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Morales se consolida no poder e desafia Chile

O presidente da Bolívia, Evo Morales, se uniu à lista de líderes latino-americanos que modificaram a Constituição no ano de 2013

Evo Morales: caso seja reeleito no próximo ano, presidente da Bolíva se tornará o presidente a ficar por mais tempo à frente do governo, já que permaneceria no cargo até 2020 (Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 16 de dezembro de 2013 às 16h21.

La Paz - O presidente da Bolívia, Evo Morales , se uniu à lista de líderes latino-americanos que modificaram a Constituição no ano de 2013, para buscar a reeleição em um país embalado por um crescimento recorde e, inclusive, pela reivindicação internacional contra o Chile para recuperar sua saída ao mar.

No mês de abril, em resposta a uma consulta do Movimento ao Socialismo (MAS), partido de Morales, uma sentença do Tribunal Constitucional abriu caminho para o governante poder concorrer ao terceiro mandato em 2014.

Embora a Constituição de 2009 limite o número de mandatos de um governate a dois, Morales sempre defendeu que o primeiro de seus governos (2006-2010) não entra nessa contagem, já que, segundo ele, o mesmo ocorreu antes da "refundação" de seu país, ou seja, antes da aprovação dessa nova Carta Magna.

O Tribunal Constitucional, por sua vez, também respaldou esta tese, um fato que revoltou a oposição e os antecessores de Morales no cargo, como Carlos Mesa (2003-2005), que qualificou uma nova candidatura como "juridicamente inaceitável", e Jorge Quiroga (2001-2002), que levou o caso à Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).

Caso seja reeleito no próximo ano, Evo Morales se tornará o presidente a ficar por mais tempo à frente do governo da Bolívia, já que permaneceria no cargo até 2020.

Morales, primeiro presidente indígena da Bolívia, se apoderou de três grandes conquistas neste ano, as quais reforçaram e muito o peso de sua candidatura.

O crescimento econômico, que deverá superar 6%, em contraste com a crise na Europa e nos Estados Unidos, se soma ao recurso apresentado ao Tribunal de Haia para reivindicar ao Chile uma saída ao Pacífico e a jogada com a qual a Bolívia conseguiu que a comunidade internacional respeitasse a tradição do mascado de coca.


O governo boliviano legitimou essa histórica cobrança no dia 24 de abril, quando iniciou o processo contra o Chile na Corte Internacional de Justiça, com sede em Haia, para forçar o país vizinho a negociar um acordo capaz de garantir seu acesso territorial ao Pacífico.

A Bolívia perdeu seu litoral em uma guerra contra o Chile ainda no final do século XIX e, desde então, reivindica uma saída soberana ao mar.

A manobra em questão trouxe um novo vigor ao governo de Morales, já que essa reivindicação de Estado acabou unindo todos os bolivianos.

Neste aspecto, outro fator que também se mostrou importante foi a decisão do governo boliviano de reingressar a convenção Antidrogas de Viena, ligada à ONU, com uma exceção ao mascado de coca - ou "acullicu" -, que descriminaliza esta tradição ancestral no país andino.

A Bolívia abandonou a convenção antidrogas da ONU em junho de 2011 e, somente um dia depois, pediu seu reingresso, com exceção do reconhecimento ao mascado e do uso da folha de coca para usos tradicionais dentro do país, tendo em vista que, em seu estado natural, a planta usada na produção de cocaína não é tida como droga.

A ONU aceitou essa solicitação em janeiro deste ano, a qual contou com a rejeição de apenas 15 dos 61 países, cujo veto teria freado a iniciativa boliviana. No entanto, no plano internacional, o ano de 2013 não foi só de alegrias para a Bolívia.

No início de julho, uma grave crise diplomática pôs em xeque a relação entre a Bolívia e vários países europeus. Na ocasião, França, Itália e Portugal se negaram a abrir seu espaço aéreo ao avião de Morales, supostamente por suspeitar que o mesmo transportava o ex-técnico da CIA Edward Snowden, procurado pelos EUA.

Após não obter autorização, a aeronave teve que fazer um pouso de emergência em Viena, enquanto Morales teve que esperar várias horas até conseguir uma rota viável para retornar à Bolívia, um fato que gerou indignação e foi amplamente reprovado pelos países sul-americanos.

O governo boliviano também culpou a Espanha pelo ocorrido, principalmente depois de o embaixador espanhol na Áustria, Alberto Carnero, pedir para entrar no avião e comprovar que Snowden não estava a bordo, como denunciou o próprio Morales, visivelmente ofendido pela atuação do diplomata.

No entanto, dois meses depois, o líder encerrou esse incidente ao aceitar as desculpas dos países envolvidos. Por outro lado, Morales também ampliou a crescente distância para os EUA, ao expulsar, em maio deste ano, a agência de cooperação internacional desse país, a Usaid, acusada de "conspirar" contra seu governo.

No plano social, o Executivo também não conseguiu frear os problemas em suas superlotadas prisões e nem os altos números de violência contra as mulheres.

Em agosto, uma briga entre detentos na penitenciária de Palmasola, em Santa Cruz, deixou 30 mortos, entre eles um bebê. Já o número de mulheres assassinadas continua crescendo, mesmo com a aprovação de uma lei que castiga o feminicídio com 30 anos de prisão sem indulto.

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No mês de abril, em resposta a uma consulta do Movimento ao Socialismo (MAS), partido de Morales, uma sentença do Tribunal Constitucional abriu caminho para o governante poder concorrer ao terceiro mandato em 2014.

Embora a Constituição de 2009 limite o número de mandatos de um governate a dois, Morales sempre defendeu que o primeiro de seus governos (2006-2010) não entra nessa contagem, já que, segundo ele, o mesmo ocorreu antes da "refundação" de seu país, ou seja, antes da aprovação dessa nova Carta Magna.

O Tribunal Constitucional, por sua vez, também respaldou esta tese, um fato que revoltou a oposição e os antecessores de Morales no cargo, como Carlos Mesa (2003-2005), que qualificou uma nova candidatura como "juridicamente inaceitável", e Jorge Quiroga (2001-2002), que levou o caso à Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).

Caso seja reeleito no próximo ano, Evo Morales se tornará o presidente a ficar por mais tempo à frente do governo da Bolívia, já que permaneceria no cargo até 2020.

Morales, primeiro presidente indígena da Bolívia, se apoderou de três grandes conquistas neste ano, as quais reforçaram e muito o peso de sua candidatura.

O crescimento econômico, que deverá superar 6%, em contraste com a crise na Europa e nos Estados Unidos, se soma ao recurso apresentado ao Tribunal de Haia para reivindicar ao Chile uma saída ao Pacífico e a jogada com a qual a Bolívia conseguiu que a comunidade internacional respeitasse a tradição do mascado de coca.


O governo boliviano legitimou essa histórica cobrança no dia 24 de abril, quando iniciou o processo contra o Chile na Corte Internacional de Justiça, com sede em Haia, para forçar o país vizinho a negociar um acordo capaz de garantir seu acesso territorial ao Pacífico.

A Bolívia perdeu seu litoral em uma guerra contra o Chile ainda no final do século XIX e, desde então, reivindica uma saída soberana ao mar.

A manobra em questão trouxe um novo vigor ao governo de Morales, já que essa reivindicação de Estado acabou unindo todos os bolivianos.

Neste aspecto, outro fator que também se mostrou importante foi a decisão do governo boliviano de reingressar a convenção Antidrogas de Viena, ligada à ONU, com uma exceção ao mascado de coca - ou "acullicu" -, que descriminaliza esta tradição ancestral no país andino.

A Bolívia abandonou a convenção antidrogas da ONU em junho de 2011 e, somente um dia depois, pediu seu reingresso, com exceção do reconhecimento ao mascado e do uso da folha de coca para usos tradicionais dentro do país, tendo em vista que, em seu estado natural, a planta usada na produção de cocaína não é tida como droga.

A ONU aceitou essa solicitação em janeiro deste ano, a qual contou com a rejeição de apenas 15 dos 61 países, cujo veto teria freado a iniciativa boliviana. No entanto, no plano internacional, o ano de 2013 não foi só de alegrias para a Bolívia.

No início de julho, uma grave crise diplomática pôs em xeque a relação entre a Bolívia e vários países europeus. Na ocasião, França, Itália e Portugal se negaram a abrir seu espaço aéreo ao avião de Morales, supostamente por suspeitar que o mesmo transportava o ex-técnico da CIA Edward Snowden, procurado pelos EUA.

Após não obter autorização, a aeronave teve que fazer um pouso de emergência em Viena, enquanto Morales teve que esperar várias horas até conseguir uma rota viável para retornar à Bolívia, um fato que gerou indignação e foi amplamente reprovado pelos países sul-americanos.

O governo boliviano também culpou a Espanha pelo ocorrido, principalmente depois de o embaixador espanhol na Áustria, Alberto Carnero, pedir para entrar no avião e comprovar que Snowden não estava a bordo, como denunciou o próprio Morales, visivelmente ofendido pela atuação do diplomata.

No entanto, dois meses depois, o líder encerrou esse incidente ao aceitar as desculpas dos países envolvidos. Por outro lado, Morales também ampliou a crescente distância para os EUA, ao expulsar, em maio deste ano, a agência de cooperação internacional desse país, a Usaid, acusada de "conspirar" contra seu governo.

No plano social, o Executivo também não conseguiu frear os problemas em suas superlotadas prisões e nem os altos números de violência contra as mulheres.

Em agosto, uma briga entre detentos na penitenciária de Palmasola, em Santa Cruz, deixou 30 mortos, entre eles um bebê. Já o número de mulheres assassinadas continua crescendo, mesmo com a aprovação de uma lei que castiga o feminicídio com 30 anos de prisão sem indulto.

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