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Na era de Trump seria um erro ignorar as revistas femininas

Editoras de revistas como Glamour, Cosmopolitan e Marie Claire estão ampliando cobertura sobre assédio sexual, aborto e políticas de identidade

Donald Trump: revistas decidiram tomar uma posição sobre o momento (Leah Millis/Reuters)

Donald Trump: revistas decidiram tomar uma posição sobre o momento (Leah Millis/Reuters)

Maurício Grego

Maurício Grego

Publicado em 21 de julho de 2018 às 16h36.

Ninguém pode prever com certeza o rumo das revistas femininas, que têm tido dificuldades para manter a circulação impressa enquanto a venda nas bancas continua caindo. Mas se você apostar em uma estratégia que poderia ajudá-las a crescer, procure Samantha Barry, a mulher de 36 anos que está reinventando a Glamour, a tradicional revista da Condé Nast.

Essa millennial irlandesa com experiência em jornalismo na BBC e na CNN está usando sua experiência digital para situar a revista no século 21. Uma parte de seu plano é político. Ela está aproveitando o momento para lembrar as leitoras de que as grandes revistas de moda sempre foram a melhor fonte de informação das mulheres sobre assuntos importantes.

Com Donald Trump na Casa Branca, os republicanos no controle do Congresso e uma possível maioria favorável à proibição do aborto chegando à Corte Suprema dos EUA no próximo trimestre, revistas que antigamente eram bastante discretas a respeito de política decidiram tomar uma posição. As editoras das principais revistas femininas, como Cosmopolitan e Marie Claire, estão ampliando a cobertura sobre assédio sexual, direitos reprodutivos e políticas de identidade.

Em um momento em que as jovens americanas usam plataformas digitais para se mobilizar politicamente, essas editoras sabem que terão que buscar as leitoras onde elas estão mais engajadas. Há muito dinheiro também a ganhar com isso.

“O público em geral não entende o apetite que as americanas têm hoje por tudo o que é política, digitalmente”, disse Barry em entrevista da sede da Condé Nast, no 30° andar do One World Trade Center. “Eu não poderia ter escolhido um ano melhor para vir trabalhar na Glamour -- para conversar com as mulheres.”

Engajadas

E ela não está sozinha, pois a mais importante revista feminina confere credibilidade a essa mudança no setor.

“Em um momento em que o nosso mundo é tão ativo politicamente, é justo que tenhamos que ser tão engajados e tão expressivos quanto os nossos leitores”, disse a editora-chefe da Vogue, Anna Wintour. “Eu sempre achei que a Vogue -- na verdade, todas as revistas da Condé Nast -- deveriam representar algo, e agora isso é mais importante do que nunca.”

Desde a eleição de 2016, os americanos têm mostrado um interesse crescente em política e exigido mais jornalismo. Mas no caso das mulheres, essa sede tem se mostrado insaciável. Mulheres de qualquer partido político são mais propensas do que os homens a dizer que estão prestando mais atenção na política, de acordo com uma pesquisa do Pew Research Center de 2017. O resultado mostra quase 60 por cento de mulheres, contra 46 por cento de homens.

A Glamour, a Cosmopolitan e a Marie Claire querem aproveitar esse novo cenário. Atualmente todas priorizam a cobertura de notícias políticas e algumas estão contratando repórteres com experiência em jornalismo político e promovendo agressivamente seus conteúdos nas plataformas digitais. Os cosméticos, as celebridades e outros assuntos mais leves continuam sendo os destaques, mas essas revistas começaram a ocupar um lugar no mundo do jornalismo duro.

"As mulheres estão liderando a resistência e as revistas femininas têm sido um recurso inestimável para cobrir essa história."

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