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Meninas esposas dizem não ao casamento no Quênia

Casamento forçado afeta 400 milhões de mulheres no mundo e se estenderá a 142 milhões de meninas mais durante esta década

Mulheres do grupo Namunyak na vila de Wamba, Quênia: cerca de 38% das menores de idade na África Subsaariana já casaram (Noor Khamis/Reuters)
DR

Da Redação

Publicado em 5 de dezembro de 2013 às 05h44.

Nairóbi - Há muitos lugares onde as meninas tem os genitais mutilados após sua primeira menstruação, seus pais as casam em troca de gado e, quando chegam aos 30 anos, seu corpo está exausto de dar à luz, mas uma mulher masai descobriu a "cura" contra esta epidemia: a educação.

O casamento forçado afeta 400 milhões de mulheres no mundo e se estenderá a 142 milhões de meninas mais durante esta década, segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

No entanto, esse problema já é combatido em pequenos focos como em Enoosaen, um povoado perdido na savana do sul do Quênia.

A queniana Kakenya Ntaiya abriu ali uma escola para que as meninas aprendam inglês, matemática e, sobretudo, perseguir seus sonhos, à margem do desejo de suas famílias ou comunidade.

Seu sonho foi se transformar em professora quando, da mesma forma que todas suas amigas, estava destinada a se casar em plena adolescência e gerar uma prole o mais numerosa possível, modelo de boa esposa na tribo masai.

"Os professores não tinham uma vida muito difícil. Além disso, tinham um salário fixo, tinham classe e vestidos lindos. Eu queria tudo isso. Via minha mãe trabalhar tão duro. Eu não queria viver assim", contou à Agência Efe esta mulher de 36 anos.

Prometida desde os cinco anos, a professora conseguiu chegar a um pacto com seu pai para continuar estudando após sua primeira menstruação: só se submeteria à ablação, um ritual que marca o final da etapa escolar e a preparação para o casamento, se fosse deixada a terminar seus estudos de educação secundária.


Kakenya voltou a se esquivar de seu destino conjugal quando, após obter uma bolsa de estudos universitária, pediu permissão aos maiores de sua comunidade para se transformar na primeira mulher de Enoosaen a estudar nos Estados Unidos.

"Para que me ajudassem, lhes prometi que voltaria e que ajudaria a comunidade, embora na realidade não estava pensando em retornar, só em sair de uma situação", diz à Efe a professora, ao explicar que a aldeia inteira fez uma coleta para financiar sua estadia.

Na sua opinião, o casamento cedo, forçado e endêmico, que vigora em muitas culturas africanas e asiáticas, "simplesmente é ruim".

"Quando você se casa aos 12 anos tem seu primeiro filho aos 13, outro aos 15, o terceiro aos 16, está sempre grávida e com um bebê nas costas; tem que cuidar das crianças e não há trabalho para você. Depende de seu marido, que vai beber com os amigos. É difícil", assegurou.

Kakenya se formou, se casou com o homem que quis e voltou a Enoosaen para ajudar as meninas a imitar sua façanha através da educação: "É o mais importante, porque o conhecimento lhes dá poder e lhes permite ser parte do mundo", ressaltou.

O Centro Kakenya para a Excelência, criado em 2009, não só prepara as meninas para encontrar um trabalho, mas elas "aprendem sobre liderança, a tomar decisões e a serem valentes, e por isso querem ir para a escola em vez de se casarem".

A plataforma internacional "Girls not Brides" ("Meninas, não Noivas"), que reúne 250 organizações que buscam erradicar o casamento infantil, luta a cada dia por alcançar esse objetivo / alvo.

"Toda mulher tem direito de escolher com quem se casa e quando quer se casar", defendeu sua coordenadora, Lakshmi Sundaram, em declarações à Efe.


Embora estas uniões ocorram também na Europa e nos EUA, a maior parte acontecem no mundo em desenvolvimento, onde uma em cada três meninas estará casada antes dos 18 anos e uma de cada nove antes dos 15, a partir de idades como os oito anos.

Cerca de 46% das menores de idade do Sul da Ásia já se casaram, 38% na África Subsaariana, 29% na América Latina, e 18% no Oriente Médio e no Norte da África, segundo a Unicef.

Para Sundaram, a educação é um pilar na defesa dos direitos destas adolescentes: "Se não têm escolas nem oportunidades para ganhar a vida, é muito difícil evitar o casamento infantil".

Ela defende a criação de "espaços seguros" onde as meninas possam pedir ajuda e empreender medidas para punir este tipo de casamento, realizados com total impunidade em países como Índia e Quênia, onde são ilegais.

Kakenya comentou esta ironia legislação: "É ilegal mas, se prendermos os pais, quem cuidará delas?".

O Festival de Cinema da Human Rights Watch, realizado em Nairóbi recentemente, programou "Tall as the Baobab Tree" ("Alto como a Árvore de Baobá", em tradução literal), um filme de Jeremy Teicher que aborda como as jovens senegalesas encaram os casamentos não desejados.

"Acho que esta prática tradicional acabará quando economicamente se perceber que a educação é o melhor caminho para um futuro mais brilhante", explica Teicher à Efe.

Quando uma menina masai se casa, a família consegue sete vacas. "É um incentivo muito grande", lamentou Kakenya.

Mas ela não perde a esperança: "Uma menina pode mudar uma família, e se muda essa família pode mudar a comunidade inteira. Plantamos pequenas sementes que farão uma diferença na vida da comunidade". E na de milhões de meninas, não esposas.

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O casamento forçado afeta 400 milhões de mulheres no mundo e se estenderá a 142 milhões de meninas mais durante esta década, segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

No entanto, esse problema já é combatido em pequenos focos como em Enoosaen, um povoado perdido na savana do sul do Quênia.

A queniana Kakenya Ntaiya abriu ali uma escola para que as meninas aprendam inglês, matemática e, sobretudo, perseguir seus sonhos, à margem do desejo de suas famílias ou comunidade.

Seu sonho foi se transformar em professora quando, da mesma forma que todas suas amigas, estava destinada a se casar em plena adolescência e gerar uma prole o mais numerosa possível, modelo de boa esposa na tribo masai.

"Os professores não tinham uma vida muito difícil. Além disso, tinham um salário fixo, tinham classe e vestidos lindos. Eu queria tudo isso. Via minha mãe trabalhar tão duro. Eu não queria viver assim", contou à Agência Efe esta mulher de 36 anos.

Prometida desde os cinco anos, a professora conseguiu chegar a um pacto com seu pai para continuar estudando após sua primeira menstruação: só se submeteria à ablação, um ritual que marca o final da etapa escolar e a preparação para o casamento, se fosse deixada a terminar seus estudos de educação secundária.


Kakenya voltou a se esquivar de seu destino conjugal quando, após obter uma bolsa de estudos universitária, pediu permissão aos maiores de sua comunidade para se transformar na primeira mulher de Enoosaen a estudar nos Estados Unidos.

"Para que me ajudassem, lhes prometi que voltaria e que ajudaria a comunidade, embora na realidade não estava pensando em retornar, só em sair de uma situação", diz à Efe a professora, ao explicar que a aldeia inteira fez uma coleta para financiar sua estadia.

Na sua opinião, o casamento cedo, forçado e endêmico, que vigora em muitas culturas africanas e asiáticas, "simplesmente é ruim".

"Quando você se casa aos 12 anos tem seu primeiro filho aos 13, outro aos 15, o terceiro aos 16, está sempre grávida e com um bebê nas costas; tem que cuidar das crianças e não há trabalho para você. Depende de seu marido, que vai beber com os amigos. É difícil", assegurou.

Kakenya se formou, se casou com o homem que quis e voltou a Enoosaen para ajudar as meninas a imitar sua façanha através da educação: "É o mais importante, porque o conhecimento lhes dá poder e lhes permite ser parte do mundo", ressaltou.

O Centro Kakenya para a Excelência, criado em 2009, não só prepara as meninas para encontrar um trabalho, mas elas "aprendem sobre liderança, a tomar decisões e a serem valentes, e por isso querem ir para a escola em vez de se casarem".

A plataforma internacional "Girls not Brides" ("Meninas, não Noivas"), que reúne 250 organizações que buscam erradicar o casamento infantil, luta a cada dia por alcançar esse objetivo / alvo.

"Toda mulher tem direito de escolher com quem se casa e quando quer se casar", defendeu sua coordenadora, Lakshmi Sundaram, em declarações à Efe.


Embora estas uniões ocorram também na Europa e nos EUA, a maior parte acontecem no mundo em desenvolvimento, onde uma em cada três meninas estará casada antes dos 18 anos e uma de cada nove antes dos 15, a partir de idades como os oito anos.

Cerca de 46% das menores de idade do Sul da Ásia já se casaram, 38% na África Subsaariana, 29% na América Latina, e 18% no Oriente Médio e no Norte da África, segundo a Unicef.

Para Sundaram, a educação é um pilar na defesa dos direitos destas adolescentes: "Se não têm escolas nem oportunidades para ganhar a vida, é muito difícil evitar o casamento infantil".

Ela defende a criação de "espaços seguros" onde as meninas possam pedir ajuda e empreender medidas para punir este tipo de casamento, realizados com total impunidade em países como Índia e Quênia, onde são ilegais.

Kakenya comentou esta ironia legislação: "É ilegal mas, se prendermos os pais, quem cuidará delas?".

O Festival de Cinema da Human Rights Watch, realizado em Nairóbi recentemente, programou "Tall as the Baobab Tree" ("Alto como a Árvore de Baobá", em tradução literal), um filme de Jeremy Teicher que aborda como as jovens senegalesas encaram os casamentos não desejados.

"Acho que esta prática tradicional acabará quando economicamente se perceber que a educação é o melhor caminho para um futuro mais brilhante", explica Teicher à Efe.

Quando uma menina masai se casa, a família consegue sete vacas. "É um incentivo muito grande", lamentou Kakenya.

Mas ela não perde a esperança: "Uma menina pode mudar uma família, e se muda essa família pode mudar a comunidade inteira. Plantamos pequenas sementes que farão uma diferença na vida da comunidade". E na de milhões de meninas, não esposas.

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