Soldado ucraniano durante combate com forças separatistas pró-Rússia no leste da Ucrânia (Maks Levin/Reuters)
Da Redação
Publicado em 26 de agosto de 2014 às 17h19.
Moscou/Novoazovsk - Uma moradora de Novoazovsk, no sudeste da Ucrânia, disse na segunda-feira que viu uma coluna de veículos blindados se aproximar da cidade e abrir fogo.
"Tudo começou às 8h da manhã, apareceram tanques, não menos do que sete", disse a mulher, que deu apenas o nome de Lyudmila, à Reuters, por telefone. "Agora mesmo posso ouvir estrondos, explosões... os moradores estão se escondendo."
Mais tarde na segunda em Kiev, autoridades ucranianas disseram que a coluna era uma incursão de tropas russas que, segundo o governo, estão combatendo ao lado de separatistas pró-Moscou - acusação prontamente negada por Moscou.
Esse é um ritual agora familiar: o conflito de cinco meses no leste da Ucrânia tornou-se uma disputa de acusação e contra- acusação dos lados opostos, às vezes centralizada no papel da Rússia.
Com o campo de batalha perigoso demais para repórteres se movimentarem livremente, verificar quem está fazendo o que é quase sempre impossível.
Nesta terça, em uma repetição do que tem acontecido, Kiev disse que capturou um grupo de soldados russos que entrou na Ucrânia em uma "missão especial", enquanto Moscou disse que eles estavam lá por engano.
No entanto, a coluna de blindados que apareceu na segunda-feira no extremo canto sudeste da Ucrânia, que faz fronteira com a Rússia, foi incomum porque a localização é distante de qualquer território controlado pelos rebeldes.
Também é difícil ver como a coluna poderia ter chegado à Ucrânia sem ter atravessado a fronteira russa, a menos que tenha feito uma travessia anfíbia pelo Mar Azo, o que é improvável diante do número de veículos pesados que testemunhas disseram ter visto.
Um repórter da Reuters conseguiu observar a situação na área onde a coluna foi vista, primeiramente no início de agosto e depois, mais recentemente, no domingo, poucas horas depois que as primeiras pessoas registraram ter visto a coluna.
Essas observações, combinadas com entrevistas com líderes rebeldes, soldados ucranianos e outras pesquisas, indicam duas coisas.
Primeiro, que até domingo à noite não havia formações rebeldes a 30 quilômetros da área onde a coluna de blindados apareceu pela primeira vez, e não havia rebeldes por semanas antes.
E, em segundo lugar, que antes do aparecimento da coluna de blindados, a área foi alvo de disparos de artilharia em momentos em que as posições rebeldes mais próximas estavam fora do alcance da maioria dos tipos de armas que poderiam ter realizado o ataque.
Não foi possível determinar se as pessoas guiando os veículos da coluna e disparando a artilharia eram soldados russos ou separatistas rebeldes.
Mas há grandes indicações de que, independentemente de quem fosse, estava operando a partir do território russo -- algo muito improvável de ter acontecido sem o consentimento russo.
A questão do envolvimento russo está no centro da resposta dos governos ocidentais à crise na Ucrânia, e pode ser crucial para o andamento do conflito.
A União Europeia e os Estados Unidos já impuseram sanções à Rússia, em parte devido à alegação de que Moscou está armando os rebeldes. O Ocidente alerta que pode ampliar as sanções se a Rússia continuar com a ajuda.
Uma unidade da guarda nacional ucraniana posicionada nos arredores de Novoazovsk, na estrada em direção ao cruzamento de fronteira Novoazovsk-Veselo-Voznesenka, mostrou a um repórter da Reuters uma cratera deixada pela explosão de uma munição perto da posição das forças da Ucrânia.
Segundo o guarda, o disparo de artilharia veio de dentro do território da Rússia, a cerca de 10 quilômetros para o leste.
"Houve cerca de 500 salvas de Grad (sistema múltiplo de mísseis) e morteiros. Não houve e não há rebeldes aqui por perto. Eles estão disparando diretamente da Rússia", disse Romand, comandante da unidade da guarda nacional russa, no domingo, antes do surgimento da coluna de blindados na mesma área.
A Reuters não observou nenhuma evidência direta disso, e autoridades russas negaram repetidamente que seus militares estejam envolvidos de alguma maneira no conflito no leste da Ucrânia, em que rebeldes separatistas pró-Moscou enfrentam as forças do governo.
Um porta-voz do serviço de proteção de fronteira da Rússia, quando solicitado a comentar, respondeu: "Isso é estupidez. A Rússia não atira em ninguém".
O Ministério da Defesa russo não respondeu a um pedido de comentário enviado por fax. Mas sem a presença rebelde dentro do alcance na Ucrânia, não ficou clara qual outra possível origem para os disparos de artilharia.
Mesmo que os rebeldes tivessem de alguma forma conseguido entrar na região e disparado com artilharia, parece impossível que eles tivessem conseguido isso sem usar o território russo para se movimentar, diante da distância para as localizações mais próximas controladas pelos rebeldes.