Netanyahu é criticado após promessa de anexação de partes da Cisjordânia
A promessa eleitoral de Netanyahu tenta mobilizar votos da direita nacionalista e dos quase 400 mil colonos que vivem na Cisjordânia ocupada
AFP
Publicado em 11 de setembro de 2019 às 13h37.
Última atualização em 11 de setembro de 2019 às 14h17.
A promessa do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu de anexar grande parte da Cisjordânia se tiver êxito nas eleições da próxima semana foi considerada insuficiente, retórica ou perigosa por seus adversários políticos em Israel .
Netanyahu anunciou que, se continuar liderando o governo, implementará um plano para anexar as colônias judaicas - mas não os povoados e cidades árabes - localizadas no vale do Jordão.
Na terça-feira, Netanyahu teve que interromper um comício na cidade de Ashdod, entre Tel Aviv e a Faixa de Gaza, em razão de disparos de foguetes do Hamas que ativavam as sirenes de alarme. Os foguetes foram interceptados pelo sistema antimísseis "Iron Dome" e não causaram danos.
Seu plano de anexação, anunciado a poucos dias das eleições, recebeu o apoio dos partidos de direita próximos ao seu partido, o Likud, mas seus adversários políticos o criticaram.
"Por que falar da anexação a uma semana de eleições quando o governo pode decidir a qualquer momento e aplicá-la hoje mesmo?", questionou Betzalel Smotrich, atual ministro dos Transportes e uma das figuras da lista Yamina, à direita do Likud.
"Netanyahu quer anexar votos, não o vale do Jordão (...) Foi primeiro-ministro por 13 anos, por que não fez isso até agora?", reagiu Yair Lapid, do partido centrista Azul-Branco, favorável à anexação e empatado nas pesquisas com o Likud.
Para se livrar de seus adversários, o primeiro-ministro quer mobilizar o voto da direita nacionalista e dos quase 400.000 colonos que vivem na Cisjordânia ocupada, dizem analistas.
Nos últimos meses e mesmo antes das eleições de abril - que não levaram a um governo de união, e por isso as novas eleições em setembro - Netanyahu já prometeu a anexação das colônias na Cisjordânia.
Críticas internacionais
No entanto, nesta terça-feira foi a primeira vez que ele apresentou um plano concreto de anexação, imediatamente criticado pelos palestinos e pelos líderes do mundo muçulmano.
A Jordânia, guardiã dos lugares sagrados muçulmanos em Jerusalém Oriental, alertou que esta decisão "arrastará toda a região à violência". A Turquia de uma promessa "racista".
A Arábia Saudita, que conduz uma aproximação com Israel, falou de uma "escalada perigosa" e pediu uma reunião urgente dos ministros das Relações Exteriores dos 57 membros da Organização para a Cooperação Islâmica (OCI).
"Este anúncio constitui um desenvolvimento perigoso e uma nova agressão israelense que declara sua intenção de violar o direito internacional", disseram os ministros das Relações Exteriores da Liga Árabe.
Por sua vez, a União Europeia afirmou que a anexação "mina a perspectiva de uma paz sustentável". "A política de construção e expansão das colônias, incluindo em Jerusalém Oriental, é ilegal pelas leis internacionais", disse um porta-voz da UE à AFP nesta quarta-feira.
O anúncio de Netanyahu também foi mal recebido pela imprensa israelense.
"As declarações arrogantes sobre a anexação dos territórios (...) e a decisão de confiar completamente em um presidente americano em que nenhum líder responsável deveria confiar, nada disso permitirá resolver os problemas reais de Israel", escreveu o Yediot Aharonoth, o principal jornal da imprensa israelense.
Netanyahu disse que quer prosseguir com a anexação "imediatamente" após sua possível reeleição para aproveitar o "plano de paz" para o Oriente Médio que a Casa Branca deseja apresentar após as legislativas israelenses.
Mas logo após o anúncio, Donald Trump indicou no Twitter a demissão de seu conselheiro de segurança nacional, John Bolton, considerado um aliado de Israel e um defensor da linha dura com o Irã, assim como Netanyahu.
"Trump parou de cooperar com Netanyahu no momento mais crítico para Netanyahu", apontou o comentarista político Ben Caspit nas páginas do jornal Maariv.
A anexação do vale do Jordão teria "enormes implicações para a segurança, política e economia a longo prazo (...) e afetaria as relações de Israel com o mundo árabe em geral e com os países do Golfo em particular", alertou.