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México e Guatemala tentam esclarecer morte de imigrante na fronteira

Após o confronto na fronteira em um povoado da Guatemala, um imigrante hondurenho de 26 anos morreu após ser ferido com uma bala de borracha na cabeça

Imigração: as autoridades não se pronunciaram sobre a morte do migrante nem sobre os responsáveis pelo caso (Ueslei Marcelino/Reuters)

Imigração: as autoridades não se pronunciaram sobre a morte do migrante nem sobre os responsáveis pelo caso (Ueslei Marcelino/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 29 de outubro de 2018 às 15h41.

México - Milhares de imigrantes centro-americanos tentam terminar a jornada pelo sul do México rumo aos EUA enquanto as autoridades mexicanas e da Guatemala tentam esclarecer a morte de um imigrante no domingo, 28, na fronteira dos dois países, integrantes da segunda caravana que tenta chegar ao território americano.

Enquanto a caravana de imigrantes descansava e se reorganizava em Tepanatepec, no Estado de Oaxaca, centenas derrubaram as cercas fronteiriças no povoado guatemalteco de Tecún Umán, da mesma forma que fizeram os membros da primeira caravana há mais de uma semana, e se enfrentaram com as autoridades mexicanas, as quais estavam determinadas a não permitir que a caravana crescesse ou que se formasse outra.

O novo grupo de imigrantes, que dizem ser dessa segunda caravana, se reuniu na ponte internacional sobre o Rio Suchiate. Os bombeiros guatemaltecos confirmaram que Henry Adalid Días Reyes, um imigrante hondurenho de 26 anos, morreu após ser ferido com uma bala de borracha na cabeça. "O imigrante foi atendido pelos bombeiros, mas a ferida era muito grande", explicou o bombeiro de Tecún Umán César Quiñonez.

Em uma entrevista coletiva na noite de domingo, o ministro de Governo mexicano, Alfonso Navarrete Prida, disse que a polícia federal e os agentes de imigração foram agredidos com pedras, garrafas de vidro e fogos de artifício quando os imigrantes derrubaram uma porta do lado mexicano da fronteira. Prida sustentou que nenhum dos agentes estava armado com armas que disparassem balas de borracha. "No México, não se criminaliza a imigração não documentada", afirmou, acrescentando que alguns dos imigrantes portavam armas de fogo e bombas incendiárias.

Um helicóptero militar mexicano sobrevoou durante mais de uma hora a ponte onde se encontravam os migrantes. Vários veículos de imprensa locais noticiaram que desde então se espalhava gás de pimenta contra os migrantes. Navarrete não se pronunciou sobre a ação da aeronave.

O secretário do Governo da Guatemala emitiu uma nota à imprensa condenando que os imigrantes "tenham decidido invadir de forma violenta e vândala, destruindo a propriedade do Estado, ferindo vários agentes da Polícia Nacional Civil". As autoridades não se pronunciaram sobre a morte do migrante nem sobre os responsáveis pelo caso.

Uns 300 salvadorenhos também partiram de El Salvador no domingo com a esperança de chegar aos Estados Unidos juntos como grupo, formando uma terceira caravana.

Dificuldades

Enquanto isso, alguns dos imigrantes da primeira caravana, que se calcula com 4.000 pessoas, descansavam na sombra dos toldos colocados na praça do povo ou recolhiam lixo em Tepanatepec, comunidade de cerca de 7.500 habitantes. Outros foram se refrescar perto do rio Novillero.

A tensão causada pela grande caminhada em meio ao calor insuportável, com poucas provisões de alimentos, se agravou no sábado à noite quando uma disputa em uma fila por comida virou uma briga. Muitos na caravana levaram mais de duas semanas caminhando, desde que o grupo se formou na cidade de San Pedro Sula, Honduras.

Raúl Medina Meléndes, chefe de segurança do pequeno município de Tepanatepec, em Oaxaca, disse que o povo estava distribuindo sanduíches e água em um acampamento de imigrantes na praça central quando um homem com um megafone pediu que as pessoas esperassem a sua vez. Algumas pessoas o xingaram e o agrediram, disse Medina. A polícia resgatou o homem enquanto era golpeado e o levaram a um hospital. Não se sabe qual era seu estado de saúde.

Várias pessoas da caravana usaram microfones no domingo para denunciar o ataque. Outros se queixaram de que umas pessoas estavam fumando maconha e de que as imagens de lixo e alimentos não consumidos que os imigrantes deixam no caminho eram desrespeitosas.

O grupo planejava partir na madrugada desta segunda-feira, 29, rumo a Niltepec, a 54 quilômetros do noroeste de Oaxaca. A caravana, no entanto, deve percorrer 1.600 quilômetros até chegar à fronteira mais próxima, em McAllen, Texas.

A viagem poderia ter o dobro do tamanho se os imigrantes decidissem ir ao cruzamento Tijuana-San Diego, como fez uma caravana parecida no começo do ano. Apenas 200 desse grupo menor chegaram à fronteira.

A maior parte dos imigrantes da caravana parece decidida a chegar aos EUA, apesar do refúgio que o México ofereceu. O presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, lançou um programa na sexta-feira 26 chamado "Esta é a sua casa", que oferece albergue, atenção médica, acesso a escolas e a empregos para os centro-americanos que aceitem ficar nos Estados ao sul de Chiapas e Oaxaca, longe da fronteira com os EUA.

Navarrete disse no domingo que foram emitidos a mais de 300 imigrantes números de identidade temporários, que os permitirá ficar e trabalhar no México.

Entre os que se uniram ao programa, há mulheres grávidas, crianças e idosos que, segundo ele, agora estão sendo atendidos em albergues. Ele afirma que 1.895 de centro-americanos solicitaram refúgio no México.

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