Meca: Peregrinos muçulmanos em torno da Kaaba, o lugar mais sagrado do Islã, na Grande Mesquita (HAMZA MEKOUAR/AFP)
AFP
Publicado em 9 de agosto de 2019 às 12h26.
Mais de dois milhões de muçulmanos iniciam, nesta sexta-feira (9), a peregrinação anual a Meca, no oeste da Arábia Saudita, e as autoridades pedem que este grande encontro religioso não seja politizado em função do atual contexto de tensões no Golfo.
Gerenciar o fluxo ininterrupto de peregrinos e garantir sua segurança durante o chamado Hajj, uma das maiores concentrações humanas religiosas do mundo, implica um enorme desafio logístico para o reino árabe.
Para evitar tragédias durante a peregrinação, que já sofreu pisoteamentos dramáticos no passado - como em 2015, quando 2.300 pessoas morreram -, foram mobilizadas milhares de membros das forças de segurança sauditas.
Cerca de 2,5 milhões de fiéis, entre estrangeiros e residentes na Arábia Saudita, participam do Hajj, segundo a imprensa local.
"Todas as instituições do Estado estão mobilizadas, e estamos orgulhosos de receber os 'hóspedes de Deus'", declarou o porta-voz das forças de segurança, Basam Atia.
Segundo uma fonte do Ministério do Hajj, Hatem ben Hasan Qadi, "foram concedidos mais de 1,8 milhão de vistos on-line, sem passar por consulados".
O Hajj é um dos cinco pilares do Islã, o qual todo o muçulmano deve realizar ao menos uma vez na vida, se tiver os meios necessários.
"Ao realizar o Hajj, a pessoa se sente purificada e conhece gente de todo mundo. É algo grandioso", afirma Mohamed Jaafar, um egípcio de 40 anos.
"É um sentimento indescritível. É preciso vivenciar para entender", afirma uma argelina de 50 anos que realiza o Hajj pela primeira vez.
Meca, cidade situada em um vale desértico, cujo acesso é proibido aos não muçulmanos, aloja a Kaaba, uma estrutura cúbica coberta por um tecido negro com bordados dourados no coração da Grande Mesquita e na direção para a qual os muçulmanos rezam cinco vezes por dia.
O Hajj é um conjunto de rituais codificados que transcorrem na cidade mais sagrada do Islã. Um deles consiste em dar sete voltas em torno da Kaaba.
Nesta sexta, os peregrinos participam da oração semanal na Grande Mesquita. Depois, homens e mulheres se dirigirão a Mina, perto de Meca, a pé, ou de ônibus fornecido pelas autoridades.
Na época do Hajj, Mina, um estreito vale entre as montanhas rochosas, transforma-se em um imenso acampamento de tendas brancas que alojam os peregrinos.
Este ano, foram montadas 350.000 tendas climatizadas, segundo uma fonte saudita.
No sábado, os fiéis subirão o monte Arafat, também conhecido como Montanha da Misericórdia, para rezar antes de retornar para Mina, onde cumprirão o ritual do apedrejamento de Satã.
Isso supõe o início do Eid al-Adha, ou a Festa do sacrifício, celebrada no domingo. Os fiéis devem se dirigir de novo à Grande Mesquita para dar uma "volta de despedida" pela Kaaba.
O Hajj é comemorado este ano em um contexto de tensão no Golfo, depois da ocorrência de uma série de ataques contra petroleiros, da derrubada de um drone dos Estados Unidos e de apreensões de navios entre maio e junho.
A Arábia Saudita e seus aliados Estados Unidos culpam o Irã, o grande adversário de Riad, por ataques a navios. Teerã nega.
Segundo a agência de notícias iraniana Tasnim, este ano, cerca de 88.550 iranianos participarão do Hajj, apesar de Riad e Teerã não manterem relações diplomáticas.
Como acontece todos os anos, as autoridades sauditas pediram para que a peregrinação não seja politizada.
A Arábia Saudita e seu vizinho Catar romperam relações diplomáticas em 2017, e a crise causou restrições à entrada de fiéis catarianos no reino. Riad garante que o Hajj não será afetado por essa crise.
"Muito poucos catarianos chegaram a Meca para peregrinação", reconhece o chefe do Ministério saudita para o Hajj, que acusou o "regime do Catar de politizar o ritual e colocar obstáculos para os peregrinos".