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Megacidades declaram guerra ao aquecimento global

Pela 1ª vez, os maiores centros urbanos reportam suas emissões de carbono em um relatório que será divulgado amanhã em SP; confira entrevista com o coordenador do projeto

Para Conor Riffle, do CDP Cities, as cidades estão no frontline das mudanças climáticas. (Getty Images)

Para Conor Riffle, do CDP Cities, as cidades estão no frontline das mudanças climáticas. (Getty Images)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 31 de maio de 2011 às 19h53.

São Paulo – As cidades vêm empreendendo esforços para combater o aquecimento global há tempos, mas o passo mais importante - de mensurar as emissões de carbono e de gases efeito estufa (GEE) e torná-las públicas - está sendo dado agora. Nesta quarta, durante o C40 Summit, encontro que reúne prefeitos das maiores cidades do mundo para discutir ações de combate e adaptação às mudanças climáticas, será divulgado o primeiro relatório de emissões dos centros urbanos.

O projeto inédito foi capitaneado pelo CDP (Carbon Disclosure Project), principal plataforma de reporte de emissões adotada há mais de dez anos pelas maiores companhias do mundo. Em 2010, o sistema ganhou uma versão para cidades, o CDP Cities, que reúne dados de emissões de gases efeito estufa e iniciativas de mitigação de 42 dos principais centros globais, como Berlin, Londres, Nova York, São Paulo, Sydney e Tokyo.

“As cidades estão no frontline das mudanças climáticas” afirma Connor Riffle, coordenador do CDP Cities. Mensurar as emissões de carbono, segundo ele, é passo decisivo na batalha. Confira na entrevista

EXAME.com - De que forma as cidades, através do registro de emissões, podem ajudar na luta contra o aquecimento global?

Conor Riffle - As cidades são peça chave na luta contra o aquecimento global. Hoje, elas concentram mais da metade da população mundial, até 2030 será quase 60%. Esses centros rubanos são responsáveis por grande parte dos problemas ambientais, respondendo por 70% das emissões globais de gases efeito estufa. Por isso, as cidades estão no frontline das mudanças climáticas e sentem os impactos da elevação das temperaturas e dos níveis dos mares, da poluição atmosférica, dos tornados, das secas severas e de outros fenômenos naturais extremos.

E por que reportar emissões é importante? Tem um famoso ditado que diz “O que é mensurado pode ser gerenciado” (no inglês, “what gets measured gets managed”). Não é de hoje o comprometimento das cidades com a mitigação das mudanças climáticas, mas só agora os líderes locais estão dando o passo mais importante, de medir as emissões de gases de efeito estufa. Isso é o ponto de partida para a implementação de políticas públicas e de programas que gerenciem esse processo de forma eficiente.

EXAME.com – Quais são as oportunidades por trás das mudanças climáticas? Segundo o relatório do CDP, as cidades estão mais preocupadas com os riscos, sendo que apenas metade delas esperam efeitos positivos desse processo...

Conor Riffle -
Há cidades que veem no aquecimento global uma oportunidade de adotar novos tipos de financiamentos e incentivos fiscais para catalisar projetos sustentáveis. Estamos no primeiro ano do projeto, mas acredito que com o tempo, mais cidades se beneficiarão. Esse é um passo importante rumo à economia de baixo carbono e elas têm o potencial de liderar essa transição. Tokyo implementou um programa de cap-and-trade (sistema de comércio de licenças de emissões), criando uma oportunidade de negócio lucrativo e de acordo com a economia verde.


Londres também tem feito coisas maravilhosas para atrair negócios mais sustentáveis. O prefeito Boris Johnson quer transformar a cidade na capital inglesa do baixo carbono. Seoul planeja fazer o retrofit de 10 mil edifícios até 2030 seguindo padrões da construção sustentável. Em 2040, Austin, nos EUA, já deverá ter se tornado uma cidade lixo-zero, otimizando ao máximo o sistema de coleta e reciclagem de resíduos.

De forma geral, as oportunidades que as mudanças climáticas oferecem às cidades aparecem em vários setores, do transporte à energia, passando pelo gerenciamento de resíduos. Tudo isso, sem dúvida, torna as cidades também mais atraentes para investimentos.


EXAME.com – Acordos globais de redução de emissões parecem cada vez mais distantes. Como os governos locais podem mudar esse cenário?

Conor Riffle - De fato, os governos nacionais têm tido dificuldades em chegar a um acordo global para reduzir emissões. A vantagem das autoridades locais é que elas têm o poder e os mecanismos políticos necessários para planejar e implementar por si só as mudanças que querem ver acontecer na sua cidade, e fazer isso de forma rápida. Se cada prefeito fizer sua parte, já será uma grande vitória para o planeta. Além disso, as cidades são importantes catalizadores de ações da comunidade, principalmente do setor empresarial.

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