidade" após o "caos de Trump", que enfrenta vários processos.
Aproveitou cada momento para marcar a diferença entre ambos.
Em fevereiro, depois que seu rival manifestou surpresa por não vê-la fazendo campanha com seu marido, Michael Haley, um oficial da Guarda Nacional destacado no Djibuti, ela respondeu: está "a serviço do nosso país, algo que você não entende". Acrescentou que sua "contínua falta de respeito pelo sacrifício das famílias de militares" o fazia indigno do título de comandante em chefe.
Mas no fundo, ela defende princípios conservadores clássicos. Considera que o Estado federal está hipertrofiado, que tem uma dívida e impostos muito altos e um sistema migratório ao qual acusa de ser brando.
A ex-governadora também defende o aumento da idade de aposentadoria para os recém-chegados ao mercado de trabalho para salvar da falência os sistemas se seguridade social e de seguro médico.
Donald Trump chama sua agora ex-adversária de "globalista", em contraposição ao seu lema "America First" ("América em primeiro lugar"). O magnata ainda a acusa de querer "aumentar os impostos e de enfraquecer a Seguridade Social".
Na verdade, seus programas não possuem muitas diferenças, exceto no caso da Ucrânia, país que Nikki Haley quer seguir apoiando maciçamente contra a invasão russa lançada em 2022, enquanto Donald Trump se vangloria de poder atuar como mediador entre Kiev e Moscou.
A batalha é essencialmente de estilo.
Há meses, ele a chama de "cabeça oca". Ao que parece, ele não a perdoa por não ter cumprido a promessa de não se desafiá-lo caso fosse candidato em 2024.
Trump foi quem a nomeou para o prestigioso posto de embaixadora nas Nações Unidas no começo de seu mandato, em 2017, mesmo com a falta de experiência internacional de Haley.
Mas ela critica Donald Trump por conspirar com "ditadores" de outros países e se distanciar de aliados históricos dos Estados Unidos.
"Nosso mundo está em chamas devido à retirada americana" em nível internacional, reafirmou nesta quarta-feira.
"Se nos retirarmos ainda mais, haverá ainda mais guerras, não menos", acrescentou, em referência ao discurso isolacionista de seu adversário.
Registrada com o nome Nimarata Nikki Randhawade, esta filha de migrantes indianos de religião sikh adotou o sobrenome atual quando se casou com Michael Haley, em 1996.
Entrou na política no início da década de 2000, quando conseguiu um assento no Congresso de seu estado natal, a Carolina do Sul, mas se tornou famosa em 2010 durante sua campanha para governadora.
Após ser eleita, manteve-se à direita, com uma forte hostilidade aos sindicatos e aos impostos, assim como ao casamento homoafetivo. Também foi reticente a acolher refugiados sírios em seu estado.
Em 17 de junho de 2015, um supremacista branco entrou em uma igreja de Charleston e matou nove fiéis afro-americanos.
Haley ordenou que fosse retirada do Congresso estadual a bandeira confederada, considerada por muitos um símbolo racista da época da escravidão.