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Na linha de frente

Em vez de ignorar as cobranças da sociedade, a Basf decidiu redesenhar toda a sua estrutura de produção -- e acabou se tornando uma pioneira em seu setor

Acker, presidente da Basf (--- [])

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Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h26.

A indústria química é um dos setores que mais estão na mira dos ambientalistas. Em 1962, a publicação do livro Primavera Silenciosa, da bióloga americana Rachel Carson, tornou-se um dos manifestos mais célebres do então nascente movimento ambientalista nos Estados Unidos ao revelar dados sobre a morte de pássaros e problemas na saúde humana provocados pelo inseticida DDT, um dos produtos químicos de maior sucesso comercial no século 20. Por quase quatro décadas, indústria química e meio ambiente permaneceram em rota de colisão. Tal oposição, porém, pouco a pouco vai dando lugar a um esforço da indústria para diminuir os impactos ambientais de seus produtos. Na linha de frente dessa batalha está a alemã Basf, que redesenhou suas operações de modo que o conceito de desenvolvimento sustentável passasse a permear todo o ciclo de produção -- um movimento intensificado há cerca de dez anos.

As diretrizes da matriz são seguidas pela subsidiária brasileira. "Acordamos pela demanda da sociedade. Hoje, sabemos que a preocupação com a sustentabilidade é a chave para o sucesso de uma empresa", diz Rolf-Dieter Acker, presidente da Basf para a América do Sul. "E também aprendemos a assumir a responsabilidade pelo uso de nossos produtos." Até a década passada, os fabricantes de agrotóxicos diziam que a intoxicação de agricultores e a contaminação do meio ambiente não eram responsabilidade da indústria. A Basf preferiu sair da atitude defensiva e, atualmente, desenvolve projetos de capacitação de agricultores e aplicadores. Além disso, monitora o uso adequado de seus produtos -- a inspeção abrange, por exemplo, um terço da área total de produção de maçã do Brasil.
 

Mais eficiência
Um dos marcos dessa mudança de postura da companhia foi a criação dos comitês de sustentabilidade -- primeiramente no plano global, em 2001, e em seguida nas subsidiárias. O comitê da Basf sul-americana, por exemplo, é composto de oito executivos. Várias idéias surgidas durante as reuniões do comitê transformaram-se em projetos bem-sucedidos. O comitê foi decisivo, por exemplo, para a formação, em 2003, de um grupo sobre diversidade formado por mulheres, negros, descendentes de orientais e portadores de deficiência que se reuniu durante dois anos e propôs a elaboração de um guia de valorização da diversidade, publicado em 2005. Em 2008, pela primeira vez, a empresa vai realizar um censo entre os funcionários com o objetivo de obter dados para aperfeiçoar a política de diversidade.

Nos próximos anos, a operação brasileira pretende intensificar as ações em duas frentes. A primeira delas é a ampliação do alcance de seu programa de eficiência energética. Hoje, o programa tem algumas vulnerabilidades, como a inexistência de metas de redução no uso de combustíveis fósseis. A outra medida é melhorar os indicadores ambientais do complexo químico de Guaratinguetá, no interior paulista, a maior e mais antiga instalação da multinacional alemã na América do Sul. Formado por 12 fábricas que processam mais de 1 500 produtos, o complexo consome quase três vezes mais água por tonelada produzida que a média do conjunto das demais unidades da Basf no Brasil. Além disso, emite o dobro de gás carbônico. Segundo Odilon Ern, diretor do complexo, os indicadores explicam-se pelo tipo de produtos processados, que demandam mais água e energia. "Mesmo assim, nos últimos dez anos conseguimos diminuir em 78% o consumo de água e em 62% a geração de efluentes por tonelada produzida", afirma o executivo.

Avaliação da empresa
Pontos fortes
- Concentra sua ação socioambiental em iniciativas relacionadas diretamente ao seu sistema de produção.
- Estimula a diversidade no quadro de funcionários.
- Publica a Demonstração de Valor Adicionado (DVA),um informe contábil que mostra a riqueza gerada pela companhia e sua distribuição na forma de salários, tributos,despesas financeiras,lucros e dividendos.
Pontos fracos
- Os aspectos socioambientais não são levados em conta nas projeções de receitas,despesas e custo de capital.
- Não tem metas para a redução do uso de combustíveis fósseis nos processos industriais.
- Não possui processos de gestão que visem à eqüidade de tratamento entre funcionários e terceirizados.
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