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Murdoch tenta se distanciar do escândalo no dia 'mais humilde' de sua vida

Murdoch disse ter se sentido totalmente chocado e envergonhado ao tomar conhecimento do caso Milly Dowler há duas semanas

Rupert Murdoch (Getty Images)

Rupert Murdoch (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 19 de julho de 2011 às 23h08.

Londres - O magnata das comunicações Rupert Murdoch limitou sua responsabilidade no escândalo das escutas ilegais e insistiu na falta de provas de supostos grampos telefônicos em vítimas dos atentados de 11 de setembro nos Estados Unidos, ao comparecer nesta terça-feira diante do Parlamento britânico.

A sessão teve que ser interrompida brevemente quando um homem tentou de jogar um prato cheio com o que parecia ser espuma de barbear no rosto de Murdoch. A esposa do magnata, Wendi Deng, que estava sentada próximo, conseguiu impedir o ataque. Segundo a rede de televisão Sky News, o indivíduo é um humorista.

"Nunca me senti tão humilde em minha vida", afirmou Murdoch, no início da audiência diante da Comissão de Cultura, Mídia e Esportes do Parlamento.

"Sejamos claros, violar a intimidade das pessoas grampeando suas secretárias telefônicas é errado. Pagar a policiais para obter informações é errado", concluiu o magnata, de 80 anos, após três horas de intenso interrogatório.

Murdoch disse ter se sentido "totalmente chocado e envergonhado ao tomar conhecimento do caso Milly Dowler há duas semanas", referindo-se às revelações de supostos grampos feitos por jornalistas do tabloide dominical News of the World no telefone de uma menina de 13 anos assassinada.

Mas quando um deputado perguntou a ele se assumia ser "em última instância responsável por este fiasco", Murdoch respondeu: "Não", considerando que é impossível supervisionar tudo o que é feito em um conglomerado de comunicação de 53.000 funcionários.


E ao ser perguntado a quem podia então atribuir a responsabilidade pelo ocorrido, respondeu: "As pessoas em quem confiei e, depois, talvez as pessoas em quem elas confiaram".

Murdoch ressaltou, por outro lado, que as suspeitas que poderiam estender para os Estados Unidos o incêndio que atingiu a News Corp, seu império midiático, são até agora totalmente infundadas.

"Não vimos prova alguma" de grampos telefônicos de familiares de vítimas dos atentados de 11 de setembro "e pelo que sabemos o FBI também não", afirmou Murdoch. "Se as encontrarem, trataremos o caso exatamente da mesma forma que estamos fazendo aqui", acrescentou.

Murdoch compareceu junto com seu filho James, número três da News Corp, que pediu desculpas às vítimas das escutas, em seu nome e no de seu pai.

"Gostaria apenas de dizer o quanto lamento e o quanto lamentamos, particularmente às vítimas e as suas famílias", declarou James Murdoch, de 38 anos.

O caso obrigou Murdoch a fechar o News of the World e a se desfazer de dois colaboradores próximos: Rebekah Brooks, diretora da News International (filial britânica do império Murdoch), e Les Hinton, chefe da filial americana do Dow Jones, que publica o The Wall Street Journal. 

Brooks, a "rainha dos tabloides", até muito recentemente detentora de plenos poderes, compareceu em seguida. Após a sua demissão na semana passada, Brooks, chefe de redação do jornal entre 2000 e 2003, foi detida no domingo durante doze horas e liberada após pagamento de fiança, sob as acusações de corrupção de policiais e cumplicidade em grampos telefônicos.

Brooks também condenou as escutas telefônicas ilegais, embora tenha justificado a utilização de detetives particulares em busca de exclusivas. E como Rupert Murdoch, também condenou o grampo feito no telefone celular da adolescente assassinada Milly Dowler.

O escândalo dos grampos provocou também as renúncias do chefe da Scotland Yard, Paul Stephenson, e do chefe da polícia antiterrorista, John Yates, e deixou na defensiva o primeiro-ministro conservador David Cameron.

Stephenson, que compareceu antes de Murdoch diante dos parlamentares, admitiu que pode haver "dez membros do Departamento de Comunicação (da Scotland Yard) que trabalharam para a News International no passado, alguns dos quais eram jornalistas".


Já Cameron reconheceu que o caso é "um grande problema", embora tenha dito que está seguro de que finalmente tudo será resolvido.

"Uma parte da imprensa cometeu atos ilegais, horríveis. A polícia deve responder a sérias interrogações acerca de potencial corrupção e sobre uma investigação fracassada. Os políticos estavam perto demais dos proprietários dos meios", disse o primeiro-ministro em declaração feitas na Nigéria, onde estava em visita oficial.

A polícia deve investigar também a surpreendente morte de Sean Hoare, ex-repórter do tabloide sensacionalista, que desencadeou o escândalo e envolveu Andy Coulson, ex-porta-voz de Cameron.

A necropsia em seu corpo foi realizada nesta terça-feira, indicou a polícia.

A Scotland Yard havia indicado que a morte de Hoare "é considerada no momento sem explicação, mas não parece suspeita". Segundo o The Guardian, Hoare, encontrado morto na segunda-feira em sua casa em Watford (norte de Londres), tinha problemas com alcoolismo e drogas.

O News of the World é acusado de ter grampeado desde 2000 os telefones de cerca de 4.000 pessoas, entre elas políticos, membros da Casa Real e celebridades.

O escândalo dos grampos ameaça afetar a saúde financeira da News Corp, o império midiático de Rupert Murdoch. A agência Standard & Poor's advertiu na segunda-feira que pode rebaixar sua classificação de risco.

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