Mais de 900 mulheres desapareceram no Peru durante a quarentena
Desaparecimento de mulheres é um problema endêmico no Peru; antes da pandemia, eram relatados em média cinco casos por dia, mas número subiu para oito
AFP
Publicado em 28 de julho de 2020 às 10h16.
Última atualização em 28 de julho de 2020 às 10h16.
Mais de 900 mulheres, a maioria crianças e adolescentes, desapareceram no Peru durante os três meses e meio de quarentena nacional pela pandemia, um aumento em comparação com os números anteriores, informou nesta segunda-feira(27), a Defensoria do Povo.
O desaparecimento de mulheres é um problema endêmico no Peru. Antes do confinamento, eram relatados em média cinco casos por dia, mas o número subiu para oito durante o crise de saúde, segundo a Ouvidoria.
"Durante a quarentena, de 16 de março a 30 de junho, 915 mulheres foram registradas como desaparecidas no Peru", disse à AFP Eliana Revollar, defensora dos Direitos da Mulher.
"Precisamos saber o que aconteceu com elas", disse o defensor Walter Gutiérrez à rádio RPP.
Revollar afirmou "os registros de meninas e adolescentes desaparecidas são os mais altos e excedem 70% do número total".
Ela informou que, embora algumas mulheres tenham reaparecido mais tarde, por falta de um registro policial nacional, não se sabe quantas ainda estão desaparecidas.
Segundo ONGs feministas, a polícia e os promotores não costumam investigar estes casos porque acreditam que elas saíram voluntariamente, sem considerar o alto número de feminicídios, tráfico de seres humanos e prostituição forçada no país.
"Há resistência da polícia em pegar esses casos. Exigimos que o registro nacional de pessoas desaparecidas seja concluído", disse Revollar.
Em janeiro, um caso de grande repercussão foi de Solsiret Rodríguez, estudante universitária e ativista contra a violência de gênero. Ele havia desaparecido há três anos e seu paradeiro não despertou a atenção das autoridades até que seu corpo mutilado fosse encontrado em Lima.
Em 2019, 166 feminicídios foram registrados no Peru e um décimo deles foram catalogados como desaparecimento. Nos primeiros dois meses da quarentena, 12 feminicídios e 26 tentativas deste crime foram registrados no Peru.
Além disso, 226 meninas e adolescentes foram vítimas de abuso sexual e 27.997 denúncias de violência doméstica foram realizadas por telefone, segundo o Ministério da Mulher.
A quarentena foi levantada em 30 de junho em 18 das 25 regiões do Peru, incluindo Lima.
Com 33 milhões de habitantes, o Peru registrou até domingo mais de 384.000 casos de coronavírus e 18.229 mortes. É o terceiro país com mais infecções e óbitos na América Latina, atrás do Brasil e do México.