Menem, o ex-presidente que colocou uma marca neoliberal na Argentina
O ex-presidente Carlos Menem, falecido neste domingo em Buenos Aires, governou a Argentina por 10 anos na década de 1990 como um líder de ideologia liberal
AFP
Publicado em 14 de fevereiro de 2021 às 14h27.
O carismático Carlos Menem, falecido neste domingo, 14, em Buenos Aires aos 90 anos, governou a Argentina por 10 anos na década de 1990 como um líder de ideologia liberal, em contraste com o perfil de seus últimos anos como senador.
Em 13 de junho de 2020, no meio da quarentena do coronavírus , ele foi hospitalizado em Buenos Aires por pneumonia complicada com histórico cardíaco. A partir de então, suas internações foram se tornando cada vez mais frequentes, por diversas enfermidades.
Nascido em 2 de julho de 1930 em uma família de imigrantes sírios, Menem se orgulhava de nunca ter perdido uma eleição. Presidente entre 1989 e 1999, 'El Turco' amava luxo, mulheres, esportes, dirigir carros Ferrari, relógios e vinho espumante.
Sua ideologia privatizante e liberal fez dele o queridinho do Fundo Monetário Internacional, dos investidores de Wall Street, dos republicanos dos EUA e do fórum de negócios de Davos.
Menem concorreu à presidência novamente em 2003 e venceu o primeiro turno eleitoral com 24% dos votos, contra 22% do peronista Néstor Kirchner.
No entanto, ele se recusou a participar da eleição por temer uma avalanche de votos para seu rival.
Formado em direito, Menem foi governador de sua província natal, La Rioja, em duas ocasiões, a primeira em 1973, embora tenha sido destituído do cargo quando ocorreu o golpe de 1976 e foi detido por dois anos.
Cicatrizes políticas
Menem promoveu a reforma da Constituição em 1994, que introduziu a reeleição presidencial imediata, além de abolir a obrigatoriedade de professar a religião católica para quem exerce a liderança do Estado.
Privatizou a maioria das empresas públicas e estabeleceu uma taxa de câmbio em paridade com o dólar, esquema que gerou abundância repentina, mas que explodiu em 2001, gerando a pior crise econômica da história do país.
Também perdoou os maiores responsáveis pela última ditadura (1976-1983) que haviam sido processados e membros de organizações guerrilheiras.
Ele esteve em prisão domiciliar preventiva em 2001 por um julgamento por contrabando de armas para a Croácia e Equador. Foi libertado semanas depois por decisão da Suprema Corte de Justiça e posteriormente absolvido por excesso de tempo em um caso que durou 25 anos.
A venda ilegal de armas ao Equador ocorreu apesar de a Argentina ter sido a garantidora da paz no confronto de 1995 entre Lima e Quito.
Os foros evitaram a prisão nos julgamentos contra ele, incluindo um por encobrir o ataque contra a judaica AMIA em 1994, que causou 85 mortes.
Em 2019, recebeu nova sentença de três anos por peculato, sem cumprir a pena pela imunidade como senador.
Foi o único presidente latino-americano a aderir à aliança ocidental para participar da Guerra do Golfo (1990-91), com o despacho de dois navios. “Temos relações carnais com os Estados Unidos”, justificou então.