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Netanyahu discursa no Congresso americano sob protestos de rua e boicote de dezenas de democratas

A visita do dirigente israelense a Washington ocorre em um momento de agitação política nos Estados Unidos e de pressão interna em Israel

Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel (Jacquelyn Martin/Getty Images)
Agência o Globo

Agência de notícias

Publicado em 24 de julho de 2024 às 16h47.

Entre protestos do lado de fora, acusações diretas ao Irã e elogios abertos ao ex-presidente Donald Trump, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, falou por uma hora no Congresso americano nesta quarta-feira, tentando exercer pressão e buscar mais ajuda militar em um contexto de tensão entre os dois países aliados após mais de nove meses de guerra em Gaza.

A visita do dirigente israelense a Washington ocorreu em um momento de agitação política nos Estados Unidos, com a tentativa de assassinato do republicano, a desistência de Joe Biden da corrida à Casa Branca e a entrada de Kamala Harris na disputa, candidata democrata quase certa às eleições de novembro contra o magnata republicano. Também aconteceu em meio à pressão interna sofrida pelo premier pela ala de extrema direita de sua coalizão em Israel.

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— Nos encontramos hoje em uma encruzilhada da História. Nosso mundo está em convulsão. No Oriente Médio, o eixo do terror do Irã confronta a América, Israel e nossos amigos árabes. Isso não é um choque de civilizações. É um choque entre a barbárie e a civilização — disse Netanyahu logo no início de seu discurso. — Para que as forças da civilização triunfem, os Estados Unidos e Israel devem permanecer unidos.

Esta foi a quarta vez que Netanyahu se dirigiu ao Congresso americano, um recorde para um dirigente estrangeiro e um privilégio normalmente reservado a líderes em visitas de Estado.

Enquanto discursava, mais de 5 mil manifestantes pró-palestinos se reuniram para protestar contra o premier, alguns usando lenços palestinos, gritando para os Estados Unidos pararem de armar Israel. Alguns carregavam cartazes chamando Netanyahu de "criminoso de guerra" e o "primeiro-ministro do genocídio". Segundo relatos da imprensa internacional, a polícia chegou a usar spray de pimenta e dispositivos explosivos de efeito moral pouco antes do discurso começar.

Netanyahu mencionou os protestos do lado de fora, chamando os manifestantes de "idiotas úteis do Irã" e dizendo que eles deveriam "ter vergonha de si mesmos":

— Por tudo o que sabemos, o Irã está financiando os protestos anti-Israel que estão acontecendo agora, do lado de fora deste prédio — acusou Netanyahu.

Ao chegar no Congresso, muitos democratas ficaram de pé, mas não aplaudiram, incluindo o senador Chuck Schumer, líder da maioria no Senado, e a senadora Tammy Baldwin. Alguns membros, como a representante Rashida Tlaib, a única congressista palestino-americana, permaneceram sentados o tempo todo (a democrata, aliás, segurou uma placa com os dizeres "criminoso de guerra" durante todo o discurso).

A primeira referência de Netanyahu ao presidente Biden, com quem tem divergências, foi elogiosa, agradecendo-o por trabalhar para libertar os reféns israelenses mantidos pelo grupo terrorista Hamas em Gaza, por sua resposta rápida e por seu envio de dois porta-aviões.

— Ele veio a Israel para estar conosco em nossa hora mais sombria — disse, agradecendo-o por ser "um orgulhoso sionista irlandês-americano".

Na quinta-feira, ele se reunirá com Biden, com quem tem uma relação complicada, para discutir "a situação em Gaza", "progressos em direção a um cessar-fogo" e "um acordo sobre a libertação de reféns", de acordo com a Casa Branca.

Kamala, que não esteve presente na sessão no Congresso devido a uma viagem previamente agendada, conversará separadamente com o premier israelense na quinta-feira. A vice-presidente e candidata à nomeação do partido para as eleições tem sido mais crítica à conduta de Israel na guerra.

Netanyahu também fará uma viagem na sexta-feira para Mar-a-Lago, Flórida, a convite de Trump, com quem tem uma relação estreita.

Visita polêmica

Netanyahu não viajou a Washington a convite da Casa Branca, mas dos líderes republicanos do Congresso, aos quais os democratas se juntaram relutantemente. Muitos congressistas democratas estão furiosos com a maneira como Netanyahu está conduzindo a guerra em Gaza contra o grupo terrorista palestino Hamas, e alguns anunciaram um boicote ao discurso. A ex-presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, muito influente no partido, já havia informado que não compareceria.

Os EUA são um grande aliado de Israel e seu principal fornecedor de apoio militar. Nos últimos meses, entretanto, o governo Biden criticou as consequências da resposta de Israel ao ataque do Hamas em 7 de outubro, o qual desencadeou a guerra na Faixa de Gaza. Washington insiste que Israel deve proteger mais os civis e permitir a entrada de ajuda humanitária, mas já chegou a suspender a entrega de alguns tipos de bombas, o que provocou a ira do governo israelense.

Pós-guerra

Atualmente, a prioridade do presidente americano é pressionar Netanyahu a fechar um acordo de cessar-fogo com o Hamas, e alguns observadores suspeitam que o premier israelense está procrastinando por conta da pressão dos membros de extrema direita de seu governo.

Para Washington, se trata também de se preparar para o pós-guerra. Há uma grande divergência entre a administração Biden e o governo Netanyahu sobre a perspectiva de criar um Estado palestino.

Em 7 de outubro, o Hamas matou 1.197 pessoas, na maioria civis, e sequestraram 251 no sul de Israel, segundo um levantamento com base em dados oficiais israelenses. O Exército israelense estima que 116 pessoas permaneçam em cativeiro em Gaza, incluindo 44 que estariam mortas. Em resposta, Israel prometeu destruir o Hamas e lançou uma ofensiva que já matou mais de 39 mil pessoas em Gaza, a maioria civis, de acordo com o Ministério da Saúde do território palestino.

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