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Macron faz aposta arriscada na França que lembra início do 'Brexit'

Presidente francês partiu para o tudo ou nada ao convocar eleições antecipadas para o Parlamento e tentar conter avanço da direita

Emmanuel Macron, presidente da França (Ludovic Marin/AFP)
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 10 de junho de 2024 às 12h20.

Em 2016, o premiê britânico David Cameron decidiu levar para votação geral uma questão que ele considerava sem sentido: retirar oReino UnidodaUnião Europeia. Seu plano era que a proposta, ao ser rejeitada com força pelo público, fosse enterrada de vez. Mas ocorreu exatamente o contrário.

O Brexit, como a saída foi apelidada, ganhou força no país durante a campanha e foi aprovada, com 51,9% dos votos, em junho de 2016. A decisão fez Cameron renunciar e levou o país a um caos legislativo que durou vários anos. Na prática, ninguém tinha claro como fazer a separação e as datas foram sendo adiadas por anos. A saída da UE só foi efetivada em 31 de janeiro de 2020.

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No último domingo, 9, o presidente francês Emmanuel Macron buscou um gesto político similar: frente ao avanço da extrema-direita no país, decidiu antecipar as eleições no Parlamento francês, para 30 de junho.

Neste cenário, se a extrema-direita for mal nas urnas, perderia força e Macron sairia fortalecido. Ele tem mais três anos de mandato como presidente e seguirá no cargo independentemente do resultado. No entanto, se o partido Reagrupamento Nacional, comandado por Marine Le Pen, for bem-sucedido, poderá complicar o restante do governo Macron e deixá-lo sem forças para aprovar medidas mais amplas no Congresso.

"É um tudo ou nada, para medir a força. O prejuízo está precificado e ele vai tentar reverter isso convocando novas eleições. Macron tem o poder da máquina do Estado na mão e vai tomar medidas para atrair o eleitor para o lado dele", diz Clayton Pegoraro, professor do Mackenzie e especializado em direito internacional.

Outro fator que favorece Macron neste momento é a proximidade das Olimpíadas de Paris, que começam em 26 de julho. "Os jogos sempre podem ajudar os políticos, por trazerem obras e novas infraestruturas. É um momento para demonstrar que ele é um bom gestor", diz Pegoraro. Ao mesmo tempo, eventuais escândalos de corrupção ou ataques terroristas poderiam manchar a imagem do evento e, consequentemente, do presidente.

Avanço da direita na Europa

Pegoraro avalia que o avanço da direita nas eleições europeias se deve ao apelo das pautas anti-imigração entre eleitores ressentidos por dificuldades econômicas e pela habilidade do uso de redes sociais de forma política. Esses dois fatores estiveram presentes no Brexit, mas na época, em 2016, as ações direcionadas em redes sociais ainda eram novidade.

Com o passar dos anos, partidos de outros espectros políticos passaram a usar as mesmas técnicas em redes sociais, foram criadas mais regulações na área e o público ficou mais acostumado a lidar com estes conteúdos.

Ao mesmo tempo, as consequências do Brexit, que geraram uma crise econômica no Reino Unido, o governo de Donald Trump, que terminou com uma invasão do Congresso para tentar mudar uma derrota eleitoral dele, e a atuação de partidos como o Vox espanhol e a Liga, na Itália, que defendem ideias mais radicais contra a imigração, tiveram avanços nas urnas mas não conseguiram conquistar o poder.

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