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Mudanças climáticas impulsionaram onda de incêndios no Canadá, diz estudo

País sofre com a onda de incêndios mais devastadora já registrada

Canadá: incêndios resultaram de uma alta recorde de temperaturas, baixa umidade e derretimento precoce da neve (Frederic Chouinard/Getty Images)

Canadá: incêndios resultaram de uma alta recorde de temperaturas, baixa umidade e derretimento precoce da neve (Frederic Chouinard/Getty Images)

AFP
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Agência de notícias

Publicado em 22 de agosto de 2023 às 20h00.

Última atualização em 22 de agosto de 2023 às 20h07.

Meses de clima quente e seco criaram as condições para a onda de incêndios florestais recorde deste ano no Canadá, o que levou cientistas a apontarem o dedo para as mudanças climáticas.

Um estudo extenso, publicado nesta terça-feira, 22, agora apoia esta afirmação, ao demonstrar que temporadas de incêndios desta intensidade são pelo menos sete vezes mais propensas de ocorrer como resultado da queima de combustíveis fósseis.

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O estudo, realizado pelo grupo de colaboração acadêmica World Weather Attribution, também descobriu que, ao longo do ano, condições propícias para a ocorrência de incêndios foram 50 vezes mais intensas devido ao aquecimento global.

"Enquanto continuarmos a aquecer o planeta, estes tipos de evento vão se tornar cada vez mais frequentes e mais intensos", disse à AFP Clair Barnes, estatística ambiental do Imperial College de Londres, e principal autora do estudo.

O Canadá sofre com a onda de incêndios mais devastadora já registrada, resultante de uma alta recorde de temperaturas, baixa umidade e derretimento precoce da neve. Cerca de 15,3 milhões de hectares foram queimados, uma área maior que a Grécia, e mais que o dobro do recorde anterior, registrado em 1989.

Cerca de 200 mil pessoas foram evacuadas, pelo menos quatro morreram e a fumaça das florestas queimadas resultou na disseminação da perigosa poluição do ar para grande parte do Canadá até o sul dos Estados Unidos, levando a picos de buscas por serviços de emergência e inclusive ao fechamento de escolas.

Até o fim de julho, os incêndios florestais tinham emitido diretamente mais de 1 bilhão de toneladas de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, assim como metano e óxido nitroso, que tiveram um efeito estufa combinado equivalente adicional de 110 milhões de toneladas de CO2, segundo uma pesquisa recente.

No estudo atual, os cientistas analisaram a província de Quebec, no leste do Canadá, analisando zonas com clima e vegetação similares. A região registrou um número excepcionalmente alto de incêndios em maio e junho, quando os recordes de temperatura foram superados em 0,8 grau Celsius.

Como os incêndios florestais são muito complexos e não provocados exclusivamente pelo clima, os cientistas se concentraram em condições favoráveis ao fogo, usando uma métrica denominada Índice Climático de Incêndio Florestal (Fire Weather Index, FWI).

O índice combina temperatura, velocidade do vento, umidade e precipitação. A equipe de pesquisa acumulou estes dados entre janeiro e julho para produzir uma medida da severidade do risco meteorológico de incêndio para toda a temporada.

Enquanto os incêndios em Quebec foram sem precedentes, análises dos registros climáticos recentes indicaram que as condições sazonais que causam o fogo não são mais excepcionais, ocorrendo uma vez a cada 25 anos. Isto significa que agora eles têm 4% de riscos de ocorrer a cada ano.

Para entender a contribuição do aquecimento global provocado pelo homem, os pesquisadores usaram simulações de modelos de computador para comparar o clima como é hoje, após cerca de 1,2 °C de aquecimento global desde o fim dos anos 1800, ao clima do passado.

Esta análise demonstrou que as mudanças climáticas fizeram com que temporadas com esta severidade se tornassem ao menos sete vezes mais propensas de ocorrer em comparação com a era pré-industrial. Barnes reforçou, no entanto, que esta era uma estimativa tímida, enquanto os cientistas preferem ser conservadores devido à incerteza estatística.

Comunidades indígenas, as mais atingidas

Yan Boulanger, ecologista no Serviço Florestal Canadense, e segundo autor do estudo, disse à AFP que o impacto cumulativo das circunstâncias favoráveis ao incêndio foram decisivas. "Estes incêndios ficaram tão grandes porque estas condições climáticas propensas ao incêndio duraram demais".

A equipe também identificou a extensão de dias em que estas condições climáticas propensas aos incêndios atingiram seu auge, e descobriu que estas condições de pico foram mais de duas vezes mais propensas de ocorrer do que no passado devido às mudanças climáticas.

Se o mundo continuar a queimar combustíveis fósseis a taxas elevadas, a probabilidade e a intensidade da ocorrência de condições climáticas propensas a incêndios severos só irá aumentar, demonstrou o estudo.

Estes incêndios põem em risco o setor da silvicultura, alertou Boulanger, que se questiona se os esforços de regeneração conseguiriam acompanhar as perdas.

Enquanto isso, as comunidades mais afetadas são remotas e têm recursos relativamente limitados, incluindo os povos indígenas, que foram 75% dos evacuados em julho.

"Esta severidade crescente de eventos extremos e a probabilidade de ocorrência de eventos extremos não vão parar até que alcancemos a emissão zero e paremos de emitir gases de efeito estufa adicionais na atmosfera", disse Barnes, acrescentando que "não é tarde demais" para pressionar os líderes políticos a mudar o curso.

O World Weather Attribution é um grupo de colaboração internacional que realizou até agora mais de 50 estudos sobre eventos climáticos extremos, com resultados revistos posteriormente por pares em publicações especializadas.

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