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Mulheres ligaram "piloto automático" para sobreviver

A polícia que revistou a casa que serviu de cativeiro afirmou que o lugar era uma verdadeira "câmara de torturas particular".


	Agentes do FBI inspecionam a casa onde três mulheres foram encontradas: detalhes escabrosos começam a ser revelados, como os estupros regulares e as surras seguidas por dias sem alimentação para forçar os abortos.
 (REUTERS / John Gress)

Agentes do FBI inspecionam a casa onde três mulheres foram encontradas: detalhes escabrosos começam a ser revelados, como os estupros regulares e as surras seguidas por dias sem alimentação para forçar os abortos. (REUTERS / John Gress)

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Da Redação

Publicado em 10 de maio de 2013 às 13h50.

Washington - Para sobreviver a dez anos de cativeiro, estupros e surras contínuas, as três vítimas do sequestrador de Cleveland tiveram que entrar num estado mental de "piloto automático" para absorver a provação sofrida, afirmam psicólogos.

A polícia que revistou a casa que serviu de cativeiro afirmou que o lugar era uma verdadeira "câmara de torturas particular".

Steven Gold, do centro de Estudos Psicológicos da Universidade de Nova Southeastern, disse que em muitos casos vítimas desse tipo de abuso sobrevivem "se desligando emocionalmente, mesmo em um nível sensorial".

"Nesse tipo de condições extremas e de longa duração, as pessoas podem se desconectar do ambiente que as cerca e de suas próprias experiências", explicou.

"Trata-se mais de um processo automático do que intencional, um mecanismo de sobrevivência instintivo".

Com as mulheres agora livres, detalhes escabrosos começam a ser revelados, como os estupros regulares e as surras seguidas por dias sem alimentação para forçar os abortos.

"A mente humana tem uma capacidade de adaptação incrível", afirma Elaine Ducharme, psicóloga especializada em violência sexual de Glastonbury (Connecticut), acrescentando que, para cada pessoa, é algo diferente. "Mas temos o instinto de sobrevivência programado".


"Algumas pessoas se concentrarão na possibilidade de escapar e pensam nisso todos os dias. Quando essa esperança se desvanece, podem se voltar para Deus. Elas precisam se concentrar em algo, seja ouvindo os pássaros cantando do lado de fora, desenvolvendo fixação em comida, ouvindo o som de um rádio ao longe ou tentando ver um raio de sol".

Segundo o especialista Michael Mantell, ex-chefe da polícia de San Diego (Califórnia), elas devem "ter passado do pensamento 'é horrível' a 'posso suportar isso'. Elas percebem que devem se recuperar para seu próprio bem".

"A 'Síndrome de Estocolmo', o sentimento de admiração do refém por seu sequestrador, também é uma forma de manter-se viva", explicou Mantell.

- Um longo caminho pela frente -

Quanto à recuperação para uma vida normal, "será um caminho longo e delicado, com muitas reações emocionais que suas famílias deverão aprender a gerenciar", disse ainda.

"Os familiares vão esperar que tudo fique bem muito rápido, quando não é o caso", advertiu.


"Elas estão fracas, vão melhorar aos poucos, com recaídas, e deverão novamente aprender a se comunicar com as pessoas, livremente, sem ficar na dúvida se vão viver ou morrer", acrescentou.

"Será necessário ficar muito atento para respeitar a vida privada dessas jovens", insistiu Ducharme em função do fato de que as pessoas "estão fascinadas e querem detalhes".

Será um trabalho terapêutico longo, acrescenta a psicóloga, ajudá-las a se sentir novamente seguras. "O importante é que elas não devem falar muito, precipitadamente, para que não se sintam afogadas por recordações que não podem enfrentar".

Também será necessário lembrar "que não foi sua culpa, que não devem se sentir culpadas".

"O caminho da cura não será fácil, mas eu sempre fico surpresa com a força do espírito humano", afirmou a psicóloga, que espera "que, com o tempo, o amor e o apoio dos parentes, amigos e da terapia, elas possam conseguir uma certa paz".

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