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Macron, a nova cara da França

Mariana Prado Zanon, de Montpellier Ele é jovem, ambicioso e foi o queridinho do presidente francês François Hollande quando ministro da Economia, entre 204 e 2016. Após abandonar o cargo e se lançar na corrida presidencial francesa em novembro, Emmanuel Macron, aos 38 anos, passou a ser um dos novos nomes de uma leva de […]

EMMANUEL MACRON: pela primeira vez o centrista aparece à frente da ultradireitista Marine Le Pen na corrida francesa / Sean Gallup/ Getty Images) (Sean Gallup/Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 13 de janeiro de 2017 às 17h08.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h27.

Mariana Prado Zanon, de Montpellier

Ele é jovem, ambicioso e foi o queridinho do presidente francês François Hollande quando ministro da Economia, entre 204 e 2016. Após abandonar o cargo e se lançar na corrida presidencial francesa em novembro, Emmanuel Macron, aos 38 anos, passou a ser um dos novos nomes de uma leva de políticos que cresce mundo afora – os candidatos antissistema que dispensam o apoio dos partidos tradicionais.

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Considerando a eleição presidencial “uma oportunidade para avançar” e sem poupar o antigo protetor, François Hollande, ele define a França como um país bloqueado por corporativismos de todas as espécies e em declínio, acrescentando que está convencido que “o pior está por vir”. Para ele, “a França não poderá vencer os desafios do século 21 com os mesmos homens e as mesmas ideias”.

Ao se lançar como o novo, Macron reuniu todas as suas ideias num movimento batizado de En March e! — marqueteiramente com suas iniciais EM. O movimento afirma ser “nem de direita, nem de esquerda”, arrancando comentários sarcásticos da classe política mais experiente do país. Entre os comentaristas mais amargos, estão os que o colocam como um traidor, já que aproveitou o declínio histórico da popularidade de François Hollande para deixar o governo e se lançar numa carreira solo.

Críticas à parte, a candidatura de Macron complica ainda mais o Partido Socialista do presidente, já agonizante e ainda sem candidato definido, e perturba o jogo da direita, dividida entre o isolamento nacional — defendido pela ultrarradical Marine Le Pen — e a abertura ao centro, do ex-primeiro ministro François Fillon. Macron aparece em terceiro lugar com 16% das intenções de votos, atrás de Le Pen e Fillon, empatados tecnicamente no primeiro turno das eleições, previstas para 23 de abril.

O histórico político de Macron mostra que a tentativa de encaixá-lo debaixo de alguma denominação política e social sempre foi difícil. Nascido em 1977, filho de um casal de médicos, Emmanuel Macron teve uma carreira acadêmica exemplar. Além de ser um excelente pianista, premiado no conservatório de Amiens, sua cidade natal, ele fez seus estudos em uma das mais prestigiosas escolas francesas: a Escola Nacional de Administração, de onde já saíram dois presidentes e outros seis primeiros-ministros. Seu excelente histórico, o levou ao braço francês do banco de investimento Rothschild, onde fez fortuna sendo nomeado sócio-diretor após quatro anos de trabalho.

É a partir daí que a carreira de Macron dá uma guinada. Surpreendentemente, em 2011, ele recusou o convite para integrar o gabinete do então primeiro-ministro de direita, François Fillon, mergulhando de cabeça nas primárias socialistas ao militar por François Hollande. Nada mais radical para um homem vindo do mercado financeiro.

Com a vitória de Hollande, ele foi nomeado secretário-adjunto e conselheiro para questões econômicas. Em junho de 2014, tornou-se o Ministro da Economia e da Indústria, sendo o membro mais jovem do gabinete do presidente e, ao mesmo tempo, o mais controvertido. Os críticos de François Hollande dentro do Partido Socialista o chamavam de liberal e o acusavam de influir na “transformação ideológica” da esquerda. Enquanto que a própria direita liberal não compreendia sua afiliação ao socialismo. Afinal, quem era Macron?

Elétron livre

Para os padrões franceses, Macron é um jovem sem papas na língua que criticou a economia francesa dizendo achá-la engessada demais, principalmente nas questões trabalhistas. Propôs em contra partida um projeto de lei que causou uma enorme polêmica no país e dividiu a esquerda. A Lei Macron, como ficou conhecida, foi apresentada como um propulsor de reformas, autorizando o trabalho no comércio durante 12 domingos por ano e dando maior flexibilidade de demissões por razões econômicas.

Segundo o pesquisador Pierrick Jacob, um economista com passagem pelo departamento de Economia e Ciências Políticas da Universidade de Montpellier, Emmanuel Macron representa um fenômeno relativamente novo na política francesa. “Ele é jovem, liberal e nascido da esquerda, mas uma esquerda que aceita completamente as regras da mundialização, a circulação de bens, de serviços, de capital”, diz em entrevista a EXAME Hoje. Segundo ele, Macron sonha com um sistema que facilite a contratação e a demissão, digamos uma “flexisegurança” da famosa proteção social francesa. “Seu perfil lembra Tony Blair e Matteo Renzi”, afirma.

O jornal francês Libération observa que apesar de se dizer de “esquerda” e se posicionar como líder de um movimento político “apartidário”, Macron se apresenta como um “elétron livre, ambicioso e com um grande ego” e o efeito novidade é sua principal vantagem. Segundo uma enquete feita pelo jornal em dezembro do ano passado, os franceses que acreditam nas qualidades de Macron dizem que tudo no candidato é um ponto positivo: a idade, o estilo, o perfil e sobretudo o posicionamento político sem partido.

Os jovens franceses são os mais seduzidos por essa personalidade rica e atípica. Excelente orador no melhor estilo Barack Obama, seus discursos dão um sopro de perspectiva ao debate nacional. Ainda sem chances de chegar ao segundo turno das eleições, Macron busca, no entanto, inspiração para sua campanha política no senador democrata do estado de Vermont, nos Estados Unidos, Bernie Sanders. O norte-americano que disputou a indicação democrata com Hillary Clinton é o político independente com mais tempo de mandato na história do Congresso dos Estados Unidos.

Em abril do ano passado, quando dava os primeiros passos do En Marche!, Macron pegou emprestado imagens de um vídeo da campanha de Sanders para montar o clipe de lançamento de sua campanha. Mais tarde, assim como Sanders, lançou uma plataforma interativa onde os simpatizantes e eleitores podem deixar informações de contato para que a equipe da campanha forme grupos locais de apoio ou ainda possam contribuir financeiramente por meio de doações. Via esta plataforma, que serve como uma forte ferramenta de comunicação interligada com as redes sociais, Macron incita seus seguidores a participarem da construção de sua proposta de governo com sugestões e contribuições para a — sonhada — reforma política da França.

Seu “QG” no vigésimo arrondissement de Paris conta com 50 pessoas entre funcionários e voluntários que já comemoram as últimas pesquisas divulgadas na quarta-feira 11 pelo jornal Le Fígaro. Segundo a Kantar TNS, referência em estudos de marketing e opinião na França, poucos meses antes do primeiro turno, Emmanuel Macron aparece com 50% de aceitação entre os eleitores do Partido Socialista — a mesma porcentagem do provável candidato do partido Manuel Valls. Outra surpresa na pesquisa é que seu nome lidera entre todos os políticos — sejam eles de esquerda, direita ou centro — quando o eleitorado é perguntado sobre quem desempenhará um papel importante nos próximos anos.

Pode ser que 2017 não seja o ano de Macron, mas se seguir firme com seu En Marche!, terá uma chance maior nas eleições de 2022 . Até lá, terá que seguir encantando os eleitores, nem que para isso tenha que lançar mão de outra de suas habilidades surpreendentes: Macron é também um exímio dançarino de tango.

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