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Na ONU, Biden diz que guerra na Ucrânia é "brutal e desnecessária" e culpa Putin

Em fala na Assembleia Geral da ONU horas depois de Putin declarar convocação de mais soldados, Biden disse que conflito na Ucrânia é "guerra de um homem só"

Biden em discurso na ONU nesta quarta-feira: "continuaremos ao lado da Ucrânia" (MANDEL NGAN/AFP/Getty Images)
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Carolina Riveira

Publicado em 21 de setembro de 2022 às 12h54.

Última atualização em 21 de setembro de 2022 às 13h03.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden , usou boa parte de seu discurso na 77ª edição da Assembleia Geral das Nações Unidas ( ONU ) para criticar as ações da Rússia na Ucrânia. Biden disse na fala desta quarta-feira, 20, que a guerra é "brutal e desnecessária" e que os EUA defendem uma "diplomacia incansável", mas que continuará apoiando a Ucrânia no embate.

"[É] uma guerra decidida por um só homem, para ser muito claro", disse Biden sobre o conflito, em referência ao presidente russo, Vladimir Putin. "Vamos ser claros: um membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas invadiu seu vizinho, tentando apagar um Estado soberano do mapa", disse.

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A fala de Biden ocorreu horas depois de a Rússia chamar milhares de reservistas para se juntar à guerra na Ucrânia, uma resposta aos avanços que o lado ucraniano vinha obtendo nas últimas semanas. O exército ucraniano recuperou áreas estratégicas no leste e sul do país, em movimentação vista como uma derrota para a Rússia de Putin.

"Agora a Rússia está convocando mais soldados para se juntar à luta, e o Kremlin está organizando um vergonhoso referendo para anexar partes da Ucrânia, em extrema violação da Carta das Nações Unidas", disse Biden, em referência ao documento de 1945 que deu origem à organização.

Biden se defendeu de acusações de que os EUA incentivaram a guerra com a expansão da Otan, aliança militar do Atlântico Norte que EUA e países europeus lideram. O presidente citou falas de Putin de que a Ucrânia foi "criada pela Rússia" e disse que o país tem o direito a um Estado soberano.

"Putin alega que ele tinha que agir, porque a Rússia estava ameaçada. Mas ninguém ameaçou a Rússia. E ninguém, além da Rússia, buscou conflito", disse.

Putin não compareceu à Assembleia Geral da ONU, que acontece ao longo da semana em Nova York, com a presença de mais de 130 chefes de Estado e de governo. O presidente chinês, Xi Jinping, que tem sido um dos aliados diretos e indiretos da Rússia na guerra, também não foi ao evento e enviou representantes.

Biden afirmou que os EUA estão comprometidos com um mundo de "diplomacia incansável", mas defendeu que somente a Rússia tem ficado no caminho de um entendimento diplomático para por fim ao conflito. A guerra na Ucrânia já dura mais de seis meses, após ter sido iniciada em 24 de fevereiro com os primeiros ataques oficiais da Rússia a Kiev, capital ucraniana, e outras regiões.

"Se nações puderem perseguir suas ambições imperiais sem consequências, colocamos em risco tudo que essa instituição [a ONU] defende", disse Biden.

"Como vocês, os EUA querem que essa guerra termine. Em termos justos", disse. "O único país no caminho disso é a Rússia."

A Assembleia Geral da ONU começou oficialmente na semana passada, embora a presença de líderes mundiais a partir desta semana seja a parte mais aguardada - além dos discursos, o evento é chamado de "super bowl dos diplomatas", em referência à final do futebol americano, por sua importância nas negociações de bastidores. Na terça-feira, 19, foi a vez do presidente Jair Bolsonaro discursar, abrindo a etapa de falas dos líderes no evento, como é tradição que os presidentes brasileiros façam ( veja aqui os destaques ).

Biden anuncia US$ 2,9 bi contra a fome

Além da guerra, Biden usou parte do discurso para falar sobre o avanço da fome no mundo e as questões climáticas. No discurso, anunciou que os EUA disponibilizarão US$ 2,9 bilhões neste ano para combate à insegurança alimentar no mundo.

O presidente americano também disse que a luta contra o aquecimento global é urgente e afirmou que, sob sua gestão, os EUA voltaram ao Acordo de Paris (do qual o ex-presidente Donald Trump havia se retirado). Seu governo, segundo ele, ajudou a colocar de volta os EUA e "dois terços do PIB no eixo" para limitar a alta da temperatura global a 1,5ºC.

O americano também apontou a aprovação recente de US$ 369 bilhões em um pacote de transição energética pelo governo dos EUA e disse que os investimentos ajudarão a incentivar o desenvolvimento de tecnologias limpas "em todo o mundo, não só nos EUA".

Pressionado em casa e no exterior

A fala deste ano é a segunda de Biden na Assembleia Geral da ONU. No ano passado, Biden fez seu primeiro discurso após ser eleito meses antes, em 2020. Na época, seu governo recém-empossado vinha pressionado pela saída desastrada dos EUA do Afeganistão.

No ano passado, Biden havia feito um discurso defendendo integração global e tentando mostrar que os EUA estavam "de volta" a um papel de liderança no mundo, na tentativa de marcar sua oposição às falas feitas anos antes no mesmo evento pelo ex-presidente Donald Trump.

Desde então, além da guerra na Ucrânia, o governo Biden tem sido assolado por uma série de crises externas e em casa. Dentro dos EUA, sua popularidade despencou em meio à alta na inflação, acentuada pelos choques de oferta gerados pela guerra.

A alta no custo de vida tem sido especialmente sensível para Biden à medida em que os EUA se aproximam das eleições legislativas de meio de mandato em novembro, as chamadas midterms, que renovarão parte do Congresso. Pelas pesquisas, os democratas, do partido de Biden, estão ameaçados de perder sua maioria legislativa para os republicanos, de oposição.

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