Nasa promove pesquisa espacial para combate ao câncer
Experimentos na gravidade zero do espaço, onde as células envelhecem mais rápido, levaram a um "progresso impressionante" na luta contra o câncer; saiba mais sobre os testes
Agência de notícias
Publicado em 24 de março de 2024 às 15h40.
Experimentos na gravidade zero do espaço, onde as células envelhecem mais rápido, levaram a um "progresso impressionante" na luta contra o câncer, afirmam funcionários da Nasa, que estão empenhados no combate da doença.
O espaço é "um local único para pesquisa", disse o astronauta Frank Rubio em um evento recente em Washington.
Este médico e ex-piloto militar de helicóptero conduziu pesquisas sobre câncer em sua recente missão na Estação Espacial Internacional (EEI), que orbita a cerca de 400 quilômetros acima da Terra.
Na estação espacial, as células não apenas envelhecem mais rapidamente, acelerando a pesquisa, mas também suas estruturas são descritas como "mais puras".
"Nem todas elas se agrupam (como fazem) na Terra devido à gravidade. Elas estão suspensas no espaço, permitindo uma melhor análise de suas estruturas moleculares”, disse o diretor da Nasa, Bill Nelson, em uma entrevista.
A pesquisa no espaço pode ajudar a desenvolver medicamentos mais eficazes contra o câncer, acrescentou Nelson.
A gigante farmacêutica Merck realizou pesquisas na EEI com o medicamento chamado Keytruda, fornecido atualmente aos pacientes por via intravenosa.
Seu ingrediente principal é de difícil transformação no estado líquido. Uma solução é a cristalização, um processo frequentemente usado na fabricação de medicamentos.
Em 2017, a Merck realizou experimentos para ver se esses cristais poderiam se formar mais rapidamente no espaço, em comparação com a Terra.
Através de duas fotografias, Nelson mostrou que, no espaço, os cristais se formavam em formatos menores e uniformes. "Estavam se formando melhor", disse o chefe da Nasa.
Graças ao estudo, os pesquisadores poderão fabricar um medicamento capaz de ser administrado com uma injeção e no consultório médico, em vez de um longo e doloroso tratamento de quimioterapia, explicou.
A Merck identificou técnicas que podem ajudar a imitar os efeitos desses cristais na Terra, enquanto trabalha no desenvolvimento de um medicamento que possa ser armazenado em temperatura ambiente.
No entanto, podem passar anos até que um medicamento desenvolvido a partir de pesquisas no espaço esteja amplamente disponível.
As pesquisas sobre o câncer realizadas no espaço começaram há mais de 40 anos, mas apenas recentemente se tornaram "revolucionárias", afirmou Nelson - um ex-senador democrata que viajou para o espaço em 1986.
"Usamos a linguagem do espaço para indicar os limites do câncer", disse a diretora do órgão de pesquisa financiado por recursos federais, Instituto Nacional do Câncer, W. Kimryn Rathmell.
"Moonshot"
O presidente Joe Biden lançou a iniciativa "Cancer Moonshot" em 2016, quando era vice-presidente dos Estados Unidos, ecoando o discurso do ex-presidente John F. Kennedy, cerca de 60 anos antes, quando descreveu o ambicioso objetivo de enviar um americano à Lua.
O objetivo do "Moonshot" é reduzir pela metade a taxa de mortalidade por câncer nos próximos 25 anos, salvando quatro milhões de vidas, de acordo com a Casa Branca.
A batalha contra o câncer, a segunda causa de morte no país após as doenças cardíacas, toca diretamente Biden, que perdeu seu filho Beau para um câncer cerebral em 2015.
"Todos nós conhecemos alguém - e muitos de nós amamos alguém - que lutou contra esta terrível doença", disse à imprensa na quinta-feira (21) o secretário de Saúde e Serviços Humanos, Xavier Becerra, nas instalações da Nasa.
"Assim como fizemos na corrida à Lua", acrescentou, "acreditamos que nossa tecnologia e comunidade científica são capazes de tornar realidade o impossível quando se trata de acabar com o câncer como o conhecemos".
No entanto, as realidades políticas podem trazer obstáculos para esse ambicioso objetivo. O Congresso destinou pouco mais de US$ 25 bilhões (R$124,7 bilhões) à NASA para 2024, 2% a menos do que no ano anterior e muito inferior do que desejado pela Casa Branca.
Rathmell, do Instituto Nacional do Câncer, mantém as esperanças: "A capacidade que o espaço tem de capturar a imaginação é enorme", disse.